O dia 26 de junho, data instituída pela
Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional de Combate às
Drogas, é um chamado à ação, à prevenção e ao cuidado com aqueles que enfrentam
os efeitos devastadores da dependência química.
Em meio aos desafios do tratamento
convencional, uma aliada poderosa ganha cada vez mais destaque: a Educação
Física. Muito além dos muros das academias e quadras esportivas, o exercício
físico vem sendo reconhecido pela ciência como um recurso terapêutico de alto
impacto, com resultados comprovados na recuperação de pessoas que sofrem com o
uso abusivo de álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas.
Estudos científicos recentes mostram que a
atividade física é capaz de reduzir significativamente sintomas como ansiedade,
depressão, insônia e impulsividade — fatores diretamente ligados às recaídas.
Uma meta-análise publicada em 2025 pela revista Applied Sciences apontou que
programas estruturados de exercício aeróbico, com duração mínima de 12 semanas,
provocam melhorias consistentes na saúde mental, no controle do desejo pelo uso
e até na cognição dos pacientes.
Já uma revisão publicada pela PLOS ONE, com
dados de 43 estudos e mais de 3 mil participantes, revelou que 75% dos
programas que incluíam atividades físicas tiveram resultados positivos na
redução ou abandono do consumo de substâncias. Os exercícios mais eficazes
incluíram caminhadas, corrida, musculação, yoga e tai chi, além do
condicionamento físico, promovem relaxamento, foco e sensação de bem-estar.
A explicação dos benefícios está nos efeitos
neurobiológicos do exercício. Praticar atividades físicas regula
neurotransmissores como a dopamina e a serotonina — os mesmos afetados pelo uso
de substâncias psicoativas. Ou seja, o exercício não apenas fortalece o corpo,
mas também ajuda a reconstruir o cérebro.
Do ponto de vista comportamental, a prática
esportiva cria uma nova rotina, ocupando o tempo antes consumido pelo uso,
promovendo a sociabilidade e reforçando o sentimento de pertencimento. E os
benefícios não se restringem ao tratamento: a Educação Física também é uma
poderosa ferramenta de prevenção. Não a toa, vem ganhando cada vez mais espaços
nas equipes multiprofissionais atuantes nos Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), centros de recuperação, clínicas e programas de reabilitação, o que é
um avanço significativo, mas ainda há um longo caminho a ser explorado.
Neste 26 de junho, mais do que reforçar
alertas, é tempo de propor soluções. Valorizar o movimento como parte da
recuperação é ampliar horizontes, devolver autonomia e criar oportunidades
reais de transformação. Porque, em muitos casos, movimentar o corpo pode ser o
primeiro passo para salvar uma vida.
Fernanda
Martins - profissional de Educação Física especialista em Saúde Pública com
foco em dependência química - CREF 081503-G/SP
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