Principal causa de morte infantil no mundo, a condição
demanda equipe multidisciplinar para tratamento na UTI e a fonoaudiologia ajuda
a identificar atrasos de desenvolvimento
Novembro
roxo é o mês de conscientização sobre o nascimento prematuro, ou
seja, bebês que nascem com idade gestacional menor que 37 semanas. A condição é
a principal causa de óbito em crianças menores de cinco anos
no mundo e o Brasil é o décimo país no ranking mundial, com média de 300 mil
nascimentos por ano enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef) calculam 30 milhões no mundo.
“As
crianças que nascem precocemente não só têm índice alto de mortalidade, como
também podem ter outros problemas, como dificuldades no desenvolvimento
digestivo, respiratório, de linguagem e do desenvolvimento global. Muitas ficam
com sequelas graves”, afirma a fonoaudióloga e diretora da FonoBabyKids, Daniella
de Pádua Salles Brom.
A
equipe multidisciplinar qualificada atendendo junto ao neonatologista dentro da
UTI faz toda diferença na avaliação e definição do tratamento adequado para
essas crianças. “Os bebês prematuros podem apresentar baixo peso e muitas vezes
têm dificuldade na amamentação. 90% das crianças prematuras precisam de ajuda
para desenvolver força de sucção, reflexo de mamar, coordenação das funções
neurovegetativas, como sugar, deglutir e respirar”, explica
Daniella.
Intervenção
para desenvolvimento da respiração e capacidade de alimentação
“A
intervenção fonoaudiológica pode ser dividida em imediata e de seguimento. A
primeira acontece de maneira emergencial, observando a condição física do bebê,
se tem infecções ou malformações, a maturidade global do sistema sensório motor
oral - necessário para a alimentação e ganho de peso -, e definindo as técnicas
que serão usadas para incentivar esse ganho de movimentos, com exercícios,
manobras e técnicas.
Na
intervenção de seguimento começamos a ter um olhar mais apurado para perceber a
evolução da linguagem, da audição, dos quesitos neurais e toda a questão de
sistema nervoso para ver se a criança vai adquirir o desenvolvimento esperado”,
explica Daniella.
Luta,
luto e vitórias de uma mãe de trigêmeas prematuras
“A
gente idealiza uma gestação, tira fotos, planeja chá de fraldas e de repente
não tem nada disso. Você se vê ali lutando pela vida das suas filhas”, conta
emocionada a fonoaudióloga Márcia Araújo que passou por um parto prematuro de
trigêmeas na 25ª semana de gestação, quando entrou em trabalho de parto. As
trigêmeas, concebidas na mesma placenta estavam em sofrência fetal e Márcia foi
levada para a emergência.
“A
primeira a sair foi a Marcela que estava no meio e ela tinha o cordão no
pescoço e nos braços já porque ela estava sendo amassada pelas outras. A médica
fez reanimação e levou rapidamente para a UTI. A segunda a ser retirada foi
Marília, que estava na posição do encaixe, mas acabou não resistindo. Mariana,
foi a última a ser retirada e estava por cima, mas também foi reanimada e levada
às pressas para a UTI”, relembra.
Na
UTI o objetivo era o amadurecimento dos órgãos com chance de sobrevivência
quase zero. Os primeiros 15 dias eram cruciais e a UTI era semi-humanizada.
Márcia ficava das 8h30 às 19h, entrando de 3 em 3 horas para estimular a
descida do leite e para dar gotinhas do leite para as filhas. Para Mariana,
foram três meses de UTI enquanto Marcela permaneceu por seis meses.
As
duas pequenas lutaram bravamente e, mesmo com muitas intercorrências e
desafios, sobreviveram. Hoje com quase três anos de idade, Mariana teve um bom
desenvolvimento, dentro do esperado, e Marcela ficou com atraso motor, mas faz
acompanhamento e, aos poucos, vai se desenvolvendo e superando seus limites
mais uma vez.
“Eu saí do meu papel de profissional da área da saúde e
virei mãe. E é muito difícil porque cuidamos do paciente, mas o filho não é
seu. A partir do momento que o filho é seu, a dor é muito grande. Mas hoje,
elas estão aqui, lindas e saudáveis. Marcela tem um atraso motor devido ao
tempo de UTI, mas está vencendo, conseguindo andar, e Mariana é um tronco, já
fala, já anda e está super bem”, finaliza Márcia.
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