Quando bem executada, a flexibilidade se torna uma poderosa aliada para aumentar a satisfação dos funcionários, melhorar a produtividade e impulsionar o sucesso geral da empresa
O mercado de trabalho vem enfrentando mudanças
importantes, que exigem um novo olhar sobre o que até bem pouco tempo
funcionava. Trabalho remoto, híbrido e outros formatos resultam em ganhos para
colaboradores e gestão, mas esta tendência de flexibilização traz à tona novos
desafios para as empresas, dentre eles a comunicação, colaboração e
gerenciamento adequado do tempo.
Fábio Futigami, sócio e diretor de CRM e BI no Grupo Take
5, especialista em educação corporativa à distância, reflete sobre cada um
deles. O primeiro, um desafio comum a todos os tipos e tamanhos de negócios: a
comunicação. “A comunicação e a colaboração podem ser prejudicadas com as novas
formas de trabalho, se não houver uma dedicação para evitar que a distância
física seja uma barreira entre os membros da equipe”, diz.
Outro ponto de atenção é o gerenciamento do tempo. “Se
por um lado o trabalho remoto traz a ideia de maior produtividade, este ganho
pode não ser real, se as equipes não foram treinadas para gerenciar seus
horários com eficiência, aproveitando ao máximo a flexibilidade oferecida”,
analisa.
Em terceiro lugar, Futigami aponta o desafio da ausência
de controle e supervisão. Flexibilizar, segundo ele, não significa abrir mão do
essencial gerenciamento de equipes, em especial em um modelo ainda tão recente
nas empresas brasileiras. “Vale investir na liderança para gerenciar equipes
remotas de forma eficaz e garantir que a falta de supervisão física não afete o
desempenho dos colaboradores”, completa.
Por outro lado, quando as empresas de fato se preparam, e
capacitam seus times para um ambiente mais flexível de trabalho, essa
flexibilidade será realmente uma poderosa aliada para aumentar a satisfação dos
funcionários, melhorar a produtividade e impulsionar o sucesso geral da
empresa.
Ao vencer os desafios que a flexibilidade no trabalho
traz, Futigami enumera também os ganhos que as empresas e colaboradores terão,
começando pelo equilíbrio na vida pessoal e profissional. “Os funcionários
podem equilibrar suas responsabilidades pessoais e profissionais de maneira mais
eficiente. Com horários mais adaptáveis, os colaboradores têm maior liberdade
para cuidar de suas famílias, participar de atividades particulares e gerenciar
compromissos importantes sem sacrificar suas obrigações no trabalho”.
A melhora na produtividade é a segunda e tão sonhada
melhoria, já que muitos profissionais se sentem mais motivados e comprometidos
quando têm a liberdade de trabalhar em seus próprios ritmos e ambientes. “Menos
tempo gasto em deslocamentos e a capacidade de criar um cronograma personalizado
também podem aumentar a eficiência”, garante.
E por fim, a retenção e atração de talentos, uma vez que
empresas que hoje oferecem flexibilidade no trabalho são vistas como mais
atraentes para os candidatos e têm mais chance de manter seus talentos. Essa
vantagem competitiva pode ser crucial em um mercado de trabalho cada vez mais
disputado.
Flexibilização precisa ser acompanhada de cuidado com a
saúde mental dos times, aponta psicólogaAs empresas têm vivenciado muitas
transformações nos últimos anos, e, pela rapidez delas, muitas não conseguem
atentar com a brevidade necessária para um desafio crescente, e que não pode
ser negligenciado pelos líderes, que é a saúde mental de seus times.
As novas formas de trabalho parecem muito atrativas, e em
geral estão atreladas ao discurso de maior qualidade de vida e felicidade no
trabalho. Mas na prática é necessário ter um olhar muito mais profundo sobre a
realidade enfrentada no mundo inteiro, como alerta a psicóloga Lorena Soares,
CEO de uma startup que leva programas de bem-estar emocional para o ambiente
corporativo, a Amar.elo Saúde Mental.
“O transtorno depressivo é a segunda causa da perda de
dias de trabalho no mundo, segundo a OMS. Estima-se que pelo menos 10% da
população mundial sofra de algum transtorno mental. E até 2030, o custo global
desses transtornos pode chegar a US$ 6 trilhões. Então, a discussão sobre
flexibilidade no trabalho é necessária, sim, mas junto com ela é
importante que a saúde emocional nas empresas (que podem inclusive estar
funcionando dentro das casas dos colaboradores) seja uma pauta conjunta”,
argumenta.
As doenças mentais surgem devido a uma somatória de
fatores como estresse, ansiedade, preocupação, medo e alta pressão. E tudo isso
pode acontecer, mesmo em empresas mais flexíveis. Lorena Soares diz que é
necessário que as organizações tenham um olhar de atenção com os profissionais,
implementando políticas internas ligadas à saúde mental do colaborador e
criando um ambiente psicologicamente seguro, que surge como uma solução para
combater a psicofobia, ou seja, o preconceito que se tem contra pessoas que
sofrem algum transtorno ou adoecimento mental.
A profissional afirma, ainda, que os últimos anos,
marcados por alguns passos de flexibilização, são também os que apresentam mais
casos de Síndrome de Burnout e, consequentemente, mais ações trabalhistas
motivadas por causa da doença. “Entre 2020 e 2022, houve um aumento de mais de
72% nas ações trabalhistas motivadas por Burnout, e de mais de 30% nos
afastamentos causados por transtornos mentais”, aponta.
Como forma de alterar este quadro ou se prevenir dele,
Lorena aponta a necessidade de políticas específicas de prevenção e tratamento,
baseadas em três pilares: educação, com programas e eventos de educação e conscientização;
análise emocional da organização e cuidado através da psicoterapia on-line.
“O mais importante é saber que as ações de flexibilidade
nas empresas vão depender da cultura e do serviço que a empresa oferece. Em
determinados perfis institucionais, como algumas indústrias, por exemplo, podem
não caber certas modificações, mas sim outros ajustes na forma de trabalho
podem ser mais adequados. De tudo isso, o que se tem que enxergar é que é
preciso ter um olhar individual para identificar o que é melhor para cada uma”,
complementa.
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