Pesquisar no Blog

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Os significados da represália americana na Síria



O ataque dos Estados Unidos à base militar de Al Shayrat, perto de Homs, na data de ontem, no horário das 21h40 (hora de Brasília) e 4h40 do horário local, apresenta significados não apenas de ordem militares, mas também políticos.

Dentre os primeiros, embora seja ainda prematura qualquer conclusão mais contundente, chega-se a uma fase na guerra da Síria na qual passa a ser uma hipótese a ser considerada a eventual alteração do quadro do referido conflito, na medida em que a base atingida teria sido destruída, com suas aeronaves, e de onde teriam partidos os ataques com gás sarin que vitimaram populações civis no início da semana e, provavelmente, de onde partiriam futuros ataques.

Embora a Síria, com apoio de sua grande aliada Rússia, afirme que não cometeu ataques com armas químicas, sabe-se que já o fez ao longo desta guerra que já dura praticamente seis anos. Mais ainda, sabe-se que o espaço aéreo sírio é dominado pelas aviações síria e russa, e por ninguém mais. Some-se a tal fato que os primeiros exames necroscópicos das vítimas comprovam o uso de armas químicas contra tais vítimas.

De outro lado, do ponto de vista político, podemos vislumbrar os seguintes significados:

  1. Trump deixa claro que sua gestão adotará postura distinta em relação à administração Obama quanto ao uso de armas de destruição em massa na guerra da Síria;
  2. Trump enfrenta queda de popularidade e com o ataque de ontem reforça sua imagem perante seu eleitorado;
  3. O presidente norte-americano deverá enfrentar alguns questionamentos em vista de não ter consultado o Congresso americano;
  4. A ação foi também um recado para Síria, Irã, Coréia do Norte e qualquer país que venha – ou tenha intenção de – utilizar armas de destruição em massa, demonstrando a nova postura que os EUA adotarão e que se distancia de promessa de campanha de Trump, no sentido de reduzir o envolvimento norte-americano na guerra da Síria e buscar maior isolamento dos Estados Unidos no conflito.
  5. Rússia e China foram previamente avisados. Dentre as várias opções disponibilizadas pelo Pentágono ao presidente Trump, a escolha recaiu sobre a menos agressiva do ponto de vista militar, sem invasão do espaço aéreo sírio e sem enfrentamento com tropas ou aviões russos de combate.
  6. A ONU, mais uma vez, teve ressaltada sua fragilidade, na medida em que a ação unilateral norte-americana foi precedida de reunião do Conselho de Segurança, frustrada quanto à busca por uma solução conjunta relativa ao ataque com armas químicas que matou civis (incluindo crianças), no dia anterior. Há necessidade de reformulação das estruturas deliberativas das Nações Unidas, especialmente o Conselho de Segurança.

Finalmente, é preciso aguardar a reação russa e síria no palco de operações, bem como se houve algum benefício não apenas aos grupos combatentes seculares, mas também aos fundamentalistas religiosos, como o chamado “Estado Islâmico”.



Flávio de Leão Bastos Pereira - especialista em Diretos Humanos, coordenador e professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados