Diagnóstico precoce e acesso à medicação pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são os principais desafios de pacientes e familiares para frear a evolução natural da doença
A jornada de um
paciente para obter um diagnóstico correto e preciso nem sempre é curta. Quando
se trata de uma doença rara, o caminho pode ser ainda mais longo e, geralmente,
não termina com os resultados dos exames. A partir da definição da enfermidade,
os pacientes e familiares começam uma nova trajetória: a do tratamento. Segundo
o Ministério da Saúde, há 13 milhões de brasileiros convivendo com uma das
cerca de 7 mil doenças raras descritas pelo órgão. Para 95% dos casos, não
existe terapia disponível. (1) Para os demais, o tempo é fator determinante. Na
lipofuscinose ceroide neuronal do tipo 2 (CLN2, sigla em inglês), uma forma de
Doença de Batten, por exemplo, que se manifesta ainda na infância, sem o
diagnóstico precoce e o tratamento adequado, a criança pode morrer ainda na
primeira década de vida.
"Muitas vezes,
quando há um diagnóstico genético, podemos ter uma condição em que a doença não
progrida, mas não é o caso da CLN2. Um dos sinais mais marcantes, que faz com
que os pais busquem auxílio médico, é quando o paciente começa a ter crises
convulsivas. Desde a primeira crise convulsiva até o diagnóstico, um paciente
leva cerca de um ano ou mais. Isso compromete muito seu desenvolvimento e
inicia o processo de regressão de marcos de desenvolvimento, fazendo com que
ele perca a capacidade total de falar e caminhar, evoluindo para um quadro de
epilepsia refratária, quando já temos o avanço da doença neurológica",
explica a médica geneticista Dra. Carolina Fischinger.
É o caso de F.M., 5
anos, filho de Joline Patricia Trindade e Bruno Marinho. "F. teve um
desenvolvimento completamente normal até os 3 anos, quando teve a primeira
convulsão, em outubro de 2019. Em dezembro de 2020, devido a uma virose, teve
uma febre alta e outra convulsão, que foi associada à infecção. Em janeiro
deste ano, ele teve a terceira crise e, então, procuramos uma neuropediatra.
Ela acreditou que fosse epilepsia e prescreveu uma medicação para controlar.
Ele ficou bem até junho, quando começou a apresentar quedas frequentes, perda
de tônus e déficit na fala. Retornamos à neuropediatra, ela aumentou a dose da
medicação, que hoje sabemos que não é indicada para a doença de Batten, e F.
piorou muito rápido. Em cerca de 3 dias, ele não conseguia mais andar sem
cair", revela o pai.
Após a piora, a
medicação foi trocada e, então, foi solicitado um teste genético para saber se
as crises de epilepsia eram por causa de uma mutação genética. "Mas, em
meio ao desespero de vê-lo assim, procuramos outra neuropediatra para ter uma
segunda opinião. Já na terceira mudança de medicamento, ele começou a melhorar,
ficou estável e pensamos que havia ficado tudo bem. Até que, no final de
agosto, saiu o resultado do painel genético com um resultado sugestivo para
CLN2, mas inconclusivo, pois a mutação apresentada no gene nunca havia sido
catalogada no mundo", conta Patricia.
A CLN2 é um dos 14
tipos conhecidos de lipofuscinose ceroide neuronal. Trata-se de uma doença
hereditária, rara, com incidência de 1 para cada 200 mil nascidos vivos. (2) As
CLNs são causadas por alterações genéticas envolvendo diferentes genes, que são
incapazes de produzir as proteínas necessárias para o metabolismo de moléculas
cerebrais. Como resultado, as células cerebrais (neurônios) sofrem danos
progressivos e isso leva ao desenvolvimento de sintomas de acordo com cada
faixa etária do paciente, sendo o atraso da linguagem e crises epilépticas,
seguidos por perda de habilidades motoras e cognitivas já adquiridas, as
primeiras manifestações clínicas da CLN2. (2)
"Quando temos a
hipótese do diagnóstico e, posteriormente, a confirmação por meio da análise
genética ou quantificação da enzima, explicamos o diagnóstico aos pais.
Qualquer família que pesquise a CLN2 ou Doença Batten na internet vai ver
alguns casos reportados e, mesmo ainda estando diante de uma criança que está
correndo e brincando, vai saber que, em um ou dois anos, a condição será
diferente", esclarece Dra. Carolina.
Ainda de acordo com a
médica, embora seja um momento delicado, a situação era mais difícil
antigamente, quando não havia opções terapêuticas. "Hoje temos essas
possibilidades, então vem a notícia ruim do diagnóstico, mas vem também a
notícia boa de que existe um tratamento para essa condição. Apesar de ainda não
estar na lista de medicamentos e tratamentos fornecidos pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), é possível consegui-lo por judicialização. Entretanto, essa é uma
jornada bastante dolorosa para a família porque é uma corrida contra o tempo.
Sabemos que é uma doença que vai progredir e temos que agir rápido para não
perdermos a capacidade de atuar terapeuticamente, enquanto o paciente tem
poucos sintomas.", esclarece a especialista. A farmacêutica BioMarin
submeteu em junho à CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias
no Sistema Único de Saúde) a incorporação do único tratamento disponível ao SUS
e aguarda avaliação. "Por esses pacientes e famílias esperamos que o
parecer seja favorável pois essa doença não espera e pode evoluir rapidamente
para a morte" comenta a especialista.
No caso de F., até
conseguir acesso ao tratamento, a doença teve um avanço considerável.
"Antes de iniciar com a medicação, ele já não andava, falava pouquíssimas
palavras e com muita dificuldade. Já não conseguia sentar e não tinha mais o
controle do pescoço, além de sofrer com incontáveis crises de ausência,
diariamente. Teve que fazer uma cirurgia para colocar uma sonda gástrica, pois
já não conseguia se alimentar pela boca. Após a primeira dose, ele já conseguiu
passar da posição de deitado para sentado sozinho, melhorou o controle do
pescoço, teve uma leve melhora da fala e diminuição do número de crises. Na
segunda dose, com auxílio, já conseguiu ficar de pé e dar alguns passos, mesmo
que com bastante dificuldade. Também começou a ingerir alguns alimentos e
voltou a beber água", comemora Marinho.
Agora na terceira dose
da medicação e percebendo a melhora de F., a família está esperançosa.
"Ele é uma criança incrível e tem uma vontade de viver absurda. Nós o
amamos infinitamente e cada pequeno avanço que ele tem é gigante para nós.
Faremos todo o possível para que consiga melhorar cada vez mais", finaliza
Marinho.
Este material não tem
caráter promocional e busca, unicamente, apresentar ao público em geral
informações científicas relativas a doenças e/ou saúde. BioMarin não é
responsável pelo conteúdo disponibilizado em site de Terceiros. Informações
médicas: medinfola@bmrn.com.
MMRCL-CLN2-00180. Novembro/2021
Referências
1. Biblioteca
Virtual em Saúde - Ministério da Saúde
2. Claussen M, Heim
P, Knispel J, Goebel HH, Kohlschütter A. Incidence of neuronal
ceroid-lipofuscinoses in West Germany: variation of a method for studying
autosomal recessive disorders. American Journal of Medical Genetics. Disponível
em: link
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