Faríamos bom negócio se
trocássemos cem corruptos por um STF decente. Com um Supremo formado por
juristas de alto nível, juízes de verdade, conscientes de seus deveres e
responsabilidades, ficaríamos livre desse flagelo que mantém a nação em
sobressalto. E os corruptos acertariam suas contas com a sociedade porque é
isso que acontece quando as instituições funcionam.
Não estou sendo sarcástico. É
incalculável o montante dos prejuízos que esse STF vem causando à política, à
moral do povo, à credibilidade das instituições, à segurança jurídica e à
estabilidade necessária ao funcionamento regular da economia.
Não há adjetivo polido para a conduta do
ministro Dias Toffoli na sessão de ontem (26/06) da Segunda Turma do STF. A
finalidade da sessão era abrir as portas da liberdade a um grupo de condenados
da Lava Jato com culpa confirmada pelo TRF-4. No lote, para disfarçar, o
ex-chefe José Dirceu. A ideia do trio Toffoli, Lewandowski e Gilmar era romper
o entendimento colegiado da corte sobre a possibilidade de prisão após
condenação em segunda instância. Sabem todos os ministros, sabem os advogados
dos presos, sabem os condenados, sabe o Brasil que prisão após o trânsito em
julgado de sentença condenatória é sinônimo de liberdade eterna para quem
roubou muito. E um tanto mais breve para quem roubou pouco. É uma liberdade
alugada com dinheiro das vítimas. É, também, outro nome que se pode atribuir à
impunidade, benefício mais importante para o criminoso do que o produto de sua
atividade.
Na
imagem e possibilidade mais remota e positiva, o STF é um conjunto de 11
pessoas que, segundo maiorias instáveis e seus bestuntos individuais, impõem ao
país o convívio com o intolerável. Na imagem mais provável, a coisa fica muito
pior. Só para lembrar: em 10 de março de 2015, o ministro que coordenou a
operação no dia de ontem enviou ofício ao colega Lewandowski, que presidia o
STF, manifestando interesse em ser transferido da Primeira para a Segunda Turma
da Corte, ocupando a vaga aberta pela morte de Teori Zavaski. Com essa mudança,
o grupo que, por mera coincidência, tinha a seu encargo os processos da Lava
Jato ganhava a atual configuração.
Para quem não sabe, ou já esqueceu,
quando José Dirceu era chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dias
Toffoli foi seu subchefe da área de Assuntos Jurídicos. Em junho de 2005,
acusado por Roberto Jefferson de ser o mentor do mensalão, Dirceu foi obrigado
a demitir-se do cargo, sendo substituído por Dilma Rousseff, a quem Toffoli,
imediatamente, solicitou a própria demissão. O fato confirma a estreita ligação
entre os dois. Quem disse que gratidão é sempre uma virtude?
Não é de hoje que o STF vem cuidando bem
da criminalidade de jatinho. Em fevereiro de 2014, esse Supremo, com voto
decisivo do recém-nomeado e gratíssimo ministro Roberto Barroso, decidiu que
não houve formação de quadrilha no mensalão. Ela não só houve como jamais
interrompeu atividades e agora tem tratamento VIP nesse STF que não nega os
fatos, mas soluça com os condenados falando em “sanha punitivista”.
Percival Puggina - membro
da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site www.puggina.org, colunista
de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.
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