Se
o ato do suicídio parece violento para quem está observando de fora, imaginem a
intensidade do desespero interno de quem optou por essa atitude
Falar
sobre suicídio ainda é um tabu para muitos pais, é um assunto que muitos optam
por nem pensar, mas muitas famílias têm sido acometidas por esta tragédia. A
grande questão é que nos últimos anos o suicídio de crianças, adolescentes e
jovens adultos (até a idade de 29 anos) têm aumentado e nestas faixas etárias o
índice tem sido maior que a média nacional.
Hoje
existem uma série que passa no Netflix "13 Reason Why" que trata do
suicídio de uma adolescente e durante os episódios as pessoas irão descobrir as
13 razões do porque ela fez isso. Recentemente a mídia falou bastante deste
assunto com o jogo da "Baleia Azul" ou o "jogo do
suicídio", mas o suicídio entre adolescentes e jovens é mais real do que o
jogo.
De
acordo com a pesquisa "Violência Letal contra as Crianças e Adolescentes
do Brasil e do Mapa da Violência: os Jovens do Brasil" entre 1980 e 2012,
as taxas de suicídio cresceram 62,5% na população em geral. Na faixa etária dos
15 aos 29 anos, a média aumenta em ritmo mais rápido do que em outros segmentos.
São 5,6 mortes a cada 100 mil jovens (20% acima da média nacional).
Segundo
Valéria Ribeiro, psicóloga e coach familiar, "é preciso estar claro que
97% dos casos de jovens que pensam em suicídio têm tratamento, o mais
importante é que os pais estejam atentos às mudanças no comportamento dos
filhos", explica. Ela destaca alguns sinais que podem auxiliar os pais a
perceberem se o filho tem tendência suicida, podendo assim evitar uma tragédia:
·
Falta
de interesse pelo próprio bem-estar;
·
Alterações
significativas na personalidade ou nos hábitos;
·
Comportamento
ansioso, agitado ou deprimido;
·
Queda
no rendimento escolar;
·
Afastamento
da família e de amigos;
·
Perda
de interesse por atividades de que gostava;
·
Perda
ou ganho repentinos de peso;
·
Mudança
no padrão usual de sono;
·
Comentários
autodepreciativos recorrentes ou negativos e desesperançosos em relação ao
futuro;
·
Disforia
(combinação de tristeza, irritabilidade e acessos de raiva);
·
Comentários
sobre morte, sobre pessoas que morreram e interesse pelo assunto;
·
Doação
de pertences que valorizava;
·
Expressão
clara ou velada de querer morrer ou de pôr fim à vida;
·
Promiscuidade
repentina ou aumentada;
·
Tentativas
de ficar em dia com pendências pessoais e de fazer as pazes com desafetos.
Existem
também alguns fatores, que quando vividos pelos adolescentes ou jovens, podem
aumentar os riscos para o suicídio:
·
Problemas
familiares;
·
Falta
de perspectiva na vida;
·
Sensação
de desamparo, impossibilidade de agir sobre os problemas;
·
Bullying
ou cyberbullying;
·
Doença
e dor excessiva;
·
Pouca
estrutura emocional no enfrentamento de problemas;
·
Abuso
físico ou emocional.
De
acordo com Valéria, "jovens com tendências suicidas falam sobre a
possibilidade de se matar, pois o ato é elaborado aos poucos ao longo do tempo.
Normalmente, os suicidas não querem se matar de verdade, na verdade eles querem
eliminar uma dor insuportável e chegam a esse ponto por acreditarem que já
tentaram de tudo e que não tem mais solução. Quando já houve uma primeira
tentativa de suicídio por parte do adolescente ou jovem, e que foi malsucedida,
é preciso cuidar, pois o período logo após é muito perigoso", explica.
Ela
aconselha que os pais não tenham medo de conversar sobre suicídio com seus
filhos, isso pode ajudar um suicida a mudar de ideia e decidir procurar ajuda.
Os pais devem procurar ser mais ouvintes, julgar menos, não estigmatizar o
sofrimento, não ficar dando muitos conselhos como se fosse algo de fácil
solução.
Cabe
ressaltar que muitas crianças, adolescentes e jovens que se suicidam estavam
com depressão, mas o grande fator que leva ao ato em si é a sensação de
desesperança. "Elas se sentem vazias, sozinhas e frustradas. Buscar ajuda
de um profissional nestas ocasiões é muito importante, pois pode ser a resposta
entre a vida e a morte desse jovem", exalta.
Os
pais têm um papel importante neste processo e há algumas ações que se fizerem
podem se tornar fatores de proteção ou de auxílio para seus filhos. São eles:
·
Apoio
da família e de uma rede de amizade sólida (na rede de amizade não precisa ser
o popular, mas ter pelo menos uns 3 amigos já ajuda);
·
Presença
de crenças e valores;
·
Envolvimento
na comunidade (seja na igreja ou em um grupo de voluntariado) – isso ajuda o
jovem a descobrir sua utilidade;
·
Vida
social satisfatória (sair com os amigos, ir ao cinema, ter um hobby);
·
Fazer
terapia (se necessário) e/ou cursos de autoconhecimento.
"A
grande pergunta é se há possibilidade de
reverter um quadro desse, a resposta é sim, mas para isso os pais terão que aceitar
que o filho(a) precisa de ajuda e, talvez, toda a família", finaliza
Valéria.
Valéria Ribeiro - Coach familiar,
especializada em psicologia e desenvolvimento humano
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