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terça-feira, 26 de setembro de 2017

HIV/Aids: lembranças por dias melhores



"Os dias eram assim", mudaram radicalmente, mas podem ser muito melhores


Os avanços científicos aliados a políticas públicas bem-sucedidas afastaram o brasileiro da sentença de morte que a Aids representou no país (e no mundo) pela década de 1980, quadro que foi muito bem retratado na série “Os Dias Eram Assim” com o drama interpretado pela atriz Julia Dalavia.

Mas se hoje a perspectiva de uma pessoa infectada pelo HIV é radicalmente diferente, há dois pontos que também precisam ser lembrados para um efetivo enfrentamento da doença: continuamos sim sob o impacto de uma epidemia e não existe ainda vacina, tampouco cura, logo o convívio com o vírus cobra cuidados regulares e contínuos.

Objetivamente, a cada 15 minutos ocorre uma infecção pelo HIV no Brasil. Ao ano, portanto, são ao redor de 35 mil novos casos. E embora existam grupos populacionais sob maior vulnerabilidade, padrões culturais e comportamentais trataram de aproximar qualquer indivíduo ao risco, independente de gênero e orientação sexual.

Basta ver a razão matemática de ocorrências entre homens e mulheres ao longo da história. Pelo início da epidemia, eram sete casos masculinos para um feminino. Em 2015, essa divisão cai para três a cada uma, sendo que dez anos antes, havia um empate técnico (1,2:1).

Ainda que o Brasil tenha resultados expressivos na perseguição da meta 90-90-90 instituída pela UNAIDS para contribuir com o fim da epidemia (90% de diagnosticados, 90% em tratamento e 90% com supressão viral), há desafios relevantes por superar.

Do universo de 827 mil pessoas vivendo com o HIV no país, 112 mil não foram ainda diagnosticadas, logo desconhecem sua condição, e metade (417 mil) não tem a carga viral suprimida, situações que favorecem a circulação do vírus.

Já quanto ao segundo ponto a ser lembrado, este relativo ao aspecto terapêutico, cabe observar que, de fato, foi-se o tempo no qual a ciência objetivava somente prolongar a sobrevida do paciente. Agora, a busca em pesquisa e desenvolvimento para tratamentos é prover cada vez mais qualidade de vida aos pacientes, tanto facilitando sua adesão com posologias confortáveis, reduzindo a possibilidade de eventos adversos, como melhorando a eficácia das formulações na supressão viral.

Mas para que todas as evoluções obtidas pela ciência se traduzam em uma vida comum, possibilitando planos diversos, como a paternidade ou maternidade, é inegável que o paciente vivendo com o HIV precisa seguir uma rotina de cuidados e vigilância permanentes. E ainda possivelmente enfrentará o estigma e preconceito infelizmente ainda associados a essa condição.

Conhecimento e entendimento acerca dessas realidades são fundamentais porque mantém nossos pés firmes no chão, de modo a estimularmos um comportamento pautado pela segurança, sempre. A base de suporte nessa direção existe: sabe-se muito hoje sobre o HIV/Aids e existe uma estratégia preventiva como política pública que combina diversos métodos complementares para bloqueio de novos casos. O desafio é manter todos os atores dessa trama engajados e conscientes porque se os dias já são diferentes, podem ser muito melhores.





Anita Campos - diretora médica da Gilead Sciences na América do Sul
Fonte: http://unaids.org.br/estatisticas/




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