Intitulado
“Reimagining our futures together: A new social contract for education”, um
estudo recente da Unesco é categórico logo nas primeiras páginas: “Nossa
humanidade e Planeta Terra estão sob ameaça”. O texto ainda segue com algo
óbvio aos nossos olhos, porém necessário de ser registrado: “A pandemia apenas
provou nossa fragilidade e nossa falta de interconexão”.
O
documento em questão destaca quão crucial é expandir as oportunidades
educacionais, bem como o estabelecimento de um novo Contrato Social que
beneficie todas as crianças e os jovens. O protagonismo da Unesco na promoção
de uma educação de qualidade para todos não é de hoje. Não por acaso, o Dia
Mundial da Educação – celebrado globalmente em 28 de abril – só foi instituído
após a realização do Fórum Mundial da Educação, que aconteceu no Senegal, em
2000.
Nós,
profissionais dessa área, temos sempre que pensar à frente. Como prever nossa
realidade em 2050, considerando que temos um mundo cheio de desigualdades a
serem corrigidas? Esse documento da instituição, preparado por uma comissão
chefiada pela presidente da Etiópia, Sahle-Work Zewde, propõe a elaboração
desse novo Contrato Social, mencionado anteriormente. Com isso, a sociedade
pode atuar por benefícios comuns, como o acesso à educação de qualidade por
toda a vida e fortalecimento do ensino como um bem comum.
Mais
do que uma meta cravada na pedra, o relatório funciona como um convite para
pensar e não necessariamente um projeto. Há inúmeros pontos – e falaremos deles
a seguir – que podem ser considerados regionalmente em cada nação, escola ou
metodologia de aprendizagem. Nada deve ser empregado no formato de cima para
baixo, tudo deve ser relativizado e contextualizado.
Segundo
a publicação, ao longo do século 20, a educação visava, essencialmente, apoiar
esforços de cidadania e desenvolvimento por meio da escolaridade obrigatória
para crianças e jovens. Mas isso mudou – e acho que todos concordamos a
respeito. Atualmente, enfrentamos graves riscos para o futuro da humanidade e
do próprio planeta vivo. Com a pandemia, só pude notar que tivemos um
despertador tocando bem alto, como quem brada: “Acorde rápido”. Pensei que 2022
começaria mais otimista e altruísta, entretanto, fomos surpreendidos por uma
guerra no leste europeu. É preciso melhorar. O ser humano ainda tem muito que
ser polido e lapidado.
Sob
uma perspectiva pedagógica, deve-se reinventar urgentemente a educação para nos
ajudar a enfrentar desafios comuns. O novo contrato da sociedade deve nos unir
em torno de esforços coletivos e fornecer o conhecimento e a inovação
necessária para moldar futuros sustentáveis e pacíficos para todos ancorados em
questões sociais, econômicas e justiça ambiental. Deve-se defender o papel
desempenhado pelos professores. De acordo com o estudo da Unesco, há três
perguntas essenciais a serem feitas à educação ao olharmos para 2050: O que
devemos continuar fazendo? O que devemos abandonar? O que precisa ser inventado
criativamente de novo?
As questões que surgem precisam ser tomadas e respondidas localmente nos países, nas escolas, nos programas e nos sistemas educacionais. Há nações que iniciaram projetos elaborados de sustentabilidade – dentro e fora das salas de aula. Há outras que vivem diariamente ameaças constantes, sejam de guerra ou de queda da democracia. Precisa-se avaliar com uma lupa cada realidade isoladamente e propor ações contínuas e estruturadas. Existe, entretanto, um denominador comum: grupos socialmente privilegiados continuam tendo acesso à qualidade superior. O novo olhar educacional deve pensar em inclusão como ponto de partida. Como bem adiantei no título, uma educação para poucos é o oposto de si.
As escolas devem ser locais
educacionais protegidos por causa da inclusão, equidade e bem-estar individual
e coletivo que apoiam, também reimaginados para melhor promover a transformação
do mundo para uma direção mais justa, equitativa e um futuro sustentável.
Devemos aproveitar e ampliar as oportunidades educacionais que ocorrem ao longo
da vida e em diferentes espaços culturais e sociais. É preciso polir essa pedra
preciosa constantemente, deixando para trás os resíduos e aprimorando sua parte
valiosa.
Danilo Costa - ex-mantenedor escolar,
advogado formado pela FGV-SP e fundador do Educbank, principal ecossistema
financeiro dedicado às escolas brasileiras.
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