A atividade física
é considerada um dos grandes pilares da saúde. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomenda a prática regular de, pelo menos, 150 minutos semanais. A boa
notícia é que, segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), entre 2009 e 2021 houve um aumento de 22,2% para 31,3% no
número de mulheres que atingem essa recomendação, mas o índice ainda segue
abaixo do observado entre os homens.
Temos observado
nos últimos anos que cada vez mais as brasileiras têm praticado atividade
física de forma amadora, muitas vezes motivadas pelos benefícios físicos e
psicológicos. Modalidades como crossfit, corrida de rua e triathlon tiveram uma
ascensão importante nesse período. O cenário é muito positivo, mas o
contraponto é que muitas delas ainda evitam a prática por diferentes razões
sociais.
Vivemos em uma
sociedade que supervaloriza padrões de beleza e imagem corporal, o que faz com
que algumas mulheres se sintam desconfortáveis em determinados ambientes ou
modalidades. Há quem evite academias por estar acima do peso ou pelo fato de
não corresponder ao estereótipo estético de algumas práticas.
Indo além desse
cenário, vemos também que existem barreiras físicas que afastam mulheres do
exercício - como a incontinência urinária, condição que é definida como
qualquer perda involuntária de urina. Mais comum em mulheres do que em homens,
esse sintoma chega a atingir até 40% da população feminina, segundo dados da
Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP).
Fatores como
parto, excesso de peso e envelhecimento aumentam o risco, principalmente em
mulheres com mais de 40 anos. Mas, quando falamos da perda urinária associada à
atividade física, geralmente nos referimos a mulheres jovens, sem gestações
anteriores e com índice de massa corporal (IMC) adequado, ou seja, sem os
fatores de risco clássicos.
Nessas situações,
o impacto vem da própria prática esportiva: mulheres que praticam esportes de
alto impacto e alta intensidade têm até oito vezes mais chances de apresentar
perda urinária quando comparadas às sedentárias da mesma idade. Corrida, vôlei,
basquete, crossfit e esqui estão entre as modalidades de maior risco. Estudos
apontam que 25% das atletas amadoras de esportes de alto impacto apresentam
perda urinária. Isso pode ocorrer por alguma condição preexistente da paciente.
No entanto, mesmo em pacientes sem antecedentes prévios, o impacto da atividade
física pode desencadear os sintomas de perda urinária. Por isso, é interessante
que toda mulher que deseje praticar uma atividade física de alto impacto passe
por uma avaliação pélvica com um especialista.
Além disso, é
muito importante que os profissionais que lidam com praticantes de atividade
física, como médicos, educadores físicos, fisioterapeutas e nutricionistas,
estejam atentos para abordar esse tema de forma ativa, já que a maioria das
pacientes se sentem constrangida em falar sobre o assunto ou mesmo não têm
orientação sobre os perigos do esforço contínuo em atividades.
É fundamental
reforçar que perder urina pode ser comum, mas não é normal, e existem
tratamentos eficazes. Todas as mulheres com sintomas devem ser avaliadas por um
uroginecologista, que conduzirá o tratamento de acordo com cada caso. As opções
vão desde ajustes no treino, fisioterapia pélvica, uso de dispositivos durante
os exercícios e até, em alguns casos, cirurgia.
O que nunca deve
ser recomendado é a suspensão da atividade física, já que os benefícios do
esporte são inúmeros e insubstituíveis.
Luiza
Russo - ginecologista e uroginecologista pela Escola Paulista de Medicina,
pós-graduada em Endoscopia Ginecológica e médica assistente e doutoranda no
Setor de Uroginecologia e Cirurgia Vaginal da Escola Paulista de Medicina.
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