Tabu com o próprio corpo, medo de doenças e cultura machista afastam os homens dos cuidados com a saúde, mas novas terapias para o câncer de próstata ajudam a manter qualidade de vida
Sete em cada dez homens só vão ao médico por influência
da mulher ou dos filhos, segundo dados do Ministério da Saúde. De acordo com
dados da Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), mesmo com coberturas similares dos planos de
saúde, 82% das mulheres consultou um médico em 2019 contra 69% dos homens. E
durante a campanha do Novembro Azul, que alerta para a prevenção do câncer de
próstata, é importante destacar que o Inca (Instituto Nacional de Câncer)
estima 65 mil novos casos da doença no triênio 2020-2022, cujas chances de cura
são de 90% para diagnósticos precoces.
“O diagnóstico tardio muitas vezes nos impossibilita de
oferecer um tratamento adequado porque os sintomas da doença são mais difíceis
de manejar do que alguns efeitos colaterais de tratamentos. Então é preciso
haver conscientização para tentar diminuir o medo do homem e fazer com que ele
entenda que a terapia hoje é adaptada para a pessoa e temos como fazer isso
ficar mais tolerável sem perder a sua eficácia ou a qualidade de vida”, diz a
médica oncologista Danielle Laperche.
Enquanto 80% das mulheres faz acompanhamento frequente
com o ginecologista, mais de 50% dos homens jamais consultou um urologista,
segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Estudo realizado por
pesquisadores do Instituto Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz, com
homens com vários níveis de escolaridade mostrou que, além de amarras
culturais, como o preconceito com práticas de autocuidado, o medo de descobrir
uma doença grave e a vergonha de expor o corpo são fatores que mantém os homens
longe dos consultórios.
Novembro azul e fatores de risco
Um a cada seis homens irão desenvolver câncer de próstata
ao longo da vida e o diagnóstico precoce aumenta muito as chances de cura da
doença. Hoje, a prescrição do tratamento depende do estágio, do histórico, do
tipo e agressividade do tumor. Os fatores de risco são os mesmos para outros
tipos de tumores: sedentarismo, obesidade, alimentação inadequada, dietas ricas
em gordura, carnes vermelhas e carboidratos. Além disso, idade acima de 60
anos, histórico familiar e homens negros tem mais chances de desenvolver a
doença mais agressiva.
“O ideal é fazer exames de rastreamento, como o toque
retal, feito pelo urologista, e o exame de sangue do marcador PSA. Em casos
suspeitos é realizada a biópsia. Sintomas como a piora da força do jato
urinário, dificuldade para urinar, necessidade de urinar muitas vezes em um
período de tempo curto, acordar a noite para urinar, sangramento ou obstrução
do canal aparecem quando a doença está avançada”, finaliza Laperche.
Novos tratamentos mantêm qualidade de vida
O câncer de próstata é um dos tipos de tumor para os
quais houve maior desenvolvimento de novas drogas e novas terapias nos últimos
anos. “É importante a população saber dessas possiblidades até para não ter tanto
medo de enfrentar o diagnóstico e o tratamento da doença porque conseguimos boa
manutenção da qualidade de vida”, afirma a oncologista.
“Dependendo do estágio, avaliamos caso a caso e adequamos
a melhor opção de cada tratamento de acordo com cada histórico, tipo e
agressividade do tumor e extensão da doença; se está localizado na próstata ou
se já saiu da próstata. Isso vai ser adequado de acordo com cada tipo de
paciente, levando em conta suas crenças e medos em relação à cada terapia. Mas
a verdade é que temos como fazer muitos ajustes e adaptações para o tratamento
se tornar o mais adequado possível porque tratamos o paciente não a doença
somente”, explica Laperche.
Além da necessidade de abordagem cirúrgica que será
avaliada em cada caso, o médico pode avaliar também a necessidade de
radioterapia localizada na próstata ou lançar mão de tratamentos que cada vez
menos envolvem quimioterapia. As terapias hormonais com medicações orais têm
apresentado resultados excelentes em função das novas drogas já aprovadas pela
Anvisa.
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