- Levantamento
foi encomendado junto ao Instituto Datafolha, com apoio da Uber, e ouviu
2.007 pessoas com mais de 16 anos, entre homens e mulheres
- Os
resultados mostram que 37,5% das mulheres vivenciaram alguma experiência
de violência nos últimos 12 meses, maior prevalência já registrada na série
histórica
- Uma
em cada dez mulheres (10,7% do total) sofreu abuso sexual ou foi forçada a
manter relação sexual contra a própria vontade no período
- Os
episódios de violência foram testemunhados por terceiros nos casos de
91,8% das vítimas; quase metade (47,3%) ocorreu na presença de amigos ou
conhecidos e 27% na presença de filhos
- 57%
das mulheres ouvidas relatam que as ocorrências mais graves aconteceram em
suas residências; cônjuges, companheiros ou namorados são responsáveis por
40% dos casos
- Mais
de 29 milhões de brasileiras (49,6%) foram vítimas de assédio no último
ano, maior proporção desde o início da série
- Apenas
25,7% das mulheres que sofreram violência no último ano recorreram a
órgãos oficiais, enquanto 33,8% buscaram apoio com família e amigos; 47,4%
afirmaram não ter feito nada
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresenta
nesta segunda-feira os resultados da 5ª edição da pesquisa “Visível e
Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”. Os dados
mostram um quadro alarmante da violência contra as mulheres brasileiras ao longo
dos últimos 12 meses. Segundo a pesquisa, 37,5% das
mulheres ouvidas relataram ter sofrido algum tipo de violência no período, a
maior prevalência já verificada na série histórica, 8,6 pontos percentuais
acima do resultado da última pesquisa, o que representa um universo estimado de
21,4 milhões de brasileiras com 16 anos ou mais. Os
números coletados sobre violência sexual também são estarrecedores, tendo em
vista que uma em cada 10 mulheres (10,7% do total) relatou ter sofrido abuso
sexual e/ou foi forçada a manter relação sexual contra a
própria vontade, algo em torno de 5,3 milhões de mulheres.
Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, os números infelizmente reforçam a sensação de
que a violência contra a mulher está crescendo no país. “A pesquisa mais uma
vez nos mostra que não há lugar seguro para as mulheres no Brasil: em casa, na
rua, no trabalho ou no transporte público, em todos os espaços as mulheres
estão vulneráveis a situações de violência e assédio”, destaca Samira. “As
iniciativas para frear essa epidemia de violência têm sido insuficientes.
Apesar da ampliação do arcabouço legal para proteção das mulheres, não temos
visto políticas públicas de proteção tendo prioridade no orçamento público para
acessar aquelas mais vulneráveis e que precisam de acolhimento”.
Os dados da “Visível e Invisível: a Vitimização de
Mulheres no Brasil” serão encaminhados à 69ª sessão da Comissão sobre a
Condição da Mulher, que ocorre na sede das Nações Unidas, em Nova York, de 10 a
21 de março de 2025. O FBSP fará parte da delegação oficial brasileira e será
representado pela pesquisadora sênior Manoela Miklos. A pesquisa foi
encomendada junto ao Instituto Datafolha, com apoio da Uber, e ouviu 2.007
pessoas com mais de 16 anos, entre homens e mulheres, em 126 municípios
brasileiros, no período de 10 a 14 de fevereiro de 2025.
“A Uber tem a segurança como prioridade e apoiar
projetos como esse são parte essencial do nosso compromisso com as mulheres
brasileiras no combate à violência de gênero. Esses dados ajudam a promover um
debate qualificado, já que somente identificando os fatores que agravam a
violência contra a mulher é que é possível desenvolver ações para enfrentar
esse problema. É um trabalho crucial e que temos orgulho de apoiar pela
terceira vez consecutiva”, diz Araceli Almeida, Head de Operações de Segurança
da Uber no Brasil.
