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sábado, 28 de maio de 2022

OPIOIDE: AMIGO OU INIMIGO?

Opioides vêm sendo usados como analgésicos há milênios. São as medicações de escolha para o tratamento da dor aguda moderada à intensa e da dor relacionada ao câncer. Embora seu papel no manejo da dor crônica não relacionada ao câncer seja controverso, há evidências crescentes de seu benefício em certas populações, mesmo com a possibilidade de induzirmos dependência nos usuários desses fármacos.

Historicamente, o Brasil sofre com o acesso limitado a opioides prescritos, juntamente com muitas outras classes de medicamentos. Um levantamento recente solicitado à ANVISA mostra aumento de 465% do número de opioides vendidos em farmácias credenciadas no Brasil no período 2009 a 2015. O Brasil é um país muito restritivo para a prescrição de opioides, e o medo do vício relacionado ao seu uso prejudica o tratamento da dor, sobretudo dos pacientes com câncer onde tal fármaco é padrão ouro.

A crise relacionada ao uso abusivo de opioides que assola os Estados Unidos, Canadá e Europa começa a trazer preocupações sobre as possibilidades de o Brasil ser atingido pela crise. E a mídia brasileira passa a discutir o assunto. Felizmente ainda nos encontramos em uma situação confortável, embora preocupante. Mas precisamos ver os dois lados da moeda.

Além da codeína, que teve um aumento 5 vezes maior no número de vendas no período 2009 a 2015, o fentanil e a oxicodona também registraram crescimento no número de prescrições, refletindo uma mudança notável no uso desses opioides, que são mais potentes.

Ainda assim, o Brasil apresenta uma prevalência relativamente baixa de uso de opioides no tratamento da dor, mesmo em pacientes com indicação precisa desses fármacos, como é o caso dos pacientes com câncer.

A forma mais adequada de prevenirmos os problemas relacionados ao uso indiscriminado de opioides é a identificação correta do paciente, o diagnóstico correto da dor e o tratamento adequado. O uso do opioide requer avaliação abrangente da dor e as informações obtidas da história e exame físico devem ser utilizadas para um plano de tratamento seguro. O medo do vício se justifica, porém não deve ser motivo para não se prescrever opioides em pacientes com dor e vício, pois a dor pode se tornar um gatilho para a busca do opioide.

O estigma existe e ele pode levar ao medo e ao isolamento social, impedindo os indivíduos de procurarem tratamento e/ou ajuda, contribuindo para a menor qualidade dos cuidados que tais indivíduos recebem.

A proposta é desenvolver uma força de trabalho para prevenir, tratar e recuperar pacientes com transtorno de uso de substâncias (TUS), promovendo conhecimento e competência sobre TUS para profissionais de saúde e pesquisadores, além de buscar maior apoio público às políticas de saúde e aumentar a conscientização.

  

Dra. Silvia Tahamtani - médica especializada em Dor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), tem formação em cuidados paliativos e faz parte do comitê de dor oncológica da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor (SBED).

 

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