Pouca gente sabe, mas, em se tratando do coração, além de
exames e consultas de rotina, a saúde bucal também precisa ser cuidada. Esse é
um dos focos do Dia Nacional da Saúde Bucal, celebrado no dia 25 de outubro.
A boca é um dos locais do corpo humano com maior
concentração de bactérias. E, por “concentração”, entenda que se trata de mais
de 50 bilhões de bactérias diferentes, que aderem à superfície dos dentes, em
próteses, na gengiva e na mucosa, formando o que chamamos de biofilme, que é
uma espécie de película protetora para comunidades microbianas viverem afixadas
em superfícies. O problema é quando essas bactérias chegam ao sangue.
Mas como? Por causa de um fenômeno chamado bacteremia. Se
existe acúmulo de bactérias na boca, elas podem facilmente cair na corrente
sanguínea durante um procedimento cirúrgico dental ou mesmo por meio de lesões
de gengivite ou periodontite. Se isso ocorre, as bactérias da boca podem
rapidamente chegar ao coração, se instalarem em uma válvula e gerarem uma
endocardite infecciosa. Aqui, vale mencionar outros fatores que colaboram para
o risco de adesão dos agentes infecciosos à válvula cardíaca: administração de
drogas intravenosas, doença valvar prévia e válvulas cardíacas mecânicas.
Outra situação importante é que, no caso de gengivite, a
inflamação das gengivas pode gerar proteínas que lesionam o tecido cardíaco e
formam placas de gordura coronária. Mais um fator de risco para o coração.
As doenças cardiovasculares são as principais causas de
óbitos no Brasil atualmente – além de serem também as primeiras nesse ranking
em todo o mundo. Por isso, é essencial que as pessoas mantenham uma rotina de
consultas e exames, sem deixarem de incluir cuidados com a higiene bucal nessa
rotina – inclusive se forem portadoras de dispositivos mecânicos no coração,
como válvulas, marca-passos, desfribiladores ou outros cateteres, aonde as
bactérias também chegam.
Por tudo isso, estou aqui hoje, como cardiologista, para
dizer: cuidem bem da sua saúde bucal. Atenção para sintomas como gengivas
inchadas, doloridas ou avermelhadas, sangramentos, amolecimento de dentes
permanentes e até mau hálito – todos eles podem indicar gengivite ou
periodontite. Embora esses nomes rimem com endocardite, não queremos ter que
conectar uma coisa à outra de nenhuma outra forma, principalmente no que se refere
à saúde do seu coração.
Mantenha hábitos frequentes de higiene dental e considere
que a saúde humana se baseia em tantas conexões que nem imaginamos, mas que
podem virar casos de emergência de uma hora para a outra.
Rafaela Penalva - cardiologista e professora do curso de Medicina
da Universidade Santo Amaro – Unisa.
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