Principais Tipos de Violência
- Ofensas
verbais:
31,4% das mulheres relataram insultos, humilhações ou xingamentos, um
aumento de 8 pontos percentuais em relação a 2023. Isso representa cerca
de 17,7 milhões de brasileiras
- Agressão
física:
16,9% das mulheres sofreram batidas, tapas, empurrões ou chutes, a maior
prevalência registrada desde 2017. Aproximadamente 8,9 milhões de mulheres
foram vítimas desse tipo de violência
- Ameaças
de agressão:
16,1% das mulheres foram ameaçadas de sofrer algum tipo de agressão
física, totalizando cerca de 8,5 milhões de vítimas
- Stalking: 16,1% das mulheres foram
vítimas de perseguição, também representando cerca de 8,5 milhões de
brasileiras
- Abuso
sexual:
10,7% das mulheres sofreram abuso sexual ou foram forçadas a manter
relações sexuais contra sua vontade, afetando aproximadamente 5,3 milhões
de mulheres
Outros Tipos de Violência
- Lesão
por objeto atirado: 8,9% das mulheres sofreram lesão em
decorrência de um objeto que lhes foi atirado, representando cerca de 4,4
milhões de vítimas
- Espancamento
ou tentativa de estrangulamento: 7,8% das mulheres foram espancadas ou
sofreram tentativa de estrangulamento, totalizando aproximadamente 3,7
milhões de vítimas
- Ameaça
com faca ou arma de fogo: 6,4% das mulheres foram ameaçadas com faca
ou arma de fogo, afetando cerca de 3 milhões de brasileiras
- Divulgação
de fotos ou vídeos íntimos: 3,9% das mulheres tiveram fotos ou vídeos
íntimos divulgados na internet sem seu consentimento, impactando cerca de
1,5 milhão de mulheres
Violência com testemunhas
A pesquisa também revela que 91,8% das mulheres que
sofreram violência no último ano afirmaram que os episódios ocorreram na
presença de terceiros. Em 47,3% dos casos, quem presenciou foram amigos ou
conhecidos; em 27%, os filhos; e em 12,4%, outros parentes. De acordo com os
dados, os principais agressores são parceiros íntimos ou ex-parceiros, com 40%
das violências cometidas por cônjuges, companheiros ou namorados, e 26,8% por ex-cônjuges,
ex-companheiros ou ex-namorados; 57% das mulheres entrevistadas indicaram que a
violência mais grave ocorreu em sua residência, seguida pela rua, com 11,6% dos
relatos.
Perfil das Vítimas
- Faixa
etária:
27,5% das vítimas de violência no último ano tinham entre 25 e 34 anos e
23,4% entre 35 e 44 anos, totalizando 50,9% das vítimas com idade entre 25
e 44 anos
- Perfil
racial:
Comprovando a desigualdade racial nos números da violência, 64,2% das
mulheres vitimadas no último ano eram negras e 28,9% eram brancas
- Natureza
do município: 53,6% das vítimas residiam em cidades do interior, e 46,4% em
capitais ou região metropolitana
- Existência
de filhos: 71%
das mulheres vítimas tinham filhos
Atitudes das Vítimas
A principal atitude em relação à agressão mais
grave sofrida foi não fazer nada (47,4%). Outras atitudes incluem buscar ajuda
de um familiar (19,2%), procurar amigos (15,2%) e buscar ajuda na Delegacia
Especializada de Atendimento à Mulher (14,2%) ou em uma delegacia comum
(10,3%). Apenas 25,7% das mulheres que sofreram violência no último ano
recorreram a órgãos oficiais, enquanto 33,8% buscaram apoio com família e
amigos.
Ciclo da violência
A pesquisa reforça que os episódios mais graves de
violência não são fatos isolados, mas fazem parte de um amplo contexto de
abusos físicos e emocionais. As mulheres ouvidas pelo estudo relatam que, ao
longo da vida e no âmbito de relações íntimas, a conduta do agressor incluiu
desrespeito e menosprezo de forma reiterada (31,6%), intimidação (30,6%),
comportamentos como olhar mensagens no celular ou no computador da mulher sem
sua autorização (29,5%), impedir que a mulher trabalhasse ou estudasse fora
(17,1%) e até ameaças de suicídio por estarem descontentes com elas (16,4%).
Assédio
Mais de 29 milhões de brasileiras foram vítimas de
assédio no último ano, representando 49,6% das mulheres com 16 anos ou mais
entrevistadas. Os tipos mais comuns de assédio incluem:
- Cantadas
e comentários desrespeitosos na rua: 40,8% das mulheres
- Assédio
no ambiente de trabalho: 20,5% das mulheres
- Assédio
em transporte público: 15,3% das mulheres
- Agarradas
ou beijadas sem consentimento: 9% das mulheres.
Para acessar a pesquisa na íntegra, acesse o link
no site do FBSP.
Metodologia
“Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no
Brasil” é uma pesquisa quantitativa, elaborada pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP) e aplicada pelo Instituto Datafolha, com abordagem
pessoal em pontos de fluxo populacionais. As entrevistas foram realizadas
mediante a aplicação de questionário estruturado, elaborado pelo FBSP, com
cerca de 20 minutos de duração. A pesquisa teve um módulo específico de
autopreenchimento, com questões sobre vitimização aplicadas somente às
mulheres. As entrevistadas que aceitaram participar deste módulo responderam
sozinhas às questões diretamente no tablet, após orientação do(a)
pesquisador(a).
O universo da pesquisa é a população brasileira de
todas as classes sociais com 16 anos ou mais, incluindo regiões metropolitanas
e cidades do interior de todas as regiões do Brasil. As entrevistas foram
realizadas em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte, no período de 10
a 14 de fevereiro de 2025. A amostra total nacional foi de 2.007 entrevistas,
enquanto a amostra total de mulheres foi de 1.040 entrevistas, sendo que,
destas, 793 aceitaram responder ao módulo de autopreenchimento.
Ambas as amostras permitem a leitura dos resultados
no total do Brasil. A margem de erro para o total da amostra nacional é de 2,0
pontos para mais ou para menos. A margem de erro para o total da amostra de
mulheres participantes do autopreenchimento é de 3,0 pontos para mais ou para
menos.
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