Sofia
Menegon, apresentadora da podcast Louva a Deusa, conversa com uma especialista
e abre o jogo sobre o ciúme saudável ou quando passa a ser excessivo e
ultrapassa os limites da liberdade de cada um
Começa com um friozinho na barriga, com a dúvida, a
possibilidade que assusta, faz as mãos tremerem e o sangue circular mais
rápido. Respirar fundo, se acalmar, tentar lidar com faces “não tão boas” de
nós mesmas pode ajudar, mas acessar memórias de situações passadas, verdadeiras
ou não, é o mesmo que ficar tirando a casquinha de um machucado, que acaba
nunca cicatrizando. Ciúme.
Ele pode estar em várias áreas de nossa vida e nos
impede de aproveitá-la. Mas de onde vem esse medo, que toma conta de nossos
relacionamentos amorosos, de trabalho, familiares e de amizade? É esse o tema
da conversa que tivemos com Andréia Lorena Stravogiannis, neuropsicóloga e
especialista no tema.
Cuidado, zelo e liberdade
O ciúme é uma emoção como qualquer outra. Faz parte
da vida humana desde a Era dos Metais, quando nossos antepassados passaram a se
estabelecer nas terras e delimitar propriedades. A partir desse momento, os
homens começaram a querer proteger seus genes e as mulheres, a sua
sobrevivência.
Ter ciúme pode significar que cuidamos de nossos
relacionamentos amorosos, mas é preciso ter limite. Quando ele ocorre em
pequenas doses, é como um remédio, que faz bem se for usado na dose certa e
prejudica quando abusamos. Seu significado vem da palavra zelo, mas
zelar por um relacionamento não é cuidar de uma pessoa que acho que sua
propriedade. Quando é exagerado e passa a interferir na liberdade do outro,
vira uma patologia. Ciúme excessivo mistura ansiedade, sintomas depressivos,
insegurança, possessividade, baixa autoestima.
As pessoas ciumentas, hoje em dia, gastam muito
tempo tentando controlar seus parceiros ou parceiras pelas redes sociais,
pesquisando onde estão, com quem, se estão on line, marcam sua localização,
tentam invadir e-mails e algumas chegam a colocar programas espiões nos
computadores.
Enquanto um ciúme saudável é como uma faisquinha,
um cuidado a mais, um agrado, deixa de ser saudável quando o ciumento cuida de
si e não do outro. Quando parte de suas próprias inseguranças e medos, quando
começa a cercear a liberdade do parceiro ou parceira e os cuidados extrapolam
os limites da liberdade.
Homens e mulheres são ciumentos. Os dois gêneros
sentem ciúme do que gostariam de ter e daquilo que o suposto, ou a suposta,
rival tem. O que muda é a forma. Num contexto histórico, as mulheres
desenvolveram um ciúme mais emocional, acionado quando o parceiro se envolve
emocionalmente com outra mulher. Nos homens há mais o ciúme sexual, que vem da
manutenção dos genes desde a época das cavernas e hoje é mais material e
financeiro.
Não é amor
Embora seja visto como sinal de amor, ciúme é uma
coisa, amor é outra. Quem ama, cuida, olha para o parceiro, se comunica com
ele, conversa, não vê o parceiro ou a parceira como propriedade. Quem sente
ciúme excessivo quer ter a posse, é marcado por um alto grau de impulsividade,
não consegue discernir as coisas, faz escândalos, pensa que está protegendo o
que acha que é dele, tem a sensação de que se não for aquela pessoa, não será
com mais ninguém e isso é muito perigoso.
Antes de confiar no outro a pessoa tem que confiar
em si mesma, perceber se está sendo companheira do parceiro ou parceira, em vez
de ser só uma companhia. Quem se doa sem medo, vivencia o relacionamento. O
ciumento tende a se envolver com pessoas que vão alimentar seu ciúme e isso é
muito cansativo, tanto para quem sente, como para quem é vítima. Isso pode
mudar, mas não existe nenhuma pílula mágica que resolva: é preciso fazer
psicoterapia, mudar o estilo de apego e procurar relacionamentos com pessoas
saudáveis.
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