Hematologista explica o que é a doença
que causa o excesso de ferro no organismo e que pode causar graves lesões em
todo o corpo
Recentemente, o youtuber e influencer
Felipe Neto anunciou que sofre de hemocromatose. Mas o que é isso? A médica
hematologista da Oncoclínicas Brasília, Marina Aguiar, explica que se trata de
uma doença caracterizada pelo excesso de ferro no organismo. "Isso acontece
quando o suprimento de ferro excede a necessidade do organismo, acumulando em
diferentes tecidos e causando lesões graves", detalha a Dra.
Considerada rara, a hemocromatose pode ter dois tipos: primária ou hereditária,
e a secundária. "A hemocromatose hereditária é aquela determinada por
condições genéticas. Pode acometer em torno de 0,5% da população geral",
esclarece a hematologista.
Hemocromatose primária ou hereditária
Dentro da hemocromatose primária existem outros quatros tipos. A Dra. Marina,
que também é médica no Hospital Anchieta de Brasília, explica que os tipos
dependem do gene que sofre a mutação. "Felipe tem hemocromatose do tipo
hereditária heterozigótica, ou seja, ele herdou a mutação do pai ou da mãe, e
não de ambos. No caso, a condição é incompleta, ou seja, não é grave".
A hemocromatose causa um descontrole e aumento excessivo na absorção de ferro
pelo intestino, o que resulta em um acúmulo e deposição crônica do mineral em
diversos tecidos. "Os tecidos mais acometidos pelo acúmulo são o coração,
fígado e pâncreas", lista a hematologista. A médica explica que o excesso
de ferro nesses órgãos pode originar outros problemas de saúde, como cirrose,
insuficiência cardíaca, diabetes e escurecimento da pele.
"As lesões nos órgãos pelo depósito do ferro são lentas e graduais",
comenta a Dra. Marina, ao explicar que os primeiros sintomas podem ser
inespecíficos e sutis. Entre esses sintomas que podem passar despercebidos,
está a perda de peso, interrupção da menstruação, dores nas articulações,
fadiga, depressão e queda de cabelo. "Por exemplo, a disfunção hepática
pode se manifestar silenciosamente com dor abdominal e hepatomegalia, que é o
aumento de tamanho do fígado", exemplifica a Dra.
Como um alerta, a Dra. Marina recomenda que o paciente não ignore ou normalize
os sintomas leves. "Qualquer sintomatologia, desde uma leve fadiga até um
quadro mais grave neurológico, deve ser interpretado como um alerta para que se
busque ajuda médica imediatamente", frisa a médica.
Quanto mais cedo se descobre a hemocromatose, menores são as chances da doença
desenvolver um quadro grave. "Quando o nível de lesão do órgão afetado
pelo acúmulo de ferro é mais alto, maiores as chances da pessoa desenvolver
outras doenças, como arritmia, disfunção erétil, artrites, entre outras",
complementa.
Hemocromatose secundária
A Dra. Marina aponta que hemocromatose pode não ser genética, ou seja, pode ser
secundária. "Isso acontece quando a pessoa adquire o excesso de ferro no
organismo devido a transfusões de sangue repetidas", explica.
As pessoas mais suscetíveis a hemocromatose secundária são aquelas que têm
anemia falciforme, mielodisplasia, talassemia ou qualquer outro tipo de doença
onde seja necessário múltiplas transfusões de sangue para correção da anemia.
"O tratamento geralmente é com medicações que fazem a quelação de
ferro", conclui a hematologista.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da hemocromatose exige um exame físico e laboratorial, histórico
de saúde familiar, e uma avaliação global dos estoques e do metabolismo do
ferro. "O médico também pede exames que determinem a função do tecido
lesado, e se necessário, um exame que avalie a alteração genética relacionada a
hemocromatose hereditária", esclarece a hematologista.
Para a hemocromatose primária não existe cura, no entanto, a Dra. Marina aponta
que hoje é possível fazer um tratamento para que a doença seja controlada.
"O tratamento é indicado para pacientes com manifestações clínicas e
níveis de ferritina muito elevados", aponta a médica. Pacientes
assintomáticos precisam apenas de avaliação médica periódica semestral ou anual
com verificação dos níveis de estoque do ferro e dosagem das enzimas do fígado.
O tratamento de hemocromatose consiste na diminuição da quantidade de ferro do
organismo através da retirada de sangue ou sangria. A quantidade de sangue a
ser removida e o tempo de intervalo a cada sangria será determinada pelo médico
hematologista, de acordo com a Dra. Marina. "É preciso lembrar que os
pacientes com hemocromatose precisam seguir uma dieta balanceada, e evitar o
uso de suplementos de vitamina C", adverte a especialista. Ela ainda
ressalta que o consumo de álcool deve ser moderado, já que ele pode aumentar a
absorção de ferro e aumentar o risco de cirrose, quando ingerido em altas
doses.
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