Leda Catunda, MAM, 1998. Coleção MAM São Paulo.
Foto: Romulo Fialdini
Com curadoria de Cauê Alves e Gabriela Gotoda, a
exposição parte de uma proposta de diálogos entre obras de arte moderna e arte
contemporânea na coleção do MAM
O Museu de Arte Moderna de São Paulo,
em parceria com o SESI-SP, apresentará uma exposição inédita com obras do
acervo do MAM na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp, a partir de 26 de
março. A mostra MAM São Paulo: encontros entre o moderno e o
contemporâneo tem curadoria de Cauê Alves e
Gabriela Gotoda e reúne mais de 100 obras da coleção do
museu.
Entre
os destaques, estão obras já conhecidas do público, como Paisagem
(1948), de Tarsila do Amaral; Peixe na praia (1933), de Di Cavalcanti, e
Onça (1930), de Victor Brecheret, ao lado de outros modernistas -
Alfredo Volpi, Ismael Nery e Cândido Portinari. Grandes nomes da arte
contemporânea também terão trabalhos em exibição, é o caso de artistas como
Mira Schendel, Leonilson, Carmela Gross, Tunga, Leda Catunda e Cildo Meireles -
este último, com escultura doada recentemente ao acervo do museu. Além disso, a
mostra conta com obras de artistas internacionais, como León Ferrari e Raoul
Dufy.
“Para
o MAM São Paulo, essa parceria com o SESI-SP tem um significado especial, pois
reforça a importância de unir forças com outras instituições culturais. Essas
colaborações são uma oportunidade valiosa para ampliar a visibilidade do nosso
acervo e levar as obras do museu a públicos diversos, fortalecendo o diálogo
com a sociedade e reafirmando nosso compromisso com a democratização da arte”,
afirma Elizabeth Machado, presidente do MAM.
A
Gerente Executiva de Cultura do SESI-SP, Débora Viana, destaca a importância
para o SESI-SP na realização dessa exposição. “O SESI-SP tem como um de seus
compromissos contribuir com a sociedade civil, promovendo educação e cultura.
Essa parceria com o MAM é uma das formas de reforçar esse compromisso, com o
fomento do cenário cultural e artístico, a formação de novos públicos em artes,
a difusão e o acesso à cultura de forma gratuita. É uma oportunidade de
realizar na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp uma exposição que
suscitará reflexões e proporcionará para o público visitante acesso a um acervo
de suma importância para a história da arte brasileira e internacional”.
A
exposição trará outras obras recém incorporadas pelo museu, a maior parte vinda
de uma doação recebida em 2024. “Trata-se de um conjunto muito relevante, com
obras contemporâneas e modernistas que complementam o acervo do museu e são
fundamentais na exposição atual. Há inclusive trabalhos de artistas do
modernismo europeu de que o MAM ainda não tinha nenhuma obra, como Yves Klein e
Henry Moore”, explica Cauê Alves, curador-chefe do museu, responsável pela
exposição ao lado de Gabriela Gotoda.
Um
dos destaques nas doações recentes é a aquarela Vaso de Anêmona, do
francês Raoul Dufy, datada de 1937. Recebida a doação via legado, o museu
contratou uma perícia profissional para conduzir um processo técnico-científico
de confirmação de autoria. O trabalho foi conduzido pelos peritos Gustavo Raul
Perino, da Givoa Art Consulting, e Anauene Dias Soares, da Anauene Art Law.
A
obra foi identificada por uma historiadora francesa contratada pela
consultoria, que fez checagens na versão original física do catálogo raisonné
de Dufy, já que a versão online não continha a aquarela. O único outro exemplar
da obra de Dufy em coleções institucionais no Brasil está no Museu de Arte
Contemporânea da USP (MAC USP).
A
exposição também traz um esforço em parceria com o setor Educativo do MAM para
elucidar os conceitos de arte moderna e arte contemporânea. “São conceitos que
muitas vezes parecem sinônimos, e que podem ser difíceis de distinguir. Muitas
vezes se chega a um museu de arte contemporânea e ele tem obras de arte
moderna. Retomamos as questões mais comuns identificadas pela equipe do MAM
Educativo e vamos usar a oportunidade de trabalhá-las para dar ao público mais
autonomia na compreensão da história da arte”, diz Gabriela Gotoda,
co-curadora.
Encontros entre o moderno e contemporâneo
O
partido curatorial buscou explorar as diferenças e semelhanças entre a arte
moderna e a contemporânea, criando aproximações e diálogos entre essas duas
noções e os seus momentos na história da arte brasileira.
A
exposição pretende levar o público à reflexão sobre como as sobreposições de
assuntos, linguagens ou processos nas obras tipicamente caracterizadas como
modernas ou contemporâneas demonstram as semelhanças e diferenças entre elas, tensionando
a distância entre os dois termos — moderno e contemporâneo — de modo a
questionar definições precisas na história e nos dias atuais.
A
convergência e mistura existentes entre esses dois momentos históricos da
produção artística são notórias tanto em seus desdobramentos no tempo quanto na
produção crítica a respeito delas, e também estão refletidas no acervo do MAM.
No Brasil, em especial, a produção dita contemporânea pode ser considerada um
desdobramento de uma das últimas vanguardas modernistas, o construtivismo
pós-Guerra, característica que dificulta o estabelecimento de uma divisão ou
sequência cronológica entre as duas definições.
Se
o início da arte moderna supostamente se deu com as vanguardas europeias na
virada do século 20, a produção dos modernistas brasileiros se estendeu pela
maior parte daquele século, muitas vezes simultaneamente ao desenvolvimento de
novas linguagens e técnicas exploradas na produção mais contemporânea.
A
narrativa histórica sobre a arte moderna no Brasil por muito tempo ignorou a
produção de artistas hoje denominados populares, como José Antonio da Silva,
Iracema Arditi e Heitor dos Prazeres. Contemporâneos de grandes nomes do
modernismo brasileiro, esses artistas não são amplamente vinculados à arte
moderna justamente porque não são acomodados com facilidade nos partidos
estéticos e conceituais das vanguardas.
Partindo
desse reconhecimento, a exposição busca contribuir com a discussão sobre as
narrativas históricas da arte moderna da arte contemporânea, assim como a
percepção sobre a passagem do tempo entre elas.
Certamente
há diferenças históricas e teóricas que merecem ampla discussão, mas, afinal, é
possível traçar com precisão a fronteira visual e temporal entre a arte moderna
e a arte contemporânea? De que modo isso se relaciona com a percepção do tempo
histórico, e do tempo vivido? A exposição aponta para essas questões, não para
respondê-las definitivamente, mas sim para contribuir com outras formas de
abordagem, oferecendo ao público autonomia para se surpreender com as reflexões
despertadas pela arte, seja de qual tempo ela for.
Lista de artistas
A
exposição reúne obras de Alberto da Veiga Guignard, Aldo
Bonadei, Alex Cerveny, Alfredo
Volpi, Anna Maria Maiolino, Ana Maria
Tavares, André Komatsu, Antonio
Henrique Amaral, Antonio Manuel, Antonio Dias, Arthur Luiz
Piza, Artur Barrio, Beatriz
Milhazes, Candido Portinari, Carlos
Fajardo, Carlos Vergara, Carmela
Gross, Cildo Meireles, Claudio Tozzi,
Eduardo Berliner, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto de
Fiori, Evandro Carlos Jardim, Farnese de
Andrade, Ferreira Gullar, Flávio de
Carvalho, Flávio Shiró, Francisco
Rebolo, Franklin Cassaro, Geraldo de
Barros, Haruka Kojin, Heitor dos
Prazeres, Hélio Oiticica, Henry Moore,
Hércules Barsotti, Iberê Camargo,
Ione Saldanha, Iracema Arditi, Ismael Nery,
John Graz, José Antonio da Silva, José
Pancetti, Leda Catunda, León
Ferrari, Leonilson, Letícia
Parente, Lívio Abramo, Luiz
Sacilotto, Marcello Grassmann, Marco Paulo
Rolla, Mary Vieira, Mira
Schendel, Oswaldo Goeldi, Raoul Dufy,
Rodrigo Matheus, Rogério Canella, Rubens
Gerchman, Samson Flexor, Sandra
Cinto, Sérgio Camargo, Shirley
Paes Leme, Siron Franco, Tadeu
Jungle, Tarsila do Amaral, Thiago
Rocha Pitta, Tunga, Victor
Brecheret, Willys de Castro e Yves Klein.
Serviço:
MAM São Paulo: encontros entre o moderno e o contemporâneo
Abertura para convidados: 25 de março de 2025,
terça-feira, às 19h
Período expositivo: 26 de março a 08 de junho de 2025
Local: Centro Cultural Fiesp | Galeria de Arte
Endereço: Av. Paulista, 1313 - Bela Vista, São Paulo
Horários: de terça a domingo, das 10h às 20h
Entrada gratuita
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