Especialistas
nacionais e internacionais debatem questões ligadas a hábitos, seletividade e
influência dos pais na alimentação dos filhos
Uma pesquisa realizada em 2017 e publicada no
periódico britânico New England no mês de julho estimou que existem 107,7
milhões de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo. Para o Prof. Dr. Carlos
Alberto Nogueira de Almeida, médico nutrólogo e coordenador da área de
nutrologia pediátrica da Associação Brasileira de Nutrologia, a obesidade é uma
doença que traz impactos imediatos, e não apenas futuros. "Uma criança
obesa acumula risco de desenvolver mais doenças crônicas, e temos observado um
aumento gradativo de hipertensão arterial, esteatose hepática não alcoólica
(gordura no fígado) e uma resistência insulínica muito grande. A previsão é de
que, em 2025, a população mundial de crianças obesas chegue a 20% ",
disse, durante o XXI Congresso Brasileiro de Nutrologia, em São Paulo.
Um levantamento realizado na Ucrânia também nesse
ano mostrou que uma pessoa que foi obesa na infância, quando adulta, tem uma queda
na capacidade de trabalho de 5,2 vezes, um aumento de 8,1 vezes no risco de
doenças respiratórias, 7,7 vezes mais propensão a desenvolver risco de
dermatite alérgica, e 3,4 vezes mais risco de hipertensão arterial. Outro
estudo, realizado na Coréia do Sul, com mais de 1.500 crianças, avaliou que há
um risco quase 27 vezes maior de uma criança obesa desenvolver uma comorbidade
como dislipidemia (colesterol alto), resistência insulínica, apneia obstrutiva
do sono, defeitos na imunomodulação, etc.
No Simpósio de Obesidade infanto-juvenil, também um
estudo comprovou que crianças obesas e com sobrepeso possuem um ventrículo
esquerdo mais hipertrofiado, mesmo que sem a presença de hipertensão arterial,
o que sobrecarrega o coração e pode gerar risco direto à vida. Além disso,
grande parte das jovens meninas que são obesas apresentam Síndrome dos Ovários
Policísticos (SOP). Quando somada à obesidade, a SOP pode estar relacionada ao
constante ganho de peso, maior resistência insulínica e desregulação hormonal.
Metade das meninas com SOP possui esteatose hepática.
O ideal, de acordo com o Dr. Nogueira, é olhar de
maneira séria para a obesidade infanto-juvenil. "O principal erro dos pais
é trazer os filhos única e exclusivamente pela discriminação social. Existem outros
aspectos que devem ser levados em conta, e a saúde é o principal deles",
afirma.
Comportamento alimentar e Influência dos pais na
alimentação
A professora e psicóloga clínica, Carla Cristina
Nogueira de Almeida, comenta que o comportamento alimentar é composto por
aspectos constitucionais, de socialização e fatores afetivos, como a interação
mãe, criança e família. "Um dos maiores erros que encontramos é a mãe que
não consegue interpretar, durante os primeiros meses de vida, o choro de seu
filho e acaba estimulando para toda resposta um alimento", diz a
psicóloga.
A literatura comprova que um novo alimento deve ser
introduzido de 8 a 15 vezes para que a criança defina se gosta ou não dele. No
mais, existem alguns aspectos que as crianças obesas desenvolvem que podem
ajudar os pais a identificar a propensão a doença: comem mais rápido, comem na
ausência de fome (pouco tempo), tem pouca saciedade, envolvem-se com o comer
emocional.
O ideal é que os pais desempenhem uma maior
influência e controle na alimentação dos filhos. Portanto, a psicóloga Carla,
após observar casos em seus consultórios, os categorizou em quatro tipos:
Responsivos: São aqueles que são muito responsáveis
e exigentes quanto a alimentação. Eles direcionam as atividades dos filhos de
forma racional e orientada, dialogam e encorajam a autonomia e não cedem a
todos os desejos das crianças. Com isso, há um melhor desempenho, poucos
problemas de comportamento e maior autoestima dos filhos.
Indulgentes: Os pais indulgentes possuem uma
tolerância alta, muito afeto, baixo controle sobre os filhos, raramente fazem
exigências e raramente aplicam punições, sendo assim pouco exigentes e muito
responsáveis. Isso leva os filhos a uma boa autoestima, maior maturidade, porém
um baixo desenvolvimento escolar e até mesmo apresentar sinais de
agressividade.
Controladores: Muito exigentes e pouco
responsáveis. São os que modelam, controlam e avaliam o comportamento com
regras absolutas, com força e autoridade e a favor de medidas punitivas. As
crianças apresentam um alto desempenho acadêmico, menor autoestima, mais medos
e frustrações, e maior ansiedade e depressão.
Negligentes: São os que mais preocupam, pois são
irresponsáveis, e não são exigentes. As crianças apresentam um pior ajustamento
social dentro dos outros perfis, menor competência cognitiva, e maiores
problemas de internalização e comportamento.
ABRAN – Associação
Brasileira de Nutrologia
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