Apesar do “ibope” recente, a renda mínima universal
já foi muito discutida - e até formalizada legalmente no Brasil. Sancionada
pelo então presidente Lula em 2004, a Lei Nº 10.835 institui a renda básica de
cidadania a todos os brasileiros residentes e aos estrangeiros que residem há
pelo menos cinco anos no País, independente da sua situação socioeconômica.
Apesar de prevista pela Lei, a aplicação da renda mínima no Brasil é inviável
economicamente e seus efeitos sobre a sociedade são incertos e duvidosos.
Primeiramente, vale relembrar uma tradicional
expressão econômica: “não existe almoço grátis”, isto é, alguém deve arcar com
o ônus dessas transferências de renda. O texto da lei facilita essa questão,
deve o poder executivo definir o valor do benefício em estrita observância à
Lei de Responsabilidade Fiscal. Dado o contexto de crise fiscal e elevado
endividamento do governo federal, uma coisa é certa: a concessão do benefício
será acompanhada por um aumento da carga tributária, direta ou indiretamente.
Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o
brasileiro trabalha, em média, 42% do ano para pagar seus impostos -
acredita-se que nenhum trabalhador quer que essa razão aumente.
Além disso, dada a regressividade do nosso sistema
tributário, os mais ricos pagam relativamente menos impostos. Uma elevação dos
tributos afetaria basicamente os assalariados, tornando incerto o efeito da
renda mínima universal sobre a desigualdade social. Da mesma forma, como seria
a adaptação desse benefício às especificidades do Brasil? Como gerenciar a
concessão dos benefícios? Como minimizar a corrupção? O Bolsa Família, por
exemplo, apesar dos diversos efeitos positivos, é conhecido pelas dificuldades
de fiscalização quanto aos beneficiários e pelo enfrentamento do problema
somente no curto prazo.
Como observado no próprio Bolsa Família, existem
evidências significativas que programas de transferência de renda diminuem, em
média, a oferta de trabalho dos seus favorecidos. A aplicação da renda mínima
universal apresentou resultados nessa linha na Finlândia, programa implementado
entre 2017 e 2018 pela Kela - agência governamental finlandesa que administra vários
programas sociais. Apesar da melhoria no bem-estar causada pelo aumento da
renda, não se verificou efeito estatisticamente significativo na oferta de
trabalho e nos salários dos beneficiários do programa. Dessa forma, não foi
possível determinar qual o efeito total sobre a sociedade e o efeito prático da
renda básica universal.
Em linhas gerais, o efeito da renda mínima
universal na sociedade é incerto, mas o custo é certo. Nesse complicado momento
atual, o pagador de impostos brasileiros não pode se submeter a mais uma
diminuição na sua renda. O governo deve respeitar tanto as suas diretrizes
orçamentárias quanto os seus contribuintes, deve abandonar as políticas sociais
de curto prazo e enfocar projetos que ataquem as raízes do problema. Além
disso, dada a situação fiscal do país, a transferência contínua de uma renda
básica para os seus cidadãos mais necessitados é tão utópica quanto a
efetividade da legislação nacional.
Guilherme Marques Moura -
doutorando em Desenvolvimento Econômico (UFPR) e mestre em Ciências Econômicas
(UFMG), é professor da Escola de Negócios da Universidade Positivo (UP).