Entre os fatores
de ressecamento dos olhos estão a deficiência na produção lacrimal e os agentes
externos ou ambientais. Diagnóstico e tratamento corretos devem ser feitos por
um oftalmologista
O olho humano é um dos mais complexos e delicados
órgãos do corpo.
Integrados à anatomia dos nossos olhos estão o corpo ciliar, a
córnea, a pupila, a íris, a retina, o nervo ótico, entre outras estruturas
fundamentais. Todo esse conjunto precisa de cuidados, proteção e hidratação
para o bom funcionamento e saúde do globo ocular.
“Naturalmente, algumas pessoas podem ter
deficiência na produção lacrimal, pois não conseguem produzir a quantidade
adequada de lágrima. Mas agentes externos e ambientais também podem desencadear
o ressecamento da superfície do olho. Esse ressecamento provoca vermelhidão,
coceira e ardor nos olhos e, em casos mais graves, até mesmo dificuldade de
movimentar as pálpebras”, explica o oftalmologista Marcelo Netto, Professor e
Doutor em Oftalmologia pela Universidade de São Paulo.
Todos os órgãos externos do corpo, como pele,
olhos, cabelos, unhas e lábios, necessitam de higiene e hidratação corretas.
Nos olhos, a hidratação natural ocorre toda vez que piscamos, através da troca
constante do filme lacrimal, a lágrima, substância composta por água, sais
minerais, proteínas e gordura. A glândula lacrimal é a responsável
por esta lubrificação e limpeza, a fim de evitar o ressecamento dos olhos.
O filme lacrimal é composto por três camadas:
mucina, aquosa e lipídica, sendo esta última a que impede a evaporação da
camada aquosa, hidrata e limpa o organismo. Quando há carência lipídica, a
camada aquosa fica exposta, o que aumenta a evaporação do filme lacrimal. Além
disso, às vezes, o próprio organismo pode alterar a composição da lágrima –
mais de 100 substâncias essenciais para a limpeza e defesa contra
micro-organismos.
A baixa produção de lágrimas pelas glândulas lacrimais
caracteriza uma doença denominada de Síndrome do Olho Seco, uma disfunção
lacrimal que se não tratada pode levar à ulceração das córneas e até mesmo à
perda da visão.
A Síndrome do Olho Seco vem sendo considerada
por muitos oftalmologistas com uma epidemia. Acomete, aproximadamente, 20
milhões de brasileiros, o equivale a 10% da população. De acordo com
a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Síndrome atinge mais as mulheres,
na proporção de três para cada homem.
Embora ocorra em todas as épocas do ano, a
Síndrome é a segunda maior causa de atendimento nos consultórios oftalmológicos
durante o inverno, em grande parte devido à baixa umidade do ar – a
concentração de poluentes aumenta em até 80% durante o inverno em locais onde
há grande número de indústrias e veículos em circulação.
Os sintomas da Síndrome do Olho Seco são ardência,
vermelhidão, sensação de areia ou de corpo estranho, coceira, lacrimejamento,
cansaço, irritação, visão turva (pode melhorar depois de piscar), desconforto
ao ler, assistir televisão ou trabalhar em frente ao computador por muito
tempo.
Celular, computador e tablet
Outra síndrome relacionada ao olho seco e pouco
conhecida é a Síndrome do Olho Seco Irritativo, quando não há deficiência
de produção da lágrima, mas em virtude de fatores externos que provocam a
desidratação ocular, como exposição ao sol, vento, ar condicionado, fumaça,
poluição.
“Atualmente, a tecnologia tem influência direta nos
fatores do olho seco. Comumente, usuários de equipamentos eletrônicos, como computadores,
celulares e tablets, reduzem a frequência de piscadas, o que provoca a
diminuição na lubrificação dos olhos”, destaca Marcelo Netto.
Tratamento
A Síndrome do olho seco é uma doença crônica que
aparece de forma lenta e que pode causar sintomas imperceptíveis até quadros
muitos graves, com sério comprometimento da saúde ocular, bem como na qualidade
de vida.
Pessoas com Síndrome do Olho Seco precisam de
acompanhamento oftalmológico frequente para evitar que lesões na córnea venham
comprometer a visão de forma temporária ou mesmo definitivamente.
A primeira alternativa de tratamento é o uso de
lubrificantes artificiais, lágrimas artificiais e colírios, que atuam como
substâncias fisiológicas, ou seja, substâncias que já integram nosso organismo,
fazendo com que o resultado seja efetivo e instantâneo. Embora o uso do colírio
seja simples, o modo correto de aplicação garante a eficácia da solução e
também evita o desperdício.
Existem lágrimas artificiais eficientes para
a lubrificação da superfície ocular e alívio da irritação decorrente de olho
seco, como as compostas com ácido hialurônico, substância que traz mais
viscosidade, hidratação e estabilização do filme lacrimal, e sem conservantes,
pois evitam os efeitos colaterais, como vermelhidão, ardência nos olhos e
cansaço visual.
“Mesmo que as lágrimas artificiais sejam livres de
prescrição médica, recomenda-se a consulta periódica com um oftalmologista,
tanto para indicar o colírio mais adequado para cada caso como para o
diagnóstico e tratamento corretos para as deficiências na produção lacrimal, em
especial, para o Síndrome do Olho Seco”, finaliza o professor da USP, Marcelo
Netto.
SAÚDE OCULAR: HIDRATAÇÃO DOS OLHOS
- Piscar regularmente
- Descansar os olhos
- Dormir pelo menos 8 horas por noite
- Beber água constantemente
- Evitar os fatores desencadeantes
- Limpar os olhos corretamente
- Com o tempo seco, há maior dispersão de ácaros e, por isso, é importante lavar e expor ao sol sapatos, roupas e casacos que ficaram guardados por muito tempo no armário
- Cuidar da higiene das mãos e dos olhos
- Usar lágrimas artificiais (colírio) diariamente para manter os olhos hidratados e nutridos
- Consultar um oftalmologista regularmente para exames de rotina
Prof.
Dr. Marcelo V. Netto - Médico Assistente e Professor da Universidade de
São Paulo, Doutor em Oftalmologia pela Universidade de São Paulo, Fellowship
pela Universidade de Washington, Seattle, WA, Pós-Doutor pela The Cleveland
Clinic Foundation, Cleveland, OH e Diretor do Instituto Oftalmológico Paulista.
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