O avanço na produção e consumo de alimentos ultraprocessados tem trazido à tona uma discussão relevante sobre seus impactos na saúde pública. Estes produtos, que vão desde refrigerantes até refeições prontas congeladas, caracterizam-se pela alta concentração de gorduras, açúcares, sal e uma variedade de aditivos químicos com o objetivo de melhorar sabor, aroma e aparência. O recente estudo publicado na revista BMJ Global Health destaca que o consumo excessivo desses alimentos está diretamente associado a um risco aumentado de mortalidade por diversas causas. Com mais de 100 mil participantes acompanhados ao longo de uma década, o estudo revelou que indivíduos com maior ingestão de ultraprocessados apresentaram um risco 20% maior de morte.
A importância deste achado reside não apenas no número de mortes prematuras associadas — estimadas em 57 mil por ano entre brasileiros de 30 a 69 anos — mas também no potencial preventivo que a redução no consumo desses alimentos poderia trazer. A pesquisa sugere que reverter o consumo para níveis de uma década atrás poderia evitar 21% dessas mortes, destacando a urgência de políticas focadas na promoção de uma alimentação mais saudável.
A médica Dra. Renata Domingues de Nóbrega, explica que ultraprocessados são definidos como formulações industriais feitas principalmente de substâncias derivadas de alimentos, muitas vezes modificadas quimicamente. Essa característica os torna pobres em nutrientes essenciais enquanto são ricos em calorias, promovendo um ciclo vicioso de baixa saciedade e consumo excessivo. O resultado é um aumento no risco de obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e até câncer, este último potencializado pela presença de carcinógenos em muitos desses produtos.
O fenômeno do
consumo excessivo de ultraprocessados está intimamente ligado à mudança no
perfil alimentar global, influenciado por um marketing agressivo e pela
conveniência desses produtos. No Brasil, o aumento significativo na ingestão
desses alimentos, de 12,6% para 18,4% entre 2002 e 2018, reflete uma tendência
preocupante que exige atenção. Esse padrão de consumo contribui para a
substituição de alimentos in natura ou minimamente processados, fundamentais
para uma dieta equilibrada, por opções menos saudáveis.
A recomendação do
Guia Alimentar para a População Brasileira é clara: os ultraprocessados devem
ser evitados. Não há nível seguro para o consumo desses produtos, que são
desenhados para induzir ao excesso através da hiperpalatabilidade — uma
estratégia da indústria para ativar os sistemas cerebrais de recompensa e
promover a dependência. Essa orientação é crucial não apenas para a prevenção
de doenças crônicas, mas também para combater o aumento alarmante de doenças
metabólicas e o câncer, que continuam a ser uma das principais causas de morte
no mundo.
Portanto, é
imperativo repensarmos o nosso padrão alimentar, privilegiando o consumo de
alimentos frescos e minimamente processados. Políticas públicas devem ser
direcionadas para educar a população sobre os riscos associados ao consumo de
ultraprocessados e incentivar práticas alimentares saudáveis. A adoção de uma
alimentação mais natural não apenas beneficia a saúde individual, mas tem o
potencial de impactar positivamente a saúde pública, reduzindo o ônus das
doenças crônicas na sociedade.
“Este momento
exige uma reflexão profunda sobre as escolhas alimentares e o modelo de
produção de alimentos. A mudança começa com a informação e a conscientização
sobre os impactos de nossas escolhas alimentares, tanto para nossa saúde quanto
para o ambiente. Com essa abordagem, podemos caminhar em direção a um futuro
mais saudável e sustentável.”. Finaliza a Dra. Renata Domingues de Nóbrega.
Dra. Renata Domingues de Nóbrega - CRM 139.421 - Médica especializada em Nutrologia.
Instagram: drarenata_domingues
Nenhum comentário:
Postar um comentário