Sociedade
Brasileira de Cardiologia alerta que apesar de estudo francês sugerir o uso da
nicotina para tratamento da COVID-19, é preciso entender que o tabagismo segue
como grande inimigo da saúde populacional
Depois que pesquisadores franceses passaram a considerar
o uso da nicotina como uma possível terapia para pacientes infectados pelo novo
coronavírus, o assunto ganhou repercussão na mídia internacional e, também, no
Brasil. Porém, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alerta para os
graves problemas decorrentes da má interpretação deste estudo e do isolamento
dessa abordagem em um cenário de pandemia por uma nova doença, ainda pouco
conhecida.
A análise que embasa essa abordagem
terapêutica, realizada por pesquisadores do Instituto Pasteur e do Hôpitaux de
Paris, ambos em Paris, na França, observa um potencial efeito protetor da
nicotina para a infecção pelo SARS-CoV-2 sem deixar de enfatizar que a
substância é a droga responsável pelo vício em fumar e que o tabagismo tem
graves consequências patológicas sendo um perigo para a saúde.
Dessa forma, a pesquisa não indica o ato de fumar
como forma de prevenção ou tratamento, mas sim sugeree a realização de um
ensaio terapêutico com o uso de adesivos de nicotina ou outros métodos como,
por exemplo, a mastigação, em pacientes hospitalizados e como método preventivo
para a população geral. O ensaio ainda não foi realizado para comprovar a
efetividade da ação.
Somada a essa abordagem, a SBC alerta para um
cenário que preocupa por confirmar a relação entre o tabagismo e a progressão
da COVID-19. Uma revisão2 realizada pelo Centro de Pesquisa e
Educação para Controle do Tabaco da Universidade da Califórnia, nos Estados
Unidos, identificou 12 estudos que, ao todo, analisaram 9.025 pacientes
infectados pelo novo coronavírus. Desse montante, 878 (9,7%) apresentaram
complicações, sendo que desses pacientes, 495 eram fumantes.
A pesquisa reafirma que tanto o tabagismo quanto o
uso de cigarros eletrônicos aumentam a gravidade das infecções pulmonares e diz
que fumantes têm 2,25 vezes mais chances de complicações graves decorrentes da
COVID-19 do que não fumantes.
Além disso, é importante lembrar que o tabagismo é
o maior risco controlável para doenças cardiovasculares, principal causa de
óbitos no Brasil e que, segundo o Cardiômetro, resulta em mais de mil mortes
por dia. Fumantes têm de 2 a 3 vezes mais risco de sofrer um AVC, doença
isquêmica do coração e doença vascular periférica, e de 12 a 13 vezes mais
risco de ter doença pulmonar obstrutiva crônica.
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