Muito mais do que controlar o comportamento, os
limites ensinam autorregulação, criam segurança emocional e formam a base para
a tomada de decisões conscientes na adolescência e na vida adulta. Mariana
Ruske, pedagoga e fundadora da Senses Montessori School, explica como dizer
“não” com empatia pode transformar o futuro das crianças
Dar
limites a uma criança é, na maioria das vezes, desconfortável. Mas, também é
uma das atitudes mais amorosas que um adulto pode ter. “Limites não são sobre
controle, e sim sobre conexão”, afirma Mariana Ruske, pedagoga e fundadora da
Senses Montessori School. “Eles funcionam como trilhos seguros para que a
criança explore o mundo, aprenda a lidar com as emoções e construa autonomia
com afeto.”
Segundo
Mariana, crianças nascem sem autorregulação emocional. Essa habilidade é
construída com o tempo e com ajuda. “O cérebro responsável por essa função, o
córtex pré-frontal, só amadurece por completo por volta dos 25 anos. Até lá, os
adultos atuam como um ‘cérebro externo’, oferecendo estrutura e direção para
que a criança desenvolva esse autocontrole”, explica.
Referências
em parentalidade, concordam que os limites fazem parte do modelo de liderança
parental autoritativa aquele que une firmeza com empatia. “É quando o adulto
consegue dizer ‘não’ sem gritar, segurar o impulso de castigar e, ao mesmo
tempo, se manter presente emocionalmente, guiando a criança com respeito”, reforça
Mariana.
Limites hoje, equilíbrio amanhã
O impacto de limites claros e consistentes vai muito além da infância. Um
estudo da Universidade de Oregon (2016) mostrou que adolescentes que cresceram
com limites têm menos comportamentos de risco, maior capacidade de resistir a
pressões e mais equilíbrio emocional.
“Quando
a criança sabe o que esperar do mundo porque teve regras claras ela sente
segurança. E isso repercute na vida adulta: são pessoas mais resilientes, com
maior tolerância à frustração e menos necessidade de aprovação externa”,
explica Mariana.
Como estabelecer limites com respeito e conexão?
- Seja claro e constante:
“Agora é hora de dormir, vamos apagar a luz juntos.” Regras instáveis confundem
e geram ansiedade.
- Dê justificativas simples:
“Guardamos os brinquedos para manter o quarto organizado.” Isso ajuda a
criança a entender o porquê.
- Valide os sentimentos:
“Sei que você queria mais um desenho, e agora é hora de descansar.” Isso
mostra empatia e firmeza ao mesmo tempo.
- Dê o exemplo: Se
espera pontualidade, seja pontual. Crianças aprendem mais com o que veem
do que com o que escutam.
- Ofereça escolhas dentro do limite:
“Você quer escovar os dentes antes ou depois do pijama?” Isso dá senso de
autonomia sem perder a estrutura.
- Não grite, não humilhe: Um
tom calmo e firme transmite segurança e autoridade. “Se a criança está
batendo, diga com firmeza: ‘Eu não vou deixar você bater’. Segure o gesto
com delicadeza e presença.”
Limite é amor em ação
Segundo Mariana, o erro mais comum dos pais não é dar limites é se sentirem
culpados por isso. “Estabelecer limites é dizer: ‘Te amo o suficiente para não
te deixar à deriva’. É preparar a criança para lidar com frustrações, escolhas
e emoções. Não é sobre dominar, mas sobre ajudar a crescer.”
“Queremos
que as crianças pensem por si, mas dentro de um ambiente onde saibam que os
adultos estão ali, presentes, para guiá-las. Isso é limite com afeto. Isso é
amor”, finaliza.
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