Em parceria com a antropóloga Mirian Goldenberg,
professora titular da UFRJ, pesquisa revela que os valores associados ao
feminino tornaram-se urgentes aos homens e mulheres para a construção de
relações mais humanas e solidárias
MOLICO®,
marca de lácteos da Nestlé, em parceria com Mirian Goldenberg,
professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, realiza pesquisa
inédita sobre o panorama emocional de homens e mulheres brasileiros. O estudo, “A
vez do feminino”, contou com a colaboração da agência de inovação
Studio Ideias e teve participação de 1.000 pessoas de todo o país, entre 16 e
64 anos. Os dados foram colhidos entre os dias 19 e 25 de julho de 2017 e
algumas das tendências detectadas incluem: os brasileiros – homens e mulheres –
gostariam de viver em uma sociedade com valores mais femininos; quase todos se
consideram infelizes no ambiente de trabalho; mulheres Millennials são as que
mais enfrentam desafios para se adequarem ao modelo masculino de trabalho e
homens da Geração Z são os mais entusiasmados com os valores associados ao
feminino.
Parte do projeto #OValorDoFeminino
– que deu seu pontapé inicial com o lançamento da série de documentários
Humanidade [em Mim], em 2016, e que se expandiu através do trabalho com
parceiros como ASAS.br.com, GNT, TRIP, Papo de Homem e Bravo! –, o estudo “A vez do feminino” materializa a reflexão
relativa à forma com que as pessoas gostariam de agir e como agem de fato em
ambientes diversos, demonstrando as contradições do comportamento no ambiente
privado versus o público, representados pela casa e pelo trabalho,
respectivamente.
“Reconhecer e
prestigiar os valores associados ao feminino
em homens e mulheres abre espaço para que todos desenvolvam relações mais
humanas", diz Rachel Muller, gerente executiva da Nestlé que liderou a
pesquisa. "Só assim vamos conseguir as mudanças que desejamos em casa, no
trabalho e na sociedade”, conclui.
Confira as
principais conclusões do estudo “A vez do feminino”:
Os
brasileiros querem um mundo mais feminino
Perguntados sobre a
forma como veem o mundo, os pesquisados concluíram que as características mais
notadas na sociedade são: violência, desonestidade, egoísmo, intolerância e
agressividade. Como resposta a isso, a maior parte deles elegeu atributos, como
honestidade, solidariedade, generosidade, companheirismo e compaixão para o
ambiente ideal onde gostariam de viver, sendo dos 10 valores mais admirados e
desejados, 7 considerados femininos pelos próprios participantes. “Em sua
essência, todos os valores são neutros, mas acabam atribuídos a homens ou
mulheres por razões culturais”, explica a antropóloga Mirian Goldenberg. “No
Brasil, tudo o que diz respeito à casa, ao cuidado e ao outro é considerado
feminino, ao passo que os valores ligados ao trabalho e ao mundo exterior são
tidos como masculinos”, completa a especialista.
Mulheres
como principais referências dos valores
Questionados sobre
a pessoa que mais ensinou a exercer atitudes desejadas na sociedade, como
tratar bem os outros, oferecer ajuda a quem precisa e a ser cuidadoso com o
próximo, mais da metade dos participantes apontou a própria mãe, enquanto as
menções ao pai não chegaram a 20%. Ainda mais alarmante, em situações como
confiar nas pessoas, ajudar para que elas se sintam integradas em novos
ambientes e dar um voto de confiança a alguém que errou, a segunda referência
mais presente, após a mãe, é “ninguém”, com o dobro de citações com relação ao
pai. Na prática, essa assimetria reflete o fato de as mulheres acabarem com a
jornada estendida, gastando uma média de 4 horas a mais que os homens por dia
em tarefas como cuidar dos filhos e outras pessoas.
