É oficial: a candidatura do Sítio Roberto Burle Marx, em
Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro (RJ), será analisada durante a 44ª reunião do
Comitê do Patrimônio Mundial, em 2020. A confirmação chegou nesta
segunda-feira, dia 29 de abril, por meio de carta para a embaixadora Maria
Edileuza Fontenele Reis, delegada do Brasil para a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A próxima etapa será a
realização da missão de avaliação técnica do Sítio por especialistas do
Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos).
O Sítio onde Burle Marx morou até o final de sua vida
está sob a gestão do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). Guarda
uma exuberante coleção botânico-paisagística, com mais de 3,5 mil espécies de
plantas tropicais cultivadas. A propriedade constitui o maior e mais importante
registro de memória da vida e obra do artista, mundialmente reconhecido por sua
extensa produção no campo das artes visuais. O conceito de jardim tropical
moderno, que é sua criação, representou mudança de paradigma no paisagismo
mundial, rompendo com a tradição de jardins clássicos e românticos do século
XIX e início do XX.
“Quem conhece a obra de Roberto Burle Marx não tem
dúvidas a respeito do valor universal do Sítio como Patrimônio Cultural, diante
da qualidade da obra do paisagista, de grande visibilidade e reconhecimento no
Brasil e no mundo. Alguns visitantes fazem contato do exterior, solicitando o
agendamento de visitas, com meses de antecedência. A inscrição na lista do
Patrimônio Mundial representará o reconhecimento da importância do Sítio para a
humanidade, o que, além de reforçar sua preservação, trará ainda mais
visitantes para este local extraordinário, que o Iphan cuida há tanto tempo”,
declara a diretora do Sítio, Claudia Storino. Em 2021, se for oficializada a
nomeação pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
o Comitê do Patrimônio Mundial irá avaliar a candidatura do Parque Nacional dos
Lençóis Maranhenses.
Musealização
Em outubro de 2018, o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 5,4 milhões para o projeto de requalificação
do Sítio Roberto Burle Marx. Os recursos são destinados para a produção de uma
série de projetos de museologia, design, sustentabilidade, arquitetura e
outros. A proposta é melhorar o atendimento ao público, e implementar as
condições de trabalho para a equipe. O investimento contempla os projetos
executivos de reforma do prédio administrativo e de construção de um novo
bloco, com refeitório, vestiários, almoxarifados, além de espaço específico
para a pesquisa botânica, com herbário, laboratórios e salas de trabalho.
O Sítio vai ganhar um novo projeto museológico, com
educação patrimonial, acessibilidade, comunicação, conservação de acervos e
redefinição dos percursos de visitação. O público poderá ter acesso a materiais
de apoio à visitação, como audioguias, recursos destinados à acessibilidade,
como um mapa tátil, e reproduções de obras para manuseio. O investimento vai
garantir também a produção de um livro sobre o Sítio, para que o visitante
possa levar para casa como recordação.
Ainda em 2019, a casa principal onde morava Burle Marx
receberá novo tratamento museográfico, possibilitando aos visitantes percorrer
a casa livremente. O espaço vai ganhar nova iluminação, além de recursos
visuais e sonoros, para garantir ao público uma nova experiência em contato com
a casa.
Valor universal
O dossiê de candidatura do Sítio Roberto Burle Marx como
Patrimônio Mundial, desenvolvido pelo Iphan, defende o seu valor universal
excepcional. O Sítio é um testemunho do intercâmbio de valores humanos, um
exemplo representativo do paisagismo moderno e do pioneirismo de Burle Marx na
preservação ambiental.
O Sítio Roberto Burle Marx é exemplo para o mundo de um
espaço em que o estudo e a experiência paisagística da flora e da fito-ecologia
tropical serviram de base para um intercâmbio de valores humanos que
influenciaram a direção da modernidade e a visão de paisagismo no Brasil e no
mundo. A partir desse espaço único difundiram-se importantes ideias sobre
coleção botânica, paisagismo, design de jardins, horticultura, preservação
arquitetônica, planejamento urbano, articulação entre diferentes manifestações
artísticas e pensamento ecológico.
A concepção de jardim tropical moderno foi desenvolvida
por Burle Marx a partir de suas experiências no local, passando pela
compreensão da natureza como, a um só tempo, espaço físico heterogêneo e
criação cultural, exuberância natural e forma moderna. O Sítio Burle Marx é,
assim, um laboratório que modificou a história do paisagismo internacional.
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