quinta-feira, 1 de julho de 2021

Hemocromatose: você sabe o que o acúmulo de ferro pode causar no seu corpo?

Hematologista explica o que é a doença que causa o excesso de ferro no organismo e que pode causar graves lesões em todo o corpo

 

Recentemente, o youtuber e influencer Felipe Neto anunciou que sofre de hemocromatose. Mas o que é isso? A médica hematologista da Oncoclínicas Brasília, Marina Aguiar, explica que se trata de uma doença caracterizada pelo excesso de ferro no organismo. "Isso acontece quando o suprimento de ferro excede a necessidade do organismo, acumulando em diferentes tecidos e causando lesões graves", detalha a Dra.

Considerada rara, a hemocromatose pode ter dois tipos: primária ou hereditária, e a secundária. "A hemocromatose hereditária é aquela determinada por condições genéticas. Pode acometer em torno de 0,5% da população geral", esclarece a hematologista.



Hemocromatose primária ou hereditária

Dentro da hemocromatose primária existem outros quatros tipos. A Dra. Marina, que também é médica no Hospital Anchieta de Brasília, explica que os tipos dependem do gene que sofre a mutação. "Felipe tem hemocromatose do tipo hereditária heterozigótica, ou seja, ele herdou a mutação do pai ou da mãe, e não de ambos. No caso, a condição é incompleta, ou seja, não é grave".

A hemocromatose causa um descontrole e aumento excessivo na absorção de ferro pelo intestino, o que resulta em um acúmulo e deposição crônica do mineral em diversos tecidos. "Os tecidos mais acometidos pelo acúmulo são o coração, fígado e pâncreas", lista a hematologista. A médica explica que o excesso de ferro nesses órgãos pode originar outros problemas de saúde, como cirrose, insuficiência cardíaca, diabetes e escurecimento da pele.

"As lesões nos órgãos pelo depósito do ferro são lentas e graduais", comenta a Dra. Marina, ao explicar que os primeiros sintomas podem ser inespecíficos e sutis. Entre esses sintomas que podem passar despercebidos, está a perda de peso, interrupção da menstruação, dores nas articulações, fadiga, depressão e queda de cabelo. "Por exemplo, a disfunção hepática pode se manifestar silenciosamente com dor abdominal e hepatomegalia, que é o aumento de tamanho do fígado", exemplifica a Dra.

Como um alerta, a Dra. Marina recomenda que o paciente não ignore ou normalize os sintomas leves. "Qualquer sintomatologia, desde uma leve fadiga até um quadro mais grave neurológico, deve ser interpretado como um alerta para que se busque ajuda médica imediatamente", frisa a médica.

Quanto mais cedo se descobre a hemocromatose, menores são as chances da doença desenvolver um quadro grave. "Quando o nível de lesão do órgão afetado pelo acúmulo de ferro é mais alto, maiores as chances da pessoa desenvolver outras doenças, como arritmia, disfunção erétil, artrites, entre outras", complementa.



Hemocromatose secundária

A Dra. Marina aponta que hemocromatose pode não ser genética, ou seja, pode ser secundária. "Isso acontece quando a pessoa adquire o excesso de ferro no organismo devido a transfusões de sangue repetidas", explica.

As pessoas mais suscetíveis a hemocromatose secundária são aquelas que têm anemia falciforme, mielodisplasia, talassemia ou qualquer outro tipo de doença onde seja necessário múltiplas transfusões de sangue para correção da anemia. "O tratamento geralmente é com medicações que fazem a quelação de ferro", conclui a hematologista.



Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da hemocromatose exige um exame físico e laboratorial, histórico de saúde familiar, e uma avaliação global dos estoques e do metabolismo do ferro. "O médico também pede exames que determinem a função do tecido lesado, e se necessário, um exame que avalie a alteração genética relacionada a hemocromatose hereditária", esclarece a hematologista.

Para a hemocromatose primária não existe cura, no entanto, a Dra. Marina aponta que hoje é possível fazer um tratamento para que a doença seja controlada. "O tratamento é indicado para pacientes com manifestações clínicas e níveis de ferritina muito elevados", aponta a médica. Pacientes assintomáticos precisam apenas de avaliação médica periódica semestral ou anual com verificação dos níveis de estoque do ferro e dosagem das enzimas do fígado.

O tratamento de hemocromatose consiste na diminuição da quantidade de ferro do organismo através da retirada de sangue ou sangria. A quantidade de sangue a ser removida e o tempo de intervalo a cada sangria será determinada pelo médico hematologista, de acordo com a Dra. Marina. "É preciso lembrar que os pacientes com hemocromatose precisam seguir uma dieta balanceada, e evitar o uso de suplementos de vitamina C", adverte a especialista. Ela ainda ressalta que o consumo de álcool deve ser moderado, já que ele pode aumentar a absorção de ferro e aumentar o risco de cirrose, quando ingerido em altas doses.


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