O
ambiente de trabalho | Apenas 4% se sente feliz no emprego
Assim como na vida
pessoal, no trabalho, as pessoas desejam um ambiente que ofereça mais espaço
para exercerem valores considerados femininos, no entanto, a pesquisa aponta um
abismo entre a forma como essas pessoas gostariam de agir e como se veem
estimuladas a fazê-lo. Os entrevistados consideraram agir com eficiência como a
forma desejada e encorajada a agir, contudo, os ideais divergem com relação aos
demais pontos: 60% deles afirmam ser incentivados a resolver os problemas da
forma mais rápida e 52% a focar nos resultados, enquanto 59% gostariam de
valorizar todos os membros da equipe e 58% gostariam de promover um ambiente de
trabalho mais acolhedor. E Mirian Goldenberg afirma: “O fato de as pessoas
desejarem um ambiente de trabalho em que se valorize a cooperação, a confiança
e a empatia não significa que foco, competitividade e apetite pelo risco não
sejam importantes, mas é preciso que haja um equilíbrio. O problema é que no
meio corporativo os valores relacionados ao feminino são praticamente ignorados
ao passo que atributos considerados masculinos são supervalorizados.”
Nesse cenário, o
avanço na carreira vem acompanhado de um alto preço psicológico e emocional.
Entre as entrevistadas, 42% diz ter passado por situações de constrangimento e
23% afirmou ter sofrido assédio moral. Além disso, pouco mais de um terço (36%)
teve vontade de chorar na frente dos outros, mas teve vergonha. O resultado
desse desbalanço no ambiente é que apenas 4% dos pesquisados se sente feliz no
trabalho.
Mulheres
millennials são as mais desmotivadas no trabalho
O estudo, “A vez
do feminino”, aponta que quem mais tem sofrido para se adaptar à uma visão
masculina do ambiente de trabalho e sociedade são as mulheres Millennials, com
idades entre 21 e 35 anos. Mesmo tendo um nível de escolaridade superior a de
seus pares do sexo oposto, 1 em cada 4 delas se sente frustrada e desmotivada
no emprego, além de 1 em cada 5 se dizer angustiada, incompreendida e solitária,
justamente quando poderiam estar no auge da produtividade. Tamanha insatisfação
está ligada à incapacidade de exercer valores femininos, visto que metade delas
gostaria de ver mais respeito pelo seu jeito de ser e 49% gostaria de se sentir
à vontade para propor suas ideias.
Aparentemente, as
agruras profissionais tendem a diminuir com a maturidade, visto que as Baby
Boomers, que tem entre 50 e 64 anos, são as mais motivadas, realizadas e
confiantes, tanto em comparação às colegas mais jovens quanto aos homens da
mesma idade. Apesar disso, em casa a situação se inverte e elas são as que
menos se dizem seguras, cuidadas e assistidas.
Nem
os homens aguentam mais o modelo tradicional de masculinidade
Os homens também se
sentem afetados pelo desprestígio dos valores associados ao feminino. Segundo
Mirian Goldenberg, muitos estão cansados de reproduzir um modelo de
masculinidade que exige que sejam fortes, poderosos e provedores, o tempo todo.
Eles não sentem que há espaço para demonstrarem suas emoções e incertezas, além
de sofrerem quando são obrigados a se desculpar no trabalho para cuidar da
família.
Quase metade dos
homens também já passou por constrangimentos no trabalho (44%), ajudou um
colega que se sentiu desrespeitado (44%) ou deixou de emitir sua opinião por se
sentir desencorajado (42%). Ao passo que, em casa, 42% gostaria de ter mais
tempo e disposição para ouvir e acolher as pessoas, índice superior ao das
mulheres (40%).
Embora ambos os
gêneros desejem praticamente as mesmas coisas, os homens da geração Z, entre 16
e 20 anos, são os mais entusiasmados com a criação de um ambiente cordial,
amoroso e igualitário, ao menos em casa. O respeito às diferenças de pensamento
é prioridade para 61%, sendo que 56% gostaria que a divisão de tarefas fosse
mais equilibrada e 50% que os pais participassem mais da educação dos filhos.
A boa notícia é que
os brasileiros se mostraram mais engajados e menos individualistas, sendo que a
maioria dos entrevistados (68%) se sente responsável pela situação atual e boa
parte abraça lemas, como “gentileza gera gentileza”, “mais amor por favor” e “a
união faz a força”. A construção de uma sociedade que não apenas valoriza, mas
vive os valores ligados ao feminino depende, antes de mais nada, dessa mudança
de mentalidade que vemos em curso.
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