Em mais de 30 anos como empreendedor, passei por
muitas crises. Nos anos 1990, cheguei a quebrar. Mas hoje, quando olho para
trás em busca de um exemplo que possa inspirar soluções neste momento de
pandemia, não encontro. Essa crise, de fato, é muito diferente das outras.
Para começar, ela chegou de modo muito rápido, sem
que pudéssemos nos preparar. E, mesmo que tivéssemos tempo de preparação, creio
que teríamos problemas do mesmo jeito. Não é segredo para ninguém de que nos
falta a cultura do planejamento de médio e longo prazo. O empresário
brasileiro, de modo geral, precisa trabalhar melhor sua gestão e seu
planejamento financeiro, exatamente para estar mais bem alicerçado para
enfrentar momentos difíceis como este.
Agora, porém, não é hora de o empresário em geral
lamentar a falta de reservas. É preciso ser pragmático e buscar soluções para
manter o negócio vivo no pós-pandemia. Não é hora de abandonar os seus sonhos.
Aqui cabe um parêntese. Em momentos de dificuldade,
sempre pensei de forma objetiva: se tenho um problema, decido empacotá-lo e
deixá-lo de lado para resolvê-lo mais adiante. Considero que, enquanto estiver
vendendo, não tenho verdadeiramente um problema. A lógica é simples: com
recursos entrando no caixa, em breve o dito problema poderá ser desempacotado e
solucionado. A questão no momento é que praticamente não há venda. Logo, temos,
sim, um problema. Fecha parêntese.
Para sobrevivermos a essa crise, tenho recomendado
aos franqueados da SMZTO Holding de Franquias que montem um colchão de
sobrevivência de 90 dias. Ou seja, reúnam recursos financeiros para bancar ao
menos três meses sem a entrada de qualquer receita.
É claro que este é um cenário negativo. Mas o lado
bom de se trabalhar com um cenário negativo é que, caso a crise dure menos – e
tenha impactos menores – do que o esperado, sairemos dela com uma visão otimista.
Não uma visão de terra arrasada, mas sim a visão de quem, mesmo diante de
tamanhas dificuldades, conseguiu organizar-se financeiramente e, ufa, seguir
vivo no mercado.
Tínhamos grandes objetivos para 2020. Mas, no atual
cenário, se igualarmos os resultados de 2019, poderemos considerar isso um
excelente desempenho. Aos empreendedores brasileiros, sugiro que trabalhem com
esta meta. E o que vier além disso será muito bem-vindo.
Na minha opinião, a primeira medida a ser tomada
por qualquer empresário agora é “sentar em cima do caixa” e cortar todos os
gastos possíveis. É preciso estudar os pacotes de incentivo financeiro do
governo – cortes de impostos, empréstimos a juros baixos etc. –, protelar
(quando possível) os contratos com fornecedores e renegociar aluguéis com os
shoppings e com os donos de lojas de rua.
Ressalva importante: é o momento de todos se
ajudarem e não pensarem em tirar proveito da situação. Assim, quando for
renegociar o aluguel, por exemplo, não peça logo de cara seis meses de carência.
O dono do imóvel também tem suas despesas. Negocie mês a mês, à medida em que a
crise for avançando. Assim, a renegociação será positiva para todos os atores
envolvidos – não só para um lado.
Além de reduzir as despesas, é a hora da
criatividade para tentar manter alguma receita – ainda que muito inferior à de
tempos normais. E cada segmento precisa buscar uma solução que lhe seja mais
adequada. Fazer promoções, oferecer entrega grátis e ligar para o cliente para
cultivar o relacionamento são ações que podem fazer a diferença.
Quem presta serviços pode acionar os canais
virtuais de venda para seguir negociando – é claro que o serviço propriamente
dito só será prestado após a pandemia. Mas o importante é manter um fluxo de
entrada de recursos em caixa. Redes de ensino podem apostar na educação à
distância. Já as redes de alimentação precisam apostar no delivery. Ainda que o
faturamento seja muito menor do que em meses normais, o valor que ingressar
ajudará a manter a folha de pagamentos.
Aliás, de todos os itens da coluna “despesas” que
qualquer empresário mantém em sua contabilidade, o salário dos colaboradores é
o mais importante e precisa ser priorizado. Mantendo os funcionários será
possível retomar a operação daqui a um, dois ou três meses, quando a crise for
embora e a economia começar a andar novamente.
A decisão de demitir colaboradores nesse momento
seria uma catástrofe não só pelo aspecto social, mas também para a saúde das
empresas pós-pandemia. Afinal, uma rede conseguirá voltar a operar normalmente
daqui a 60 ou 120 dias sem o seu capital maior, que são os profissionais
treinados e altamente capacitados nas mais diversas funções? Definitivamente, a
resposta é não.
Profissionais capacitados não são como peças de um
carro, que podem ser trocados da noite para o dia sem qualquer efeito negativo.
Ou seja, salvar as pessoas hoje significa salvar o seu negócio depois da crise.
Então, salve as pessoas para salvar seu negócio.
José Carlos Semenzato -
Presidente do Conselho da SMZTO e um dos investidores do programa de
empreendedorismo Shark Tank Brasil, do Canal Sony.
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