Durante a gravidez, o excesso de glicose no sangue materno pode afetar o desenvolvimento do feto, além de aumentar o risco de complicações como abortamento, pré-eclâmpsia e partos prematuros. Mulheres com diabetes tanto tipo 1 como tipo 2 precisam tomar precauções e idealmente planejar a gestação para evitar riscos. Além disso, algumas mulheres podem desenvolver diabetes ao longo da gestação, que chamamos de Diabetes Gestacional
Mulheres que têm
diabetes tipo 1 ou tipo 2 e aquelas que desenvolvem diabetes gestacional têm de
tomar cuidados extras para ter uma gravidez tranquila e um bebê saudável. O
alerta é da coordenadora do Departamento de Diabetes na Gravidez da Sociedade
Brasileira de Diabetes, Lenita Zajdenverg, que acrescenta: “O diabetes prévio
não impede a gravidez, mas a mulher deve planejar a gravidez em momento que esteja
com bom controle do diabetes e da pressão arterial. O acompanhamento regular e
frequente pela equipe de saúde é necessário, pois as necessidades de ajustes no
tratamento para controlar a glicose, a pressão e o ganho de peso são essenciais
para evitar as complicações.” Além disso, ela lembra que o diabetes é
silencioso e muitas mulheres só ficam sabendo que têm aumento da glicose se
realiza os exames de pré-natal.
De acordo com
dados do Vigitel 2023, do Ministério da Saúde, no conjunto das 27 capitais, a
frequência do diagnóstico médico de diabetes foi de 10,2%, sendo maior entre as
mulheres (11,1%) do que entre os homens (9,1%). O que tem levado a esse alto
número de mulheres com diabetes é o aumento de peso da população em geral. Além
disso, lembra dra. Lenita, a gravidez em idades mais avançadas é outro fator
que faz com que a prevalência do diabetes atinja cada vez mais mulheres
grávidas. “Em anos anteriores, a maior parte das gestantes com diabetes prévio
tinha diagnóstico de diabetes tipo 1, que geralmente acomete pessoas mais
jovens. Atualmente, o maior número das mulheres com diabetes que engravida tem
Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2)”, diz a médica, que também é professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A
Sociedade Brasileira de Diabetes lembra que as gestantes em situação de
vulnerabilidade socioeconômica são especialmente afetadas pelo diabetes e suas
complicações. Por isso, é muito importante que o acesso aos serviços de saúde
deva ser garantido para todas as gestantes.
Revisão sistemática
e meta-análise de estudos publicados entre 2010 e 2020 trouxe dados novos para
o Atlas de Diabetes das regiões estudadas pela IDF (Federação Internacional de
Diabetes), mostrando que a prevalência de diabetes pré-existente em mulheres
grávidas dobrou durante o período 1990–2020. Os
fatores que podem contribuir para o aumento desta prevalência incluem, como
citado, aumento do número de mulheres que engravidam em idades avançadas e, por
outro lado, também aumento da prevalência de DM2 em pessoas mais jovens.
Em primeiro lugar,
de acordo com dra. Lenita, o planejamento da gravidez é muito importante para
evitar complicações. “Infelizmente, temos observado que muitas mulheres com DM2
desconhecem a importância e engravidam sem realizar este planejamento”, diz. “A
glicose e a hemoglobina glicada devem estar bem controladas antes mesmo de
engravidar”, explica a médica. Isso porque as malformações que podem afetar os
filhos de mães com diabetes ocorrem bem no início da gestação, nas primeiras
semanas de vida intrauterina, muitas vezes antes mesmo da mulher ter
conhecimento da gravidez “Quando a glicose está em níveis adequados, esse risco
é muito menor.” Peso adequado é outro ponto importante, pois a obesidade
aumenta também o risco de complicações.
Outro cuidado é
relacionado ao uso de medicamentos orais. O seu uso não deve ser interrompido,
mas é necessário a mulher procurar o médico bem no início da gravidez, pois ela
terá de trocar esses medicamentos pela insulina, que é mais segura e eficaz
para controlar o diabetes na gravidez. Além disso, a automonitorização da
glicose, ou seja, medir a sua própria glicemia por meio de fitas ou sensor de
glicose, passará a ser uma rotina fundamental na gestação. O bom controle da
glicose reduz os riscos de malformações, parto prematuro e hipoglicemia no
bebê, dentre outras complicações.
Dra. Lenita lembra
ainda que fazer exercícios físicos, se não estiverem contraindicados, e ter uma
alimentação saudável são fundamentais para garantir uma gravidez tranquila.
Diabetes
gestacional
Uma
outra condição que pode afetar a mulher grávida é a diabetes gestacional, que
surge durante a gestação em mulheres que não tinham diagnóstico da doença. As
complicações obstétricas, neste caso, variam desde parto prematuro até pré-eclâmpsia;
o bebê pode nascer grande e ter complicações como hipoglicemia e desconforto
respiratório. É importante salientar também que as mulheres que tiveram
diagnóstico de DMG têm maior risco de progredir para Diabetes Mellitus tipo 2 e
os seus filhos, maior chance de evoluírem com obesidade e diabetes ao longo da
vida.
Durante
a gravidez, para permitir o desenvolvimento do bebê, a mulher passa por
mudanças em seu equilíbrio hormonal. A placenta, por exemplo, é uma fonte
importante de hormônios que reduzem a ação da insulina, responsável pela
captação e utilização da glicose pelo corpo. O pâncreas, consequentemente,
aumenta a produção de insulina para compensar este quadro. Em algumas mulheres,
entretanto, este processo não ocorre e elas desenvolvem um quadro de diabetes
gestacional, caracterizado pelo aumento do nível de glicose no sangue. Há
algumas características que elevam o risco de a gestante ter essa complicação,
como história familiar de diabetes mellitus; já ter exames de sangue com
glicose alterada em algum momento antes da gravidez; excesso de peso antes ou
durante a gravidez; gravidez anterior com feto nascido com mais de 4 kg;
histórico de abortos espontâneos sem causa esclarecida; ter hipertensão
arterial; ter ou já ter tido em gestação anterior pré-eclâmpsia ou eclâmpsia;
ter síndrome dos ovários policísticos e usar corticoides.
O
diabetes gestacional pode ocorrer em qualquer mulher e não apresenta sintomas
identificáveis. Por isso, recomenda-se que todas as gestantes pesquisem a
glicemia de jejum no início da gestação e, aquelas que não têm diabetes
pré-existente, a partir da 24ª semana de gravidez (início do 6º mês) devem
realizar o exame da glicemia após estímulo da ingestão de glicose, o chamado
teste oral de tolerância à glicose. A base do tratamento do DMG é uma
alimentação saudável, atividade física e controle das glicemias capilares.
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