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segunda-feira, 10 de março de 2025

Downgrade em voos afeta 2% dos passageiros: entenda seus direitos e como se proteger

Casos como o de Ingrid Guimarães expõem prática silenciosa das companhias aéreas; 40% dos viajantes desconhecem seus direitos 

 

Recentemente, a atriz Ingrid Guimarães enfrentou uma situação constrangedora durante um voo da American Airlines entre Nova York e Rio de Janeiro. Sem aviso prévio, foi informada de que deveria ceder seu assento na classe premium economy a um passageiro da classe executiva devido a um suposto problema técnico. Ao recusar a realocação, foi ameaçada de nunca mais poder voar com a companhia e responsabilizada por um possível atraso no voo. 

O caso gerou debate sobre o downgrade, prática comum, mas pouco conhecida pelos passageiros, na qual um viajante é transferido para uma classe inferior àquela originalmente adquirida. Mas, afinal, o que caracteriza o downgrade? Ele é permitido? E quais são os direitos do passageiro nessa situação?
 

O que é downgrade em voos e por que acontece? 

Segundo Marcial Sá, advogado do Godke Advogados, mestre e doutorando em Direito Aeronáutico pela Universidade de Lisboa, há situações específicas em que a própria segurança do voo pode justificar o downgrade. "Se o comandante determinar que uma mudança de assento é necessária para equilíbrio de peso da aeronave ou acomodação de um passageiro com necessidades específicas, o downgrade pode ser aplicado. No entanto, a companhia tem o dever de oferecer uma compensação adequada", explica. 

Outra situação comum ocorre quando há overbooking, prática em que as companhias aéreas vendem mais bilhetes do que a capacidade da aeronave para otimizar a taxa de ocupação. Conforme dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), algumas empresas chegam a comercializar até 10% mais assentos do que a capacidade do voo, o que pode resultar na reacomodação de passageiros em classes inferiores.
 

Impacto do downgrade no passageiro 

Quando um passageiro opta por um assento premium, ele busca conforto e serviços diferenciados. A realocação forçada pode impactar não apenas o conforto físico, mas também a experiência de viagem como um todo. 

Rodrigo Alvim, advogado especializado em Direito dos Passageiros Aéreos, reforça que o downgrade ultrapassa a questão material. "O passageiro paga por um padrão de serviço e tem uma expectativa. Quando essa expectativa é frustrada, há um impacto emocional e psicológico. No caso de Ingrid Guimarães, além da mudança compulsória, houve uma abordagem coercitiva por parte da companhia, o que pode ser enquadrado como dano moral", pontua.
 

Direitos do passageiro e compensações previstas 

No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e a Resolução nº 400 da ANAC garantem direitos aos passageiros afetados por downgrade. Se a realocação for motivada por segurança, a compensação não é obrigatória. Entretanto, em casos como overbooking ou problemas operacionais, a companhia deve oferecer reparação.

As compensações incluem:

  • Restituição da diferença de valor entre a classe adquirida e a utilizada;
  • Compensação por danos morais, considerando desconforto e frustração do passageiro;
  • Reacomodação em voo futuro com upgrade ou benefícios extras, como milhas e vouchers.

No caso de Ingrid Guimarães, especialistas afirmam que a atriz tem base legal para buscar indenização. "A ameaça de banimento da companhia e a tentativa de constrangê-la publicamente tornam a situação ainda mais grave. Há espaço para uma ação judicial que reivindique tanto danos materiais quanto morais", reforça Alvim.
 

O que mostram as pesquisas sobre downgrade? 

Estudos da International Air Transport Association (IATA) indicam que cerca de 2% dos passageiros enfrentam downgrade em voos comerciais. Embora o percentual pareça pequeno, o impacto financeiro e emocional pode ser expressivo. Além disso, uma pesquisa conduzida pelo AirHelp, organização especializada em direitos dos passageiros aéreos, aponta que 40% dos passageiros desconhecem seus direitos, o que reforça a importância da informação sobre o tema. 

O caso de Ingrid Guimarães trouxe luz a uma prática que, muitas vezes, passa despercebida. Para evitar prejuízos, especialistas recomendam que passageiros conheçam seus direitos e busquem assistência sempre que forem alvo de downgrade injustificado.

 

Fontes: 

Marcial Sá - Advogado do Godke Advogados. Mestre e doutorando em Direito Aeronáutico pela Universidade de Lisboa (Portugal). 

Rodrigo Alvim - advogado especializado em Direito dos Passageiros Aéreos. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tendo realizado parte de sua graduação na Universitat de Barcelona. Integrou a Comissão de Direito do Consumidor da OAB/MG.


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