Artistas ceramistas paraguaia e brasileira, respectivamente, executam a arte da cerâmica em escultura e pintura, algumas inéditas, apresentadas num diálogo acerca de possíveis paralelos sobre seus contextos de origem
A Gomide&Co tem o prazer de anunciar a mostra que inaugura seu calendário expositivo de 2025, uma exposição em duo de Julia Isidrez (Paraguai, 1967) e Maria Lira (Brasil, 1945). Com ensaios críticos inéditos de Sofia Gotti e Chus Martínez e expografia de Lucas Jimeno, a abertura será em 20 de março, às 18h, com visitação até 17 de maio de 2025.
Baseada em projeto apresentado pela galeria em Nova
York no ano passado, durante a feira Independent 20th Century, a exposição é uma
oportunidade para o público brasileiro ter contato com o diálogo entre as obras
dessas duas artistas visuais que têm muito em comum, apesar
das particularidades regionais e culturais que demarcam suas produções,
apresentando as afinidades que são perceptíveis entre seus contextos distantes.
Ambas as artistas trabalham a partir de antigas tradições indígenas ou
afro-indígenas, criando, nos dias atuais, obras que escapam do programa
tradicional da arte no Ocidente.
Atuam, também, como líderes comunitárias, contribuindo para a realidade sociocultural dos respectivos locais de origem. São, portanto, vozes que se encontram no âmbito de uma perspectiva do pensamento decolonial, no sentido de reconhecer a plena validade de suas práticas no panorama artístico atual e desafiar paradigmas há muito presentes no circuito oficial de arte.
Reunindo as cerâmicas de Isidrez e as pinturas e algumas cerâmicas de Lira (parte das obras apresentadas são inéditas), a exposição oferece uma abordagem sobre os paralelos possíveis entre seus contextos de origem.
De um lado, Itá, no Paraguai, um centro de produção ceramista de caráter próprio, com sustentação na experiência indígena, mais especificamente Guarani, povo que cultiva a tradição das artes do barro, inicialmente marcada pela produção de urnas funerárias e vasos votivos. Devido aos processos de invasão e colonização europeia, permeado por séculos de domínio cultural e religioso, a região tornou-se um ambiente propício para a reinvenção da identidade indígena e mestiza, possibilitando o desenvolvimento de uma prática artística comunitária marcada pela autoria individual – caso de Julia Isidrez, entre outras expoentes do trabalho em cerâmica no país.
De outro, Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, região brasileira marcada pelo processo histórico de exploração de suas riquezas minerais, bem como pelo processo de recuperação cultural promovido entre os anos 1960 e 80 e que resultaram na valorização da cerâmica tradicional afro-indígena praticada ali há séculos pelas populações então escravizadas e de etnias locais, como Xacriabá e Maxacali. A partir dos anos 1980, a região vivencia um processo de valorização cultural que passa também pela música em diálogo com a tradição oral – meio pelo qual Maria Lira despontou no cenário cultural, através do Coral Trovadores do Vale.
Julia Isidrez aprendeu cerâmica com sua mãe, Juana Marta Rodas (1925-2013), seguindo
uma tradição matrilinear da cerâmica Guarani que remonta ao período
pré-colombiano. Baseando-se em técnicas de suas antepassadas, as peças
esculpidas por Isidrez transcendem sua função com um vocabulário expressivo de
figuras de animais fantásticos oriundos do contexto local, a cidade de Itá,
próxima a Assunção e ao Lago de Ypacaraí. Expondo junto à sua mãe desde cedo, o
trabalho da artista foi apresentado em individuais e coletivas na América
Latina, América do Norte, Europa e Ásia.
No ano passado, obras suas estiveram em exibição junto às de sua mãe na 60ª
edição da Bienal de Veneza, curadoria de Adriano Pedrosa. E, a partir do final
de março deste ano, também estarão presentes na 14ª edição da Bienal do
Mercosul, curadoria geral de Raphael Fonseca.
A exposição na galeria é a segunda vez que Julia Isidrez é apresentada no Brasil – em especial, em São Paulo –, após uma exposição junto a Ediltrudes e Carolina Nogueira com curadoria de Aracy Amaral em 2017. “Essa exposição, a primeira em São Paulo desde 2017, nos oferece a oportunidade de aprofundar a reflexão sobre as propriedades estéticas das esculturas em exibição, com um claro conhecimento de seu papel mutável em diferentes contextos", comenta Sofia Gotti.
Nascida e radicada em Araçuaí, no Vale do
Jequitinhonha, Maria Lira também desenvolveu um
interesse precoce pelo trabalho com argila ao observar sua mãe, Odília Borges
Nogueira, fazendo presépios. Desde a década de 1980, a artista tem concentrado
sua prática na série ‘Meus bichos do sertão’, pinturas com pigmento mineral de
animais imaginários que habitam sua mente inventiva.
Maria Lira realizou sua primeira exposição em 1975
no Sesc Pompeia e, desde então, expôs em diversas instituições nacionais e
internacionais, na Bélgica, Holanda, Dinamarca, França e Estados Unidos. No
começo de 2024, o Instituto Tomie Ohtake apresentou a primeira individual de
caráter institucional dedicada à produção da artista: Roda dos bichos, com
curadoria de Paulo Miyada e curadoria assistente de Sabrina Fontenele. Ainda no
mesmo ano, a artista esteve presente com obras inéditas no 38º Panorama da Arte
Brasileira, curadoria de Germano Dushá e Thiago de Paula Souza e
curadoria-adjunta de Ariana Nuala.
Além disso, a Gomide&Co em parceria com a Act. Editora lançou sua primeira monografia, Maria Lira, com organização de Rodrigo Moura.
Ambas as artistas também se destacam pela sua
atuação no campo do ativismo. Enquanto Maria Lira é conhecida pela fundação do
Museu de Araçuaí, criado com o objetivo de abrigar um acervo de objetos e
documentos que registram a religiosidade e os usos, costumes e ofícios que
constituem a história da cidade, Julia Isidrez se destaca pela Casa Museo Arte
en Barro: Julia Isidrez e Juana Marta Rodas, espaço onde leciona para a
comunidade local, além de criar suas peças e preservar exemplares da produção
de sua mãe.
A exposição a ser apresentada pela Gomide&Co,
portanto, procura abordar o que existe de similar ou distinto entre essas duas
figuras como meio de difundir um entendimento mais amplo sobre as atuais
dinâmicas que demarcam a arte contemporânea na América Latina.
Sobre as artistas
Maria Lira Marques (Brasil, 1945) nasceu e vive em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG). É ceramista, pintora e pesquisadora autodidata, além de ativista e divulgadora dos artistas e artesãos do Vale do Jequitinhonha. Na década de 1970, conheceu Frei Chico (1942-2023), missionário holandês radicado no Brasil que se tornou seu grande amigo e parceiro profissional. Com ele, esteve à frente do Coral Trovadores do Vale, cujo repertório era formado pelo cancioneiro da região. Também fundaram o Museu de Araçuaí em 2010, criado com o objetivo de abrigar um acervo de objetos e documentos que registram a religiosidade e os usos, costumes e ofícios que constituem a história de Araçuaí.
Sua obra é caracterizada pela integração de uma
linguagem gráfica decorrente dos pigmentos naturais com a paisagem sertaneja.
Desde a década de 1990, dedica-se ao corpo de trabalho conhecido como ‘Meus
bichos do sertão’, pinturas de animais imaginários que compõem um vasto
bestiário formal. Realizou sua primeira exposição em 1975 no Sesc Pompeia, em
São Paulo e, desde então, expôs em diversas instituições nacionais e
internacionais na Bélgica, Holanda, Dinamarca, França e Estados Unidos. No
começo de 2024, o Instituto Tomie Ohtake apresentou a primeira individual de
caráter institucional dedicada à produção da artista, Roda dos bichos, com
curadoria de Paulo Miyada e curadoria assistente de Sabrina Fontenele. Ainda no
mesmo ano, a artista participou do 38º Panorama da Arte Brasileira, curadoria
de Germano Dushá e Thiago de Paula Souza e curadoria-adjunta de Ariana Nuala, e
teve sua primeira monografia, Maria Lira, organização de Rodrigo Moura,
publicada pela Gomide&Co em parceria com a Act. Editora.
Julia Isidrez (Paraguai, 1967) aprendeu com sua mãe, Juana Marta Rodas (1925-2013), a trabalhar com o barro, ofício ao qual se dedica profissionalmente. Tanto a mãe quanto a filha honram uma tradição centenária, cujas raízes remontam ao período pré-colombiano do Paraguai, seguindo técnicas de seus antepassados Guarani. Sua cidade natal, Itá, é um centro de produção ceramista de caráter próprio, com sustentação na experiência indígena, mais especificamente Guarani, povo que cultiva a tradição das artes do barro, caracterizada inicialmente pela produção de urnas funerárias e vasos votivos. As obras de Isidrez concentram-se numa padronagem de figuras que vão além dos cântaros e vasilhas, incorporando reproduções de animais característicos de sua região. Suas peças transformam e alteram os aspectos típicos dos animais retratados, trazendo todo um vocabulário visual que desvela a história da artista, muito motivada pela sua mãe, e que tanto influencia os ceramistas de sua região.
Expondo junto à sua mãe desde cedo, o trabalho de
Julia Isidrez foi apresentado em individuais e coletivas na América Latina,
América do Norte, Europa e Ásia. Obras suas estiveram em exibição junto às de
sua mãe na 60ª edição da Bienal de Veneza (2024), curadoria de Adriano Pedrosa,
e também estarão presentes na 14ª edição da Bienal do Mercosul (2025),
curadoria geral de Raphael Fonseca.
Serviço
Julia Isidrez e Maria Lira
Local: Avenida Paulista, 2644 - São Paulo-SP
Abertura: 20 de março de 2025 – 18h
Período expositivo: De 21 de março a 17 de maio
de 2025
Horários de visitação: segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, sábado das 11h às
17h
Entrada gratuita
http://gomide.co/
https://www.instagram.com/gomide.co/
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