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sábado, 28 de junho de 2025

Dizer “não” é um ato de amor: pedagoga explica por que os limites são essenciais para o desenvolvimento infantil

 

Muito mais do que controlar o comportamento, os limites ensinam autorregulação, criam segurança emocional e formam a base para a tomada de decisões conscientes na adolescência e na vida adulta. Mariana Ruske, pedagoga e fundadora da Senses Montessori School, explica como dizer “não” com empatia pode transformar o futuro das crianças

 

Dar limites a uma criança é, na maioria das vezes, desconfortável. Mas, também é uma das atitudes mais amorosas que um adulto pode ter. “Limites não são sobre controle, e sim sobre conexão”, afirma Mariana Ruske, pedagoga e fundadora da Senses Montessori School. “Eles funcionam como trilhos seguros para que a criança explore o mundo, aprenda a lidar com as emoções e construa autonomia com afeto.”

Segundo Mariana, crianças nascem sem autorregulação emocional. Essa habilidade é construída com o tempo e com ajuda. “O cérebro responsável por essa função, o córtex pré-frontal, só amadurece por completo por volta dos 25 anos. Até lá, os adultos atuam como um ‘cérebro externo’, oferecendo estrutura e direção para que a criança desenvolva esse autocontrole”, explica.

Referências em parentalidade, concordam que os limites fazem parte do modelo de liderança parental autoritativa aquele que une firmeza com empatia. “É quando o adulto consegue dizer ‘não’ sem gritar, segurar o impulso de castigar e, ao mesmo tempo, se manter presente emocionalmente, guiando a criança com respeito”, reforça Mariana.
 

Limites hoje, equilíbrio amanhã

O impacto de limites claros e consistentes vai muito além da infância. Um estudo da Universidade de Oregon (2016) mostrou que adolescentes que cresceram com limites têm menos comportamentos de risco, maior capacidade de resistir a pressões e mais equilíbrio emocional.

“Quando a criança sabe o que esperar do mundo porque teve regras claras ela sente segurança. E isso repercute na vida adulta: são pessoas mais resilientes, com maior tolerância à frustração e menos necessidade de aprovação externa”, explica Mariana.

Como estabelecer limites com respeito e conexão?

  • Seja claro e constante: “Agora é hora de dormir, vamos apagar a luz juntos.” Regras instáveis confundem e geram ansiedade.
  • Dê justificativas simples: “Guardamos os brinquedos para manter o quarto organizado.” Isso ajuda a criança a entender o porquê.
  • Valide os sentimentos: “Sei que você queria mais um desenho, e agora é hora de descansar.” Isso mostra empatia e firmeza ao mesmo tempo.
  • Dê o exemplo: Se espera pontualidade, seja pontual. Crianças aprendem mais com o que veem do que com o que escutam.
  • Ofereça escolhas dentro do limite: “Você quer escovar os dentes antes ou depois do pijama?” Isso dá senso de autonomia sem perder a estrutura.
  • Não grite, não humilhe: Um tom calmo e firme transmite segurança e autoridade. “Se a criança está batendo, diga com firmeza: ‘Eu não vou deixar você bater’. Segure o gesto com delicadeza e presença.”


Limite é amor em ação

Segundo Mariana, o erro mais comum dos pais não é dar limites é se sentirem culpados por isso. “Estabelecer limites é dizer: ‘Te amo o suficiente para não te deixar à deriva’. É preparar a criança para lidar com frustrações, escolhas e emoções. Não é sobre dominar, mas sobre ajudar a crescer.”

“Queremos que as crianças pensem por si, mas dentro de um ambiente onde saibam que os adultos estão ali, presentes, para guiá-las. Isso é limite com afeto. Isso é amor”, finaliza.

 

Mariana Ruske - Pedagoga da Senses Montessori School, especializada no método Montessori e fundadora da Senses Montessori School, referência em bilinguismo e educação Montessori no Brasil. Mãe de dois meninos, sua trajetória inclui formações em engenharia e astrofísica antes de encontrar sua vocação na pedagogia, impulsionada pela paixão pelo cérebro humano e seu desenvolvimento. Palestrante e ativista, dedica-se a disseminar informações sobre a proteção infantil contra abuso e violência. Defende que a educação infantil é a base do futuro e vê na Pedagogia Científica de Maria Montessori a ferramenta ideal para um desenvolvimento integral.


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