De nada adianta tanta modernidade – como máquinas autônomas e
sensorizadas – se não houver o básico. Não se pode esquecer que hoje, com as
máquinas manuais, é possível fazer ações de contenção e trabalhar com pequenos
desvios na produção, compensados com retrabalhos, inspeções extras ou desvios
especiais.
Com as máquinas autônomas, não será possível parar no meio uma produção,
que é dotada de inúmeras conexões. Se não houver a estabilidade necessária nas
máquinas, refugos serão produzidos, com geração de enormes prejuízos e atrasos
em toda a cadeia. Provavelmente máquinas trabalharão por horas ou, talvez, dias
a fio sem uma correção.
É fato que fazer o correto da primeira vez sempre foi uma exigência de
toda a cadeia automotiva, mas agora, com a Indústria 4.0, é mais do que nunca
um imperativo.
Para tanto, o profissional precisa pensar no sentido horário ou seguir o
ciclo PDCA. Não se pode sair executando uma nova atividade sem saber exatamente
o que está sendo feito, o que é uma prática bastante comum no ocidente. O
brasileiro geralmente tenta se instruir somente quando algo dá errado ou faz
por tentativa até acertar.
O contrário é visto em outras culturas. Quando o japonês ou o alemão se
propõe a fazer uma nova tarefa, o primeiro passo é sempre estudar, planejar,
fazer experimentos para conhecer tudo sobre aquele assunto. Ter sucesso no
experimento é a condição para ele se propor a executar a atividade. Esta é a
premissa básica da qualidade.
As empresas têm à disposição diversas ferramentas de qualidade, mas
comumente ainda só trabalham com tais ferramentas na ocorrência do erro. Essa
propensão do brasileiro de ser criativo está chegando a um expoente que não
cabe na Indústria 4.0. Não haverá espaço para amador ou herói nas fábricas
inteligentes.
Agora é necessário dar atenção à qualidade dos processos produtivos.
Mais do que nunca, a capabilidade das máquinas deve ser observada, assim como a
estabilidade e a precisão dos instrumentos de medição, a aplicação dos ciclos
de manutenção (preventiva e preditiva) e a reposição dos ferramentais, todos
devem ser aplicados à risca.
Vale lembrar que a qualidade é medida na indústria automotiva pela
satisfação da necessidade do cliente, que é traduzida na entrega de produtos
sem defeitos, nos prazos combinados e com custos adequados. Pensar no sentido
horário é requisito na Indústria 4.0 para equilibrar as três forças que geram a
satisfação do cliente.
Estes são alguns desafios para o desenvolvimento do parque industrial
brasileiro no contexto das fábricas inteligentes, que também serão discutidos
no 5º Fórum IQA da Qualidade Automotiva. O encontro reunirá lideranças da
indústria, da academia e do governo no Centro de Convenções Milenium, em São
Paulo, dia 9 de outubro.
Eng.
Flávio Nascimento Mateus - diretor do Instituto da Qualidade Automotiva (IQA)
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