A revolução digital está impactando em muitos aspectos a realidade humana, desde a economia, ciência e educação à saúde, sustentabilidade, governança, segurança e estilos de vida. Atualmente, a hiperconexão entre os atores, devido ao uso intenso de tecnologias digitais, como dados, inteligência artificial e automações de processos, está definitivamente transformando as instituições, modelos de negócio e as relações humanas na sociedade como um todo. Resultado disso é o surgimento de sistemas com outros arranjos e ecossistemas produtivos emergindo, impulsionados pela grande demanda da sociedade por produtos e serviços inovadores.
Suas consequências sobre a produtividade, o consumo, o emprego, a desigualdade
e outros determinantes do bem-estar social dependerão da formulação e
implementação de políticas públicas para a gestão desta transformação
tecnológica da sociedade. Governos, assim como empresas e trabalhadores,
precisam de estratégias eficientes, coerentes e abrangentes para aproveitar as
oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias em áreas essenciais como
desenvolvimento humano, geração de trabalho e regulamentação dos mercados.
Diferentemente das revoluções industriais anteriores, as mudanças trazidas pela
digitalização estão acontecendo em uma velocidade maior, reduzindo o tempo de
resposta disponível para lidar com os novos desafios impostos. O sucesso desta
resposta irá determinar a capacidade do país na obtenção de ganhos de
produtividade, criação de empregos e crescimento de modo inclusivo, sustentável
e igualitário, resultando em acréscimos na qualidade de vida dos cidadãos. São
inegáveis os incrementos obtidos no bem-estar social em países avançados, ou
seja, aqueles que aproveitaram o progresso tecnológico para acréscimo da
expectativa de vida, produtividade, renda per capita e conforto de sua
população, por meio da adoção de políticas públicas que promoveram rapidamente
a adaptação aos novos modelos produtivos e sociais advindos do uso de
tecnologias.
Porém, ainda não há nada pré-determinado sobre os efeitos dessa revolução. Por
isso, apenas as nações que souberem gerenciar este processo no sentido de
incrementar a eficiência de suas empresas, promover a igualdade de seus
cidadãos por meio da distribuição de renda e riqueza, gerar empreendimentos que
operem as novas tecnologias, aproximando-as do dia a dia das pessoas, fomentar
empregos de qualidade e obter maior eficiência na prestação de serviços
públicos terão sucesso em melhorar o bem-estar de seus cidadãos. No outro
extremo, países que não estiverem capacitados a gerenciar o processo terão que
conviver com vários problemas como o aumento do desemprego, incremento da
desigualdade entre seus cidadãos, baixa competitividade de seus produtos e
dependência tecnológica.
Políticas públicas desenhadas para aproveitar a revolução digital devem
fortalecer seus efeitos positivos de forma abrangente, compreendendo as
diferentes necessidades dos cidadãos, desde os mais vulneráveis aos estáveis,
como também trabalhadores e autônomos, ampliando a promoção do bem-estar social
e qualidade de vida.
Deve-se promover a eficiência e equidade no mercado de trabalho, fortalecer a
educação inclusiva e de qualidade, adaptada às novas realidades, considerando a
aprendizagem ao longo da vida. Também é necessário ampliar e incentivar a
participação dos cidadãos nas tomadas de decisões sobre políticas públicas e
cocriação de serviços públicos, apoiando o uso crescente e coerente de novas
tecnologias, distribuindo a toda a população seus benefícios e mitigando seus
impactos negativos. Isso deve ser feito de forma que garanta que não haverá a
redução da concorrência nos mercados, o ataque ao direito à privacidade ou uma
concentração excessiva de renda em determinada camada da sociedade, além de
promover a transparência dos agentes públicos.
Outro ponto de vista é sobre a inovação entregando cidadania – entregue pelo
governo por meio da prestação do serviço público. A tecnologia pode trazer
novas formas de inovação social e reduzir barreiras que existiam antes. Algumas
dessas oportunidades no serviço público constituem-se em melhor acesso à
informação, melhor interação entre os cidadãos e o Estado ou novas formas de
engajamento e participação. Essa combinação entre inovação social e engajamento
do cidadão é uma tendência emergente em políticas públicas.
O design de forma cocriada de serviços públicos é um caminho para conseguir a
interação e troca entre diferentes atores e, ao mesmo tempo, melhorar a
qualidade de forma personalizada. A cocriação é importante para a inovação no
setor público porque ajuda o governo a entregar novos serviços que se ajustam às
necessidades dos cidadãos. Assim é possível mudar fundamentalmente as relações,
posições e regras entre os atores, por meio de um processo aberto de
participação, intercâmbio e colaboração com as partes interessadas, incluindo
os usuários finais dos serviços.
O governo deve adquirir capacidades para pesquisa e design de soluções e
melhorar sua capacidade de comunicação com os cidadãos, trabalhando seu
engajamento e participação. Dessa forma, as novas tecnologias se transformam em
alavancas para o aperfeiçoamento da democracia e melhoria da confiança dos
cidadãos com relação aos agentes públicos, propiciando um ambiente mais
colaborativo entre estes atores e a entrega de cidadania com mais qualidade.
Essencialmente, os formuladores de políticas públicas devem considerar os
impactos da revolução digital na sociedade, entender seus efeitos na população
e nas empresas e atuar estrategicamente para ampliar seus efeitos positivos e
equalizar as oportunidades entre os vários segmentos de cidadãos. Também é crucial
equilibrar os impactos negativos, criando condições para que o progresso
tecnológico possa ser transformado em bem-estar social e acréscimos na
qualidade de vida. Caso contrário, a revolução digital pode gerar ou ampliar
vários problemas sociais como desemprego ou acumulação desigual de renda.
As políticas públicas devem promover a inclusão dos cidadãos na era digital,
ampliar as oportunidades para os cidadãos e as empresas se adaptarem aos
desafios gerados pela adoção das novas tecnologias, seja por meio de
investimentos governamentais em áreas-chave, como educação, incentivos à
criação de novas e modernas empresas ou pelo uso das novas tecnologias digitais
nos processos do governo. Assim, é possível prestar o serviço público de forma
mais eficiente e confiável, eliminando barreiras ao desenvolvimento econômico e
exercício da democracia.
Cadu Pereira - Head de Inovação
para Governos na Stefanini Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário