Para começar, o que é diversidade? Ela não é apenas
uma palavra que está na moda. Embora pareça simples de entender seu significado
– de acordo com o dicionário Michaelis, ela é “diferença” ou “conjunto que
apresenta características variadas” –, é o potencial impacto para a vida das
pessoas que devemos observar. Será que nossa sociedade aceita o diferente? O
que é “diferente”, afinal? Qual é a importância de um ambiente diverso? O mundo
dos negócios leva isso em conta? Deveria?
A
diversidade, muito mais que uma palavra, é um sentimento carregado de
delicadeza e de assuntos delicados que expõem as feridas da sociedade. Devemos,
portanto, continuar estimulando o debate. Só se tem a ganhar com isso.
De acordo
com o IBGE, dos 208 milhões de brasileiros, 54% são negros, 51,5% mulheres, 24%
são pessoas com deficiência (PCD) e cerca de 9% fazem parte da comunidade
LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais e
outras identidades de gênero e sexualidade, representadas pelo “+”). Somos
definitivamente diversos.
Ainda de
acordo com o IBGE, a população pobre do país é composta 78% por negros, que
representam apenas 25% da parte mais rica. As brasileiras trabalham em média
três horas a mais, para no final receber o equivalente a 76,5% dos rendimentos
de um homem. De acordo com levantamento da Catho, a diferença salarial entre
homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo supera 42%.
Um estudo
realizado pelo Instituto Ethos com 500 empresas nacionais identificou que
mulheres ocupavam 13,6% das vagas executivas e com remuneração 30% menor do que
a dos homens; 4,6% dos cargos executivos eram ocupados por negros e apenas 2%
dos funcionários eram pessoas com deficiência.
Já a
consultoria Santo Caos, com a pesquisa Demitindo Preconceitos constatou que 41%
dos profissionais LGBTI+ já sofreram discriminação no ambiente de trabalho e
que 38% das empresas têm restrições para a contratação de homossexuais. O
resultado direto disso é que mais da metade dos respondentes (53%) declararam
não falar abertamente sobre sua orientação sexual no trabalho.
O que as
estatísticas mostram é que existem pessoas ficando para trás apenas por serem
diferentes do que foi estabelecido há séculos como aceitável. Embora sejamos
diversos em muitos quesitos, os talentos não são distribuídos igualitariamente
na sociedade. E, focando no mundo empresarial, perdem as organizações que não
enxergam ou valorizam isso. Deixando um pouco mais claro, a diversidade é
extremamente benéfica para os negócios.
É o que diz
uma pesquisa da McKinsey realizada com mais de 1000 empresas. O estudo
encontrou uma correlação entre um melhor desempenho financeiro e o aumento da
diversidade dentro de uma empresa: as que consideram esse quesito no
recrutamento tendem a apresentar resultados financeiros 25% melhores – 15%
quando se trata da diversidade de gênero, e 35% quando ela é étnica.
Com um
ambiente diverso, as ideias também são diversas. A tendência é que os
funcionários compreendam suas empresas com mais facilidade, fazendo com que
sejam mais inovadores, resolvam problemas mais facilmente e pensem em soluções
fora da caixa. Então, por que não unir o útil ao agradável?
O mercado
ainda fecha a porta para o diferente, e, apesar de haver uma mudança nos
últimos anos, há muito espaço para um trabalho direcionado. O Hay Group
constatou que apenas 5% das empresas brasileiras procuram saber como os
funcionários percebem a diversidade no dia a dia de trabalho, número que salta
para 20% quando se trata de Estados Unidos e Europa. Ou seja, o trabalho por
aqui está só começando.
Também não
basta um quadro de funcionários diverso, pois o que vale mesmo é a interação, a
inclusão. Se funcionários de diferentes gêneros, raças e etnias não trabalham
juntos, os benefícios podem ser perdidos, e isso deve ser levado em conta na
hora de contratar, desenvolver e promover. Tampouco bastam discursos bonitos ou
ações pontuais. A aplicação da diversidade no ambiente corporativo precisa de
políticas internas para ser norteada e direcionada corretamente.
Termino com uma frase de Verna Myers, autora e
especialista no assunto: “diversidade é ser convidado para uma festa, inclusão
é ser chamado para dançar”. Dancemos!
José Carlos
Nascimento, diretor de RH da Sage Brasil