Durante gerações, os obstetras foram rápidos em
cortar o cordão umbilical de recém-nascidos. Isso está mudando, e a maioria dos
pais expectantes deve atrasar um pouco o corte do cordão
Em
janeiro, o Colégio Americano de Obstetras e
Ginecologistas
tornou-se a mais recente organização médica importante a recomendar formalmente
que os médicos rotineiramente aguardem antes de cortar o cordão umbilical.
Esperar pelo menos 30- 60 segundos permite que mais sangue volte para o
recém-nascido durante o processo de nascimento, quando os vasos sanguíneos que
levam o sangue ao bebê começam a se contrair e fornecem ferro extra, crítico
para o desenvolvimento do cérebro do bebê.
Durante
este tempo, o bebê pode ser limpo, coberto e pode descansar tendo contato
pele-a-pele com o abdômen ou o peito da mãe, orienta o documento. Em um nascimento cesariano, o
cirurgião ou um assistente podem segurar o bebê durante este tempo. A
recomendação anterior do grupo, publicada em 2012, aconselhou um atraso para
bebês prematuros, mas disse que não havia evidências suficientes para
recomendar o mesmo para aqueles nascidos a termo. “À medida que mais e mais
evidências se acumulam nesse sentido, já é possível dizer que isso parece ser a
coisa certa para todos os bebês, a termo e prematuros”, afirma o pediatra e
homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Outros
grupos médicos já aprovam o corte tardio do cordão umbilical. A Academia Americana de Pediatria, assim como o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, recomenda esperar pelo menos 30-60
segundos antes de cortar o cordão umbilical, enquanto a Organização Mundial da Saúde aconselha pelo menos 60 segundos e o Colégio Americano de Enfermeiras-Parteiras de dois a cinco minutos.
Antes
de meados de 1900, era uma prática comum esperar alguns minutos antes de cortar
o cordão. Os obstetras começaram a cortá-lo imediatamente em parte por causa de
uma crença equivocada de que isso reduziria o risco de hemorragia na mãe (pesquisa subsequente descobriu que não), uma tendência
que se acelerou com a crescente especialização da medicina, com pediatras
prontos para cuidar do recém-nascido enquanto o obstetra atende a mãe.
Mas
pesquisas mais recentes desafiaram a prática comum de corte imediato. Um ensaio sueco de
2011 descobriu que apenas 0,6% dos bebês a termo com um atraso de três minutos
no pinçamento do cordão eram deficientes em ferro aos 4 meses de idade, em
comparação com 5,7% com pinçamento imediato. Aos 4 anos de idade, as crianças com clampeamento tardio do cordão
apresentaram pontuações maiores nas habilidades motoras e sociais, uma
diferença particularmente evidente entre os meninos, que podem ser mais
suscetíveis à deficiência de ferro. Outra pesquisa, uma revisão sistemática de estudos, de 2013,
concluiu consistentemente que esperar para cortar o cordão dá aos bebês uma
taxa extra de ferro.
Deficiência de ferro
“A
deficiência de ferro afeta cerca de 8- 14% dos bebês e crianças nos Estados Unidos; a prevalência é
muito maior nos países em desenvolvimento. Um relatório de 2015 observou que a prevenção de deficiência de ferro
é preferível ao tratamento dessa complicação. Mesmo os bebês que são bem
cuidados e têm acesso a atendimento médico confiável, e cuja família tem comida
suficiente, ainda podem apresentar deficiência de ferro”, explica o pediatra,
que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da
Sociedade de Pediatria de São Paulo.
O
corte retardado pode oferecer benefícios adicionais além de reduzir a
probabilidade de que uma criança irá desenvolver deficiência de ferro. O sangue
do cordão umbilical também contém imunoglobulinas e células-tronco, e os pesquisadores
especulam que o corte tardio do cordão possa auxiliar a função imune e a
cicatrização do tecido, embora isso não tenha sido bem estudado ainda.
Prematuros
“Em
bebês prematuros, o corte tardio do cordão tem benefícios adicionais, incluindo uma menor incidência de hemorragia intraventricular, ou
hemorragia no cérebro, e uma infecção intestinal grave chamada enterocolite
necrosante. Ambas são complicações comuns do parto prematuro”, diz o pediatra.
Embora
muitos hospitais tenham adotado o clampeamento tardio do cordão para bebês
prematuros, não se sabe quantos estão fazendo isso rotineiramente para bebês a
termo.
O
Colégio Americano de Obstetras e
Ginecologistas afirma
que os bebês com pinçamento retardado do cordão podem ser mais propensos a
exigir tratamento para a icterícia do recém-nascido, um acúmulo de componentes
sanguíneos (bilirrubinas) que provoca o amarelecimento dos olhos e da pele,
embora esta preocupação seja baseada em estudos mais antigos que podem ter
falhado.
“Se
a mãe ou o bebê precisarem de atenção médica urgente, o clampeamento do cordão
deve ser feito imediatamente, defende a entidade médica americana. Um desses
cenários é quando o bebê não começa a respirar imediatamente e precisa ser
transferido com urgência para uma mesa de aquecimento com o equipamento médico
necessário”, conta Moises Chencinski.
Uma
vez que os bebês começam a respirar, eles mudam a recepção de oxigênio pela
placenta para obtê-lo através dos pulmões. “Você ouve aquele grito alto, e o
que eles estão fazendo é abrindo a vasculatura, bem como as vias aéreas de seus
pulmões e abrindo espaço para esse sangue extra. Alguns pesquisadores acreditam
que pode ser benéfico deixar o cordão intacto - com sangue oxigenado ainda
fluindo da placenta - pelo menos até que o bebê respire algumas vezes ou até
ele parar de pulsar”, conta o pediatra.
Existem
pelo menos 16 estudos em curso sobre os protocolos de corte do cordão
umbilical em todo o mundo. Alguns estão investigando se a "ordenha"
do cordão umbilical (segurando-o perto da mãe e depois empurrando o sangue em
direção ao bebê) para acelerar a transfusão da placenta fornece benefícios
enquanto ainda permite que o cordão seja cortado rapidamente, o que pode ser
útil em nascimentos por cesariana ou situações de emergência. “Os primeiros
minutos da vida são tão críticos para os bebês, que precisamos de mais
pesquisas que assegurem um bom começo”, defende Moises Chencinski.
Moises
Chencinski