Opinião
No domingo, 13 de agosto de 2023, os argentinos
foram às urnas para definir possíveis candidatos que disputarão a presidência
do país nas eleições de 22 de outubro. Das eleições primárias, chamadas de PASO
(Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), veio uma surpresa: a vitória
do candidato de extrema direita libertária Javier Milei, que obteve 30,11% dos
votos válidos. A vitória de Milei abalou a antiga tradição peronista,
deixando-a estremecida e silenciosa.
O Peronismo é um apelido genérico do “Movimento
Nacional Justicialista”, que tinha como principal característica o populismo e
o autoritarismo. Criado em 1945, foi liderado pelo militar e estadista Juan
Domingo Perón, que também defendia o anticapitalismo e buscava promover a
justiça social. Candidatos peronistas argentinos assumiram a presidência 11
vezes, sendo 3 delas pelo próprio Perón, o que exerceu forte influência na
política argentina desde então.
As primárias de agosto indicam que a tradição
iniciada por Perón talvez seja interrompida neste ano. Ainda que não sejam as
eleições oficiais, é importante questionar o impacto político e econômico que
esse resultado causa, visto as emergentes necessidades do país vizinho que
caminha para eleições gerais. A Argentina enfrenta uma crise descontrolada que
parece não ter fim, com uma inflação anual próxima a 115,6% e juros em torno de
118%, pesando não apenas na economia, mas também no bolso dos mais pobres.
Estima-se que hoje, cerca de 40% da população argentina seja composta por
miseráveis.
Após a vitória de Milei nas PASO, houve uma nova
desvalorização galopante do peso argentino. O ministro da economia, Sérgio
Massa – também candidato à Casa Rosada e terceiro colocado nas primárias –
ainda não se pronunciou a respeito. O silêncio de Massa e a vitória de Javier
Milei, muitas vezes chamado de anarcocapitalista, agravaram ainda mais a já
delicada situação do país.
Devido à inflação galopante, os preços aumentam sem
controle nas prateleiras dos mercados. Recentemente, houve altas em
combustíveis (12%), carnes (20%) e pão (15%), assim como a redução do poder
aquisitivo dos cidadãos. Há algum tempo, as consequências da falta de direção
econômica em Buenos Aires têm causado um forte impacto no dólar, que agora está
cotado em cerca de ARS 800 pesos argentinos por US$ 1 dólar.
Pode-se ponderar que a manifestação eleitoral das
primárias reflete o desespero da população em busca de uma nova organização
para o país, buscando uma mudança completa na direção política, com controle de
preços e inflação, já que há mais de 30 anos a Argentina vem sendo regida pela
mesma plataforma política, insistindo nas mesmas políticas econômicas
fracassadas. Agora, surge a dúvida: os argentinos estão finalmente acordando
para as implicações do retorno do peronismo kirchnerista ao país em 2019, ou
seria esse apenas mais um triste capítulo da imparável decadência argentina?
João Alfredo Lopes Nyegray - doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior e do Observatório Global da Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray
Victoria Rabel - aluna do curso de Comércio Exterior e membro do Observatório Global da Universidade Positivo (UP).
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