Muitos dispositivos de reuso de água são de baixo
custo e podem ser implantados em qualquer residencia. Divulgação |
Segundo arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, embora os modernos empreendimentos ofereçam tais inovações, falta incentivo do poder público para uso consciente dos recursos naturais, como o reaproveitamento de água
A crise hídrica anunciada no fim do último mês de
maio pelo próprio governo federal e que já atinge cinco estados brasileiros,
entre eles Goiás, é considerada a mais grave nos últimos 91 anos. Por
isso já provoca um efeito em cadeia enorme, que vai desde a falta de água nas
torneiras das casas, ao impacto negativo na economia com encarecimento de
energia elétrica e da produção de alimentos.
Acontece que, esse quadro não precisaria ser tão grave se, primeiro, a
população brasileira tivesse uma efetiva educação ambiental; e segundo, se
tecnologias e sistemas de reuso de água ou que estimulam o consumo racional já
estivessem sendo usados em larga escala no País. É no que acredita o arquiteto
e urbanista Paulo Renato Alves, especializado em desenvolvimento de
empreendimentos imobiliários. Segundo ele, muitos dos novos empreendimentos que
estão sendo lançados e construídos atualmente pelo mercado imobiliário, já
contam com mecanismos de captação das águas da chuva ou de reuso da água
fornecida pela concessionária de saneamento.
Segundo o especialista, são tecnologias que requerem um investimento um pouco
maior na construção, mas que têm um retorno imediato para o morador e claro,
para o meio ambiente. “Hoje você recebe uma água potável na sua casa que
é toda descartada só com um primeiro uso, sendo que atualmente existem
tecnologias super acessíveis e que irão pegar essas águas, como por exemplo a
água usada no banho, que será armazenada e tratada numa subestação, podendo ser
tranquilamente usada para outros fins. Isso, além de bom para o meio ambiente,
é economia para as famílias”, afirma Paulo Renato.
Mas apesar de muitos novos projetos prevêrem tais tecnologias de uso
sustentável da água, elas não são obrigatórias nos empreendimentos. O urbanista
lembra, porém, que essa discussão já existe, em Goiânia inclusive, mas precisa
avançar. “Esses sistemas de reuso e captação da água da chuva
ainda não são uma obrigação, mas espera-se que seja em breve. Já há muitas
cidades Brasil afora que já discutem isso. Em Goiânia mesmo, há um projeto de
lei municipal que propõe tal obrigatoriedade”, revela Paulo Renato.
Lençol freático
Mas Paulo Renato aponta alguns avanços importantes nas leis sobre a gestão dos
recursos hídricos. “As legislações municipais têm se atentado muito a isso. Uma
dessas ferramentas que já tem sido amplamente usada, e que em Goiânia é
obrigatória, são os poços de infiltração. Os empreendimentos precisam ter a
caixa de recarga, poço de infiltração, que nada mais são formas de você pegar a
água que vem das chuvas e devolvê-la para o lençol freático”, destaca.
Paulo Renato afirma que a preservação dos lençóis freáticos é uma questão
primordial para a manutenção da água potável. Ele, inclusive, condena o hábito
de muitas famílias, que ao construírem ou comprarem uma casa eliminam as áreas
permeáveis ou cobertura verde desses terrenos. “Na maioria das residências pela
cidade, a área permeável que a prefeitura exige nos terrenos, depois que o
proprietário tem o habite-se, é toda cimentada. Então o que acontece com a água
da chuva? Ela cai no telhado ou no chão, desce, vai para o piso, sai desse
terreno e vai para a rede pluvial. Então essa água não volta para o lençol
freático. Então, além do uso exagerado, há uma interrupção desse ciclo natural
da água, o que com tempo reflete nesse desequilíbrio hídrico que estamos vendo
hoje ”, explica o arquiteto e urbanista.
Incentivos
Para Paulo Renato, além de uma maior conscientização da população brasileira
sobre o uso racional da água, faltam ainda políticas públicas que incentivem as
pessoas e empresas a adotarem essas tecnologias sustentáveis. “Acho que aqui no
Brasil a população só irá fazer alguma coisa se houver de fato algum incentivo.
Só pela conscientização, pura e simplesmente, eu não acredito que a grande
maioria da população o faça”.
O urbanista defende incentivos fortes por parte do poder público. “As
prefeituras podem perfeitamente implantar políticas de incentivo fiscal ou de
desconto no IPTU para quem implantar na sua casa, por exemplo, uma canalização
para captação de água da chuva, que é algo muito simples”, sugere.
Experiências fora
O urbanista cita várias experiências de sucessos que já são adotadas em outros
países há um bom tempo e podem ser facilmente implantadas aqui no Brasil. “Na
Alemanha, por exemplo, já desde os anos 1980 as casas e prédios contam com
sistemas de reuso da água da chuva. Essa água é armazenada e depois utilizada
para irrigação, para descarga, para limpeza e outros usos. Em todo o Japão, por
exemplo, usa-se água da captação das chuvas. Inclusive, em várias cidades
japonesas você encontra empreendimentos, que não só captam a água da chuva, mas
a tornam potável”, exemplifica Paulo Renato Alves.
De acordo o urbanista, países que adotam uma gestão eficiente dos recursos
hídricos têm quase sempre algo incomum, terem em algum momento de sua história
passado por uma forte escassez de água, o que faz das populações destas nações
mais conscientes. “A Alemanha, por exemplo, viveu uma Grande Guerra, e por isso
eles sabem bem o que é escassez, não só de água, mas de alimento e outras
coisas vitais. Nesses países eles sabem que a falta de água potável gera mortes”,
alerta o especialista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário