O ataque dos Estados Unidos à base
militar de Al Shayrat, perto de Homs, na data de ontem, no horário das 21h40
(hora de Brasília) e 4h40 do horário local, apresenta significados não apenas
de ordem militares, mas também políticos.
Dentre os primeiros, embora seja
ainda prematura qualquer conclusão mais contundente, chega-se a uma fase na
guerra da Síria na qual passa a ser uma hipótese a ser considerada a eventual alteração do quadro do
referido conflito, na medida em que a base atingida teria sido destruída, com
suas aeronaves, e de onde teriam partidos os ataques com gás sarin que
vitimaram populações civis no início da semana e, provavelmente, de onde
partiriam futuros ataques.
Embora a Síria, com apoio de sua
grande aliada Rússia, afirme que não cometeu ataques com armas químicas,
sabe-se que já o fez ao longo desta guerra que já dura praticamente seis anos.
Mais ainda, sabe-se que o espaço aéreo sírio é dominado pelas aviações síria e
russa, e por ninguém mais. Some-se a tal fato que os primeiros exames
necroscópicos das vítimas comprovam o uso de armas químicas contra tais
vítimas.
De outro lado, do ponto de vista
político, podemos vislumbrar os seguintes significados:
- Trump deixa claro que sua gestão adotará postura distinta em relação à administração Obama quanto ao uso de armas de destruição em massa na guerra da Síria;
- Trump enfrenta queda de popularidade e com o ataque de ontem reforça sua imagem perante seu eleitorado;
- O presidente norte-americano deverá enfrentar alguns questionamentos em vista de não ter consultado o Congresso americano;
- A ação foi também um recado para Síria, Irã, Coréia do Norte e qualquer país que venha – ou tenha intenção de – utilizar armas de destruição em massa, demonstrando a nova postura que os EUA adotarão e que se distancia de promessa de campanha de Trump, no sentido de reduzir o envolvimento norte-americano na guerra da Síria e buscar maior isolamento dos Estados Unidos no conflito.
- Rússia e China foram previamente avisados. Dentre as várias opções disponibilizadas pelo Pentágono ao presidente Trump, a escolha recaiu sobre a menos agressiva do ponto de vista militar, sem invasão do espaço aéreo sírio e sem enfrentamento com tropas ou aviões russos de combate.
- A ONU, mais uma vez, teve ressaltada sua fragilidade, na medida em que a ação unilateral norte-americana foi precedida de reunião do Conselho de Segurança, frustrada quanto à busca por uma solução conjunta relativa ao ataque com armas químicas que matou civis (incluindo crianças), no dia anterior. Há necessidade de reformulação das estruturas deliberativas das Nações Unidas, especialmente o Conselho de Segurança.
Finalmente, é preciso aguardar a
reação russa e síria no palco de operações, bem como se houve algum benefício
não apenas aos grupos combatentes seculares, mas também aos fundamentalistas
religiosos, como o chamado “Estado Islâmico”.
Flávio de Leão Bastos Pereira - especialista
em Diretos Humanos, coordenador e professor de Direito da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
Nenhum comentário:
Postar um comentário