O setor de Seguros, outrora um bastião de estabilidade, está em plena metamorfose. As tradicionais bases de dados históricos e padrões previsíveis já não são suficientes para avaliar riscos e precificar apólices em um mundo cada vez mais complexo e imprevisível. A era da transformação digital chegou, e com ela, a necessidade de repensar estratégias e abraçar a inovação.
No Brasil (e no
mundo) as seguradoras enfrentam uma série de desafios: o aumento dos custos de
servir, a frequência crescente de eventos climáticos extremos, a demanda por
serviços rápidos e personalizados, e a crescente sofisticação dos riscos
cibernéticos. Esses fatores ameaçam a estabilidade do setor, exigindo uma
abordagem proativa e estratégica.
Nesse cenário, a
integração entre nuvem, análise de dados e Inteligência Artificial (IA) emerge
como um fator crítico para o sucesso. Assim como ocorreu com os demais players
do setor financeiro nos últimos anos, o setor de Seguros também enfrenta um
momento de consolidação, com aquisições de carteiras e saída de algumas
empresas do mercado brasileiro. No entanto, a falta de integração entre os
sistemas dessas companhias tem criado desafios operacionais significativos.
Historicamente,
seguradoras operaram com dados fragmentados em silos vinculados a produtos
específicos, dificultando a construção de uma visão unificada do cliente. Para
resolver essa questão, a nuvem surge como um habilitador essencial. Ao migrar
suas bases de dados para a nuvem e modernizar seus sistemas, as seguradoras
podem consolidar informações dispersas e criar uma estrutura integrada,
preparando o terreno para a aplicação de IA de maneira mais eficaz.
Atualmente, o uso
de IA no setor de Seguros ainda é incipiente devido à fragmentação dos dados e
a definição correta dos casos de uso que gerem valor ao negócio. Com
informações dispersas e pouco estruturadas, a IA tem dificuldade justamente em
gerar insights valiosos. Contudo, algumas iniciativas já começam a
despontar. Um exemplo foi o anúncio de uma grande organização do setor sobre o
uso de IA na redação de cláusulas contratuais. Além disso, a IA também tem sido
utilizada para otimizar processos internos e melhorar a eficiência operacional,
desde o atendimento ao cliente até a gestão de sinistros.
Uma vez
estabelecida a fonte única da verdade em nuvem, abre-se o caminho para análises
de dados verdadeiramente transformadoras. As seguradoras podem agora extrair insights
valiosos de seu patrimônio informacional, identificando padrões de
comportamento, tendências de sinistros e oportunidades de cross-selling
que permaneciam invisíveis quando os dados estavam fragmentados. Este novo
paradigma analítico permite avaliações de risco mais precisas, precificação
personalizada e, consequentemente, produtos mais alinhados às necessidades específicas
de cada perfil de cliente.
A integração de
plataformas tem sido uma demanda crescente no setor. Algumas empresas estão
apostando em soluções como Salesforce e ServiceNow, que funcionam como
plataformas de serviço (PaaS) para melhorar a gestão de processos e a
experiência do cliente. Essas ferramentas permitem uma visão mais ampla e
interconectada, garantindo que todas as etapas, do back-office ao
atendimento, funcionem de maneira mais fluída e eficiente.
Entretanto, um dos
principais desafios para a adoção massiva da IA nas seguradoras é a questão
cultural e organizacional. O setor é tradicionalmente avesso a riscos,
possuindo uma abordagem cautelosa na adoção de novas tecnologias,
principalmente quando envolvem riscos de "alucinações" da IA, que
poderiam prejudicar a reputação das empresas. Muitas seguradoras ainda adotam
uma postura conservadora, esperando que outras empresas testem e validem
soluções antes de implementá-las.
Para superar essa
barreira, é necessário um esforço de mudança de mentalidade dentro das
organizações. É fundamental adotar uma abordagem mais aberta à experimentação e
à inovação, permitindo testes controlados e ajustes conforme necessário. A
transformação digital das seguradoras depende tanto da evolução tecnológica
quanto da disposição das lideranças em abraçar um novo paradigma.
O setor de Seguros
está em um ponto de inflexão e o próximo passo passará pela modernização em
nuvem, dados e IA. Para que essas tecnologias tragam impactos reais, é
essencial que as empresas abandonem modelos fragmentados e apostem na
consolidação de dados e na automação inteligente. A jornada de transformação
pode ser complexa, mas as recompensas são significativas: maior eficiência
operacional, melhor experiência do cliente, maior capacidade de gestão de
riscos e um futuro mais resiliente.
Antonio Darcio Valerio Filho - Business Vice President da GFT Technologies no Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário