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terça-feira, 6 de março de 2018

Dia Internacional da Mulher: como aumentar a presença feminina em TI?



Na última Campus Party SP, que aconteceu entre os dias 02 e 05 de fevereiro, a hashtag #MeuLugarEmTI apresentou um debate sobre a presença de mulheres no mercado de tecnologia. O fato é que, apesar do segmento estar crescendo no Brasil e no mundo, ainda vemos poucas mulheres na área.

O headhunter Paulo Exel, diretor da Yoctoo, boutique de recrutamento especializada em TI, aborda o assunto na entrevista a seguir. O profissional fala sobre a falta de estímulo que as mulheres enfrentam desde à infância em relação à tecnologia, além do preconceito vivido por muitas em ambientes predominantemente masculinos. O especialista alerta ainda para a necessidade de levar a diversidade de gênero para dentro das empresas, como forma de ampliar pontos de vista. Confira.


Por que ainda vemos tão poucas mulheres no mercado de tecnologia?

Infelizmente, a falta de mulheres em TI ainda é uma consequência residual do preconceito vivido pela mulher na sociedade. É uma questão cultural e social. Desde pequenas, as meninas são expostas a atividades tidas como sendo “para mulheres” e não são incentivadas, ou tão pouco expostas, à tecnologia. Enquanto isso, os meninos recebem maior apoio e incentivo para manterem-se por perto do ambiente tecnológico. O interesse e a influência começam muito mais cedo por parte deles. Esse é um dos motivos, o de longo prazo, e certamente o que será mais difícil de resolver. Mas temos outros problemas agregados. O isolamento social, o cenário acadêmico e de mercado predominantemente de homens é outro fator que afasta as mulheres da área de tecnologia. A mulher dentro de um ambiente dominado pela presença masculina pode se sentir excluída, sofrer bullying e ser desmotivada a prosseguir com a carreira. Para mim, isso é um verdadeiro desperdício de talentos.


Quais são as maiores barreiras e dificuldades enfrentadas pelas mulheres que decidem ingressar na área?

Acho que a principal barreira, depois do isolamento sofrido na faculdade e nos cursos técnicos, é o próprio mercado de trabalho. Poucas empresas têm políticas de diversidade em suas equipes e, com uma oferta menor de mulheres que conseguem se formar na área, poucas conseguem concorrer de igual para igual em uma vaga de emprego. A presença predominantemente masculina, principalmente em áreas técnicas, é outro fator que afasta as mulheres. Felizmente, isso já tem mudado em cargos de liderança. Algumas empresas de tecnologia, impulsionado principalmente pelas grandes multinacionais, já possuem políticas corporativas sólidas de incentivo para atrair mais mulheres. 


Em quais aspectos o mercado sai perdendo com a falta de equilíbrio nas equipes?

Em todos os setores, e em todos os níveis hierárquicos, as empresas saem perdendo por não ter diversidade dentro das equipes. Quanto mais heterogênea for a  equipe, mais pontos de vista, experiências diferentes e formas de raciocínio irão contribuir para a solução de problemas e entregas específicas. Cada pessoa é única, mas de modo geral, as mulheres são mais orientadas para os detalhes, tem maior capacidade de concentração e e habilidades para gerenciar diversos assuntos ao mesmo tempo. Homens  por sua vez, tendem a ser mais racionais  e ter uma visão mais profunda. Ambas as características são essenciais, complementares, e a falta de diversidade tende a ser um problema.


E o mercado está se abrindo para mudar essa realidade? Quais as áreas mais receptivas para as mulheres?

Felizmente, sim! Estamos caminhando para a equidade de gênero tanto no âmbito social e, consequentemente, também dentro das empresas. Já vemos algumas iniciativas no mercado de tecnologia onde algumas empresas buscam ter uma diversidade maior na hora de escolher os candidatos. Alguns clientes, inclusive, solicitam que apresentemos um short list (documento que apresenta os candidatos potenciais para uma vaga) equilibrado e com diversidade de gêneros para participarem do processo seletivo. Ainda existem áreas técnicas onde a barreira é maior, mas esse cenário está mudando! Existe um movimento para tornar o mercado mais igual. Ainda não é intenso, mas já se pode perceber em áreas como liderança, gerenciamento de projetos e desenvolvimento. A área de programação é onde ainda vemos menos mulheres inseridas.


Como podemos trabalhar para modificar esse cenário no curto, médio e longo prazo?

No curto prazo, as empresas precisam ter políticas de diversidade de gênero mais definidas e colocar isso em prática de fato. No discurso, a maioria já tem. No médio prazo, elas precisam elaborar processos seletivos de trainee e estágio com políticas que envolvam mulheres. Recrutar para cargos de base de pirâmide e treinar o início da carreira é indispensável para mudar esse cenário no futuro. No longo prazo, não tem como fugir, precisamos mudar enquanto sociedade. É preciso incentivar as meninas desde cedo a ter contato e se interessarem por tecnologia e, educar nossas crianças e adolescentes para um mundo de equidade e respeito mútuo. O direito e a inclusão da mulher no mercado de trabalho é, antes de mais nada, uma questão social de respeito, valores e equidade. 


O que você recomenda para as meninas que querem se dedicar a uma carreira em tecnologia?

Recomendo que elas sejam resilientes, que tenham persistência para buscar a carreira que sonham, sem dar muita importância para as barreiras e obstáculos que encontrarão. Para desenvolver as habilidades técnicas e comportamentais exigidas pela profissão, minha recomendação é que conversem com as pessoas da área de tecnologia, se mantenham atualizadas, façam muita pesquisa de campo e busquem respirar tecnologia. Basicamente, esse seria o conselho que eu daria para qualquer profissional, independentemente da área de atuação. 






Paulo Exel - formado em Administração de Empresas, possui MBA executivo em Gestão de Negócios e tem certificação em coaching. Com mais de 10 anos de experiência no recrutamento especializado nas áreas de Tecnologia, Digital e Vendas, Exel é diretor da Yoctoo.


A falha da sociedade com as mulheres



A historiadora Michelle Perrot, em seu muito bem fundamentado livro “Minha história das mulheres”, descreve a existência obscura a que foram confinadas as mulheres antes de conhecerem o princípio de sua emancipação no curso das revoluções burguesa e industrial que dão forma à modernidade. Criaturas privadas de visibilidade e de direito de participar do debate sobre a vida comum e condenadas ao silêncio, por muito tempo tiveram a sua humanidade anulada. Nem mesmo a ciência e os novos saberes, na esteira das Luzes e da Ilustração, foram capazes de reconhecer a sua dignidade.

Tratadas como inferiores, as mulheres numa sociedade tradicional estavam condenadas a uma espécie de escravidão. Apesar de trabalharem desde sempre, elas não passavam de ajudantes dos maridos, submetidas à lógica patrimonial das relações e do mando. Não é por outro motivo que apareciam – e ainda aparecem em algumas situações! – como servidoras da espécie. Daí, talvez, as funções a elas associadas no contexto da vida comum, como a reza, o fazer benzeduras, a ligação com o mundo íntimo da religião e da magia e o afastamento da ação concreta, útil e utilitária que, no mundo moderno, se exerce para além da casa e do espaço privado, na vida pública das ruas. Isso nos ajuda a compreender o seu longo confinamento à vida doméstica, na realização de uma rotina que as consome dia após dia na dependência de outro.

As mulheres tendo sido incorporadas em massa ao mundo do trabalho e gradativamente à vida pública, a sua figura continuou associada à casa e aos afazeres domésticos, configurando um novo tipo de sofrimento, como é o da dupla jornada, que acomete sobretudo as pertencentes aos estratos inferiores da sociedade. Estas, muitas vezes, vivem a situação paradoxal de cuidarem da família de outras mulheres tornadas independentes para, depois, em uma segunda jornada, dedicarem-se à própria casa, aos maridos e filhos. Violência que passa despercebida, pois muitas vezes ocultada sob a figura de uma mulher independente e dotada de poder numa sociedade ainda predominante masculina. A dupla submissão de uma é a libertação da outra.  Mesmo que ao longo dos séculos XIX e XX, sob a lógica implacável da segunda revolução industrial e da urbanização.

Não bastasse, há a violência física e moral, resultante de uma história que reservou às mulheres um papel secundário em relação aos homens e fez de seus corpos objetos de satisfação e de prazer sexual. Essa situação está longe de ser superada e afeta indiscriminadamente todos os estratos sociais, conforme demonstram as denúncias de assédio sexual que nos chegam por meio das atrizes de Hollywood ou pelas trabalhadoras nos vagões lotados dos trens. 

Neste dia internacional da mulher é oportuno repensarmos a nossa condição e a oportunidade de esforços legislativos que cumpram a dupla função de proteger as mulheres e educar a sociedade. Em um momento em que os direitos fundamentais parecem estar sob ameaça, atuar na proteção da vida, da liberdade, da integridade física e moral das mulheres é tarefa necessária para a construção da boa sociedade. Quem não estiver firme ao lado das mulheres, está contra a humanidade!





Rogério Baptistini Mendes - doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -Unesp (2001); mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas -Unicamp (1995); e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É pesquisador nas áreas da Sociologia Brasileira, do Pensamento Político Brasileiro e do Estado e do Desenvolvimento no Brasil.


Dia Internacional da Mulher: entenda melhor o que é a medida protetiva e para quem serve



Brasil registra 8 casos de feminicídio por dia Medida pode ser estendida às crianças
#diainternacionaldamulher


Entre março de 2016 e março de 2017, o Brasil registrou pelo menos oito casos de feminicídio por dia, segundo os dados dos Ministérios Públicos Estaduais. Uma das formas de impedir esse tipo de violência é através da medida protetiva, solicitada em casos onde há agressão física contra a mulher, e todas as mulheres gozam dessa prerrogativa, independentemente de classe, etnia, orientação sexual, renda, nível educacional, idade, religião.
“Sempre no âmbito familiar deve-se preservar a saúde física, mental, o aperfeiçoamento moral, intelectual e social. Essas informações são partes inerentes da Lei Maria da Penha, n° 11.340, de 2006”, explica a Dra. Ivone Zeger, advogada especialista em Direito de Família e Sucessão (herança).
Dados do Conselho Nacional do Ministério Público apontam que o Brasil é o 5° lugar no mundo onde mais morrem mulheres pela simples condição de serem mulheres.
 

Para que serve? A medida protetiva serve para proteger a integridade física da vítima. É o juiz criminal quem concede essa proteção via solicitação de quem sofreu a agressão, e entre as principais medidas estão: suspensão do porte de armas do reclamado, afastamento do agressor do domicílio da vítima e distanciamento físico. Dra. Ivone ainda reforça que, quando a mulher entra com pedido de medida protetiva e ela é concedida, não há como voltar atrás, mesmo que haja arrependimento.
 

Bases da medida protetiva - destina-se a proteger a mulher no âmbito doméstico levando em conta o convívio íntimo de afeto entre vítima e agressor, ainda que não morem no mesmo teto (ex: namorados). Essa relação independe da orientação sexual da vítima, pois a Lei também se aplica à agressão praticada por uma mulher à sua companheira do mesmo sexo, por exemplo.
 
“Ressalto que se entende por ‘família’ o conjunto de pessoas unidas por afinidade, como cunhado e cunhada, padrasto e enteada, sogro e nora, sogra e genro, enfim, ou por laço consanguíneo como pai e filho, irmão e irmã, mãe e filha etc.”, diz ela.
 
Como ficam os filhos? É dimensionado pelo juiz de Direito de Família o que vai acontecer em relação aos filhos. “Se um pai, por exemplo, precisa pegar o filho mas não pode chegar perto da mãe, a solução é a vítima nomear uma terceira pessoa para entregar a criança ao pai num local determinado em dia de visita, por exemplo”, comenta. Embora isso não necessite constar no processo criminal em si, trata-se de uma forma para resolver tais casos.
“Vai competir ao Direito de Família durante os processos de divórcio ou separação a questão do tipo de guarda (compartilhada ou alternada) e como serão as visitas. As partes podem entrar em acordo entre si. Na falta de um acordo (processo judicial), o juiz irá estabelecer melhores dias e horários para visita do pai”, comenta a advogada, indicando que, após promulgação da Lei Maria da Penha, seu escritório registrou 50% a mais de pedidos de medida protetiva.
A medida protetiva pode ser estendida às crianças caso seja constatado que elas, além da mãe, também sofreram violência. E quem não cumpre a medida protetiva estará sujeito à prisão preventiva, conforme artigo 313 do Código de Processo Penal.
 
Homem também pode pedir medida protetiva contra mulher? “Sim, mas são casos mais raros e que não estão sob a égide da Lei Maria da Penha, ou seja, se o homem desistir da denúncia, o processo pode ser suspenso ou arquivado”, conta a advogada.
 






Perfil Dra. Ivone Zeger - Advogada, Graduada pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie/SP. É pós-graduada em Direito Constitucional na Universidade São Francisco/SP e em Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas/SP. Foi juíza do TIT (Tribunal de Impostos e Taxas do Estado do Estado de São Paulo). É membro efetivo da Comissão de Direito de Família da OAB, da Comissão de Direito de Família e Sucessões do IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo) e membro do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família). Especialista em Direito de Família e Sucessão (herança), há mais de 25 anos lida com questões relacionadas a essas áreas tendo publicado três importantes livros: “Família - Perguntas e Respostas”, “Herança - Perguntas e Respostas” e “Direito LGBTI - Perguntas e Respostas”, todos da Mescla Editorial.
www.facebook.com/IvoneZegerAdvogada

  


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