Todo mundo que tenha interesse na área de educação provavelmente
conhece alguma teoria sobre os estilos de aprendizagem. Não é raro ouvir alunos
contando que são mais visuais, auditivos, entre outros, na hora de aprender.
Pesquisas recentes, no entanto, estão colocando em xeque tais teorias,
afirmando que as pessoas possuem sim habilidades diferentes, mas que o uso
delas não reflete necessariamente em um aprendizado maior. Seria o estilo de
aprendizagem um dos maiores mitos da Educação atual?
Sobre este assunto, existem diferentes teorias amplamente aceitas
pelos educadores. Alguns modelos mais conhecidos são Kolb (1984), Gregorc
(1979), Felder e Silverman (1988), e VARK (1992). Apesar das suas
peculiaridades, todas elas têm como objetivo encontrar a melhor forma de
aprendizagem do aluno para que o professor consiga escolher as ferramentas
adequadas de ensino. Assim, pode-se optar por fazer um seminário, indicar uma
leitura silenciosa ou pedir para os alunos desenharem mapas e gráficos para
aprenderem sobre um determinado assunto.
O Questionário VARK (sigla de “Visual, Auditory, Reading and
Kinesthetic”) foi desenvolvido por Neil Fleming depois de acompanhar mais de 9
mil aulas diferentes e perceber que apenas alguns professores eram capazes de
conseguir a atenção de todos os alunos. Fleming começou a pesquisar, então,
sobre como as pessoas preferem receber novas informações. O resultado foi o
Questionário VARK, uma lista de 16 perguntas que ajuda o aprendiz a descobrir
se ele é do estilo de aprendizagem visual, auditivo, leitura/escrita ou
sinestésico.
O questionário pode ser encontrado facilmente, em vários idiomas,
com uma rápida pesquisa no Google. Muitos alunos e professores utilizam o teste
como uma ferramenta de autoconhecimento e de preparação para aulas. Dessa
forma, a teoria de Fleming defende que algumas pessoas aprendem mais através da
visão, outras têm a audição como a melhor maneira captar uma nova informação,
algumas precisam escrever ou ler para fixar melhor um conteúdo, e outras
precisam de uma experiência mais prática - ou sinestésica - para realmente
aprender.
Se formos analisar, essa teoria faz muito sentido quando paramos
para observar nossas habilidades. Cada indivíduo é único e possui diferentes
habilidades, mas normalmente ele possui mais facilidade com uma habilidade ou
outra. Por exemplo, uma pessoa pode escrever muito bem mas ter dificuldade para
desenhar. Isso seria um indício de que a primeira pessoa aprenderia mais
fazendo anotações e a segunda, fazendo ou analisando desenhos e gráficos.
A teoria VARK foi muito difundida principalmente no final dos anos
80 e começo dos anos 90, provavelmente pelo novo posicionamento dos educadores,
que buscavam promover a autoestima dos alunos. Dessa forma, o problema não
seria o aluno ou o professor em si, mas que o estilo de aprendizagem correto
não estava sendo utilizado.
Pesquisas atuais, no entanto, têm destacado alguns indícios de que
as coisas não são bem assim. Uma equipe da Universidade de Indiana, coordenada
pela Prof. Polly Husmann, aplicou o Questionário VARK em centenas de alunos
para determinar qual seria seu estilo de aprendizagem. Eles então desenvolveram
estratégias de estudo para cada grupo, baseadas na resposta do questionário. A
pesquisa apontou que os estudantes não conseguiram estudar da maneira como
teoricamente seria a mais fácil para eles, de acordo com a teoria VARK. Os
poucos que seguiram as orientações, não obtiveram nenhuma melhora nos
resultados das suas avaliações. Este estudo foi publicado agora, no mês de
março, na Anatomical Sciences Education.
Outro estudo, publicado em 2017 na British Journal of Psychology,
apontou que os alunos acreditavam que seriam capazes de memorizar melhor as
informações que recebiam de acordo com seus estilos de aprendizagem. Alguém
mais visual lembraria melhor de uma imagem, alguém auditivo lembraria melhor de
um conteúdo narrado, etc. Porém, essa relação não se provou verdadeira nos
testes posteriormente realizados. Dessa forma, o “tipo de aprendizagem” na
verdade demonstraria apenas uma preferência pessoal, não tendo nenhuma relação
comprovada entre preferência e capacidade de memorização.
Outra pesquisa interessante, publicada no Journal of
Educational Psychology, não encontrou qualquer relação entre
preferência de aprendizado visual ou auditivo e performance em compreensão de
textos escritos ou veiculados em áudios. Na verdade, os alunos que foram
apontados como visuais obtiveram um melhor resultado nos dois tipos de teste. A
conclusão do estudo, no entanto, não é que esses alunos são melhores
aprendizes, mas sim que os professores deveriam abandonar as estratégias
voltadas apenas para seus aprendizes mais auditivos pois todos se beneficiaram
mais das estratégias visuais.
Apesar de entender todo o apelo da teoria desenvolvida por
Fleming, eu pessoalmente acredito mais no potencial das novas pesquisas. As
pessoas possuem sim algumas habilidades mais evoluídas, mas acredito que todas
podem se beneficiar dos diferentes estilos de ensino. Quando conseguimos unir
diferentes estímulos, aumentamos o interesse do aluno que, naturalmente,
aumenta seu poder de concentração naquele momento. E é esse foco, essa imersão
na experiência, que potencializa o aprendizado. O aluno não precisa
necessariamente ver, ouvir ou falar para aprender um conteúdo: ele precisa
vivenciar aquela questão para realmente entendê-la. O estímulo aplicado não é o
determinante, mas sim o seu grau de atenção.
Vejo o Questionário VARK como uma ferramenta interessante, mas não
determinante no autoconhecimento para aprendizagem. Vale a pena apostar em
diferentes ferramentas de ensino, mas o professor não deve se limitar a uma
delas. A variedade traz riqueza para qualquer aprendizagem.
Luiz Alexandre Castanha - diretor geral da Telefônica Educação
Digital – Brasil e especialista em Gestão de Conhecimento e Tecnologias
Educacionais. Mais informações em https://alexandrecastanha.wordpress.com
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