Diversos estudos1,2 apontam que pelo menos um quarto das pessoas infectadas pela Covid-19 apresentam algum sintoma que afeta a saúde e a qualidade de vida mesmo após a fase aguda da doença. Os problemas da chamada síndrome Pós-Covid ou Covid Longa persistem até 90 dias após a cura e vão de fadiga, cefaleia, sequelas respiratórias, cardíacas, renais até sintomas neurológicos que prejudicam a cognição e a capacidade de concentração.
“Quanto mais grave foi a doença, por exemplo, se a pessoa ficou internada em terapia intensiva, necessitou de oxigênio, maior o risco de apresentar problemas respiratórios, como fibrose pulmonar, ou redução da função cardíaca”, explica a médica infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
O cardiologista Hélio Osmo, gerente executivo da área médica da Farmacêutica
Zambon e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica, concorda
com a médica e diz que sem dúvida alguma o principal órgão afetado é o pulmão.
“Oitenta por cento das pessoas que ficaram internadas têm falta de ar por um
período prolongado. Muitas ficaram intubadas e apresentam depois fibrose
pulmonar. Outras têm dificuldade de absorção de ferro, o que gera anemia,
infecções virais frequentes ou desenvolveram sarcopenia, que é a perda de massa
muscular”. Para recuperação total desses pacientes, segundo Dr. Osmo, será
preciso muita fisioterapia por seis meses ou até um ano.
Além das questões muscular e respiratória, há relatos nos estudos de uma
variedade de outros sintomas. A fadiga e a dificuldade de realizar tarefas
simples são queixas comuns inclusive em pessoas que tiveram quadro leve a moderado,
em especial nas mulheres, revela a infectologista. Podem persistir, também,
alterações de olfato e paladar, queda acentuada de cabelo, zumbido no ouvido,
palpitações, ansiedade e depressão. Aliás, o cérebro é um dos órgãos mais
afetados no pós-Covid3.
Lapsos de memória, falta de
foco e concentração são frequentes, prejudicando o desempenho profissional e
abalando a confiança dos pacientes. Dra. Rosana explica que o problema é
conhecido como “brain fog” por criar uma névoa cerebral. “Quando a pessoa não
consegue produzir uma planilha ou fazer cálculos matemáticos com a mesma
agilidade, e o tempo passa e ela não está recuperando essa habilidade, ela
percebe que a sua capacidade cognitiva está prejudicada. Isso gera ansiedade e
depressão, porque ela quer de volta a vida que tinha antes”, alerta Dra. Rosana
Richtmann, fazendo um apelo aos colegas médicos para valorizar a queixa dos
pacientes. “Esses sintomas não podem ser desprezados. Não é frescura. É preciso
acolher e dar esse conforto ao paciente porque realmente ele está sofrendo”,
afirma.
A infectologista diz que o Brasil não está preparado para lidar com a Síndrome
Pós-Covid porque o país não possui centros de atendimento multiprofissional que
reúnem num mesmo local
especialidades como psiquiatria, cardiologia, pneumologia, endocrinologia,
infectologia e clínica médica. “Os poucos centros existentes já não estão dando
conta do atendimento. Isso faz com que o paciente tenha que percorrer vários
consultórios médicos e isso pode fazer com que ele desanime”, lamenta.
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Referências:
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7852236/
- https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/long-term-effects/index.html
- https://www.nature.com/articles/s41591-021-01283-z
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