Para o psicólogo
Danilo Suassuna, o espaço terapêutico deve ser centrado na dor do paciente, e
não na imagem pública do profissional
Uma preocupação crescente entre especialistas da
área de saúde mental tem ganhado destaque nos debates contemporâneos: o
protagonismo do terapeuta nas redes sociais, em detrimento da escuta e do
acolhimento necessários na área terapêutica. A crítica se intensifica diante do
uso excessivo de selfies e conteúdos que, segundo especialistas, colocam o
terapeuta em posição central, obscurecendo o que deveria ser o verdadeiro foco
do processo: o paciente.
A preocupação não é isolada. Um levantamento
realizado em 2024 pela Associação Brasileira de Psicologia (ABP) apontou que
67% dos profissionais da área acreditam que há exagero no conteúdo
autopromocional publicado por psicólogos nas redes sociais, e 54% afirmam que
já se sentiram desconfortáveis com práticas de colegas que divulgaram imagens
em situações que deveriam preservar a privacidade do paciente ou do ambiente
terapêutico. Danilo Suassuna, doutor em Psicologia pela
Pontifícia Universidade Católica de Goiás e diretor do Instituto Suassuna, alerta que o fenômeno pode comprometer a ética e a eficácia do
trabalho clínico. “A terapia não é sobre o terapeuta. Quando o profissional
busca visibilidade pessoal em vez de oferecer uma escuta qualificada, corre-se
o risco de transformar um espaço de cuidado em palco para vaidade”, afirma.
Segundo ele, o vínculo terapêutico se sustenta em escuta, empatia e
sigilo e não em curtidas ou seguidores.
Esse movimento de exposição, ainda que travestido
de “conteúdo educativo”, preocupa instituições de ensino e formação em
psicologia clínica. O Instituto Suassuna, que há anos promove especializações
na área e ações voltadas à ética na atuação profissional, tem debatido o tema
entre alunos e docentes. A questão principal, segundo Suassuna, é o limite
entre o uso legítimo das redes para difusão científica e a espetacularização da
dor alheia. “O paciente precisa ser visto em sua singularidade, e não como um
arquétipo para ilustrar frases de efeito ou cases de sucesso publicados sem
contexto. O risco é de uma atuação performática, que mascara a real
complexidade do cuidado psicológico”, explica.
O Código de Ética do Psicólogo, publicado pelo
Conselho Federal de Psicologia, reforça que o profissional deve zelar pela
dignidade do exercício e evitar qualquer forma de sensacionalismo, inclusive no
meio digital. A norma é clara ao afirmar que a divulgação de informações deve
respeitar os limites da ética e da técnica, sem indução a diagnósticos ou
exposição de casos.
Para Danilo Suassuna, a popularização da
psicoterapia é positiva e necessária, desde que venha acompanhada de
responsabilidade. “Divulgar o valor da saúde mental e tornar o atendimento
acessível são objetivos centrais da nossa atuação. Mas isso não se faz com
holofotes voltados para o terapeuta, e sim com foco no sofrimento do outro. A
escuta é sempre mais importante que a selfie”, conclui.
Danilo Suassuna - Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008), possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Autor do livro “Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico”. Professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e do Curso Lato-Sensu de Especialização em Gestalt-terapia do ITGT-GO. Coordenador do NEPEG Núcleo de estudos e pesquisa em gerontologia do ITGT. É membro do Conselho Editorial da Revista da Abordagem Gestáltica. Consultor Ad-hoc da revista Psicologia na Revista PUC-Minas (2011).
Para mais informações acesse o instagram: @danilosuassuna.
Instituto Suassuna realiza
Para mais informações, acesse o site ou através do instagram e canal no youtube.
Nenhum comentário:
Postar um comentário