Sem cicatriz, mínimo desconforto e menor chance de complicações – além
de alta mais rápida –, cirurgias minimamente invasivas beneficiam quem enfrenta
problemas de saúde, como tumor na hipófise. Glândula fica no cérebro e produz
hormônios que controlam funções vitais
Jéssyca Campos, de 31 anos, considera que renasceu no ano passado. Ela havia
descoberto um tumor na hipófise, três anos antes, embora, na época, não tivesse
nenhum sintoma, dor ou mal-estar. Após exames de rotina, o ginecologista
percebeu que seus níveis de prolactina no sangue estavam levemente aumentados.
Assim, pediu exame de ressonância magnética e descobriu o tumor. “Realmente foi
um susto; quando se fala em tumor no cérebro, é como se estivesse recebendo uma
sentença”, contou Jéssyca. Sem filhos, a técnica em
contabilidade – que se diz muito curiosa – estudou sobre a doença, ouviu
médicos e percebeu que a medicina oferece tratamentos efetivos para eliminar o
problema.
“A grande maioria dos tumores originados na hipófise é benigna. São
chamados de adenomas hipofisiários e representam de 10 a 15% de todos os
tumores intracranianos. A incidência é alta, 22,5% da população,
segundo estudos radiológicos recentes. Por isso a importância das pessoas
saberem que é uma doença que pode ser curada. Se o tumor não responde ao
tratamento com medicamentos, a opção por uma cirurgia moderna e com mínima
agressão ao organismo pode ser realizada com sucesso, como foi o caso da
Jéssyca”, apontou o neurocirurgião Victor Vasconcelos.
O médico esclarece que se trata da chamada cirurgia
minimamente invasiva, cujo objetivo é a máxima preservação da
anatomia com intervenção pequena, mas suficiente para resolver o problema.
“Ausência de cicatriz, menos desconforto pós-operatório, menor taxa de
complicações, recuperação mais rápida, alta hospitalar precoce, mais conforto
do paciente pós-alta e volta mais rápida para as atividades habituais. Todos
esses são os benefícios”, esclarece Dr. Victor. Segundo ele, a utilização
de equipamentos cirúrgicos modernos como microscópio, endoscópio e técnicas
percutâneas possibilitam o avanço contínuo destes tipos de procedimento. “Mas
tem de haver a comprovação científica de que a técnica será eficaz; afinal, de nada
adiante a cicatriz não aparecer se a doença não for curada”,
aponta.
Sem tumor
Jéssyca começou um tratamento com medicamentos para reduzir o tamanho do
tumor. Porém, fez mais exames e soube que seu corpo não respondeu aos
remédios. O tumor havia crescido e começou a comprimir o nervo
óptico. “Nessa fase, enfrentei uma crise depressiva. Passei a
ter fortes dores de cabeça e no fundo dos olhos. Meu trabalho
começava a ficar comprometido”, lembra. Assim, não havia outro caminho que não
a cirurgia. “A surpresa foi saber que o procedimento seria bem menos agressivo do que eu
esperava. Com muita confiança no neurocirurgião, fiz a cirurgia
para ressecção do tumor cerebral em setembro, realizada através do nariz. Não
tenho cicatriz, fiquei pouco tempo internada e o melhor, estou livre
da doença e, claro, sem nenhuma dor. Considero Que renasci
depois da cirurgia”, conta.
O que faz a
hipófise?
O neurocirurgião Victor Vasconcelos diz que a hipófise
produz vários hormônios que controlam as funções vitais, além
de estimular outras glândulas, como a tireoide e as suprarrenais. “Não são
todos os tumores na hipófise que apresentam sintomas ou sinais clínicos.
Geralmente crescem lentamente, podendo levar à deficiência hormonal ou mesmo a
hiperprodução, causando doenças graves como acromegalia, que é a produção do
hormônio do crescimento em excesso ou a doença de Cushing, que ocorre devido à
elevada quantidade de cortisol no sangue, causando sintomas como rápido aumento
de peso e acúmulo de gordura na região abdominal e face”, diz.
“Também determinam problemas neurológicos, principalmente relacionados à
visão, e podem levar até a cegueira”, diz. De acordo com o médico, o tratamento
dos tumores na hipófise é essencialmente cirúrgico quando não respondem ao
tratamento medicamentoso. “Alguns casos, há a possibilidade da tentativa de
tratamento com medicamentos. Há casos em que fazemos a combinação de remédios e
cirurgia e também podem ser necessárias radioterapia ou radiocirurgia como
tratamentos complementares. Tudo depende do caso e do tipo do tumor”, ensina.
Dr. Victor conta que na última década – com o desenvolvimento de
equipamentos de imagens de alta definição que permitem a visualização
panorâmica e detalhada do tumor, da hipófise e das estruturas neurovasculares
adjacentes – a técnica minimamente invasiva se tornou a melhor opção para a
ressecção destes tumores.
“Antes, as cirurgias transnasais poderiam levar a deformidades do nariz
e alterações de sensibilidade das gengivas e dos dentes, além de obter uma
visualização difícil da região da cirurgia. Atualmente, os riscos são mínimos,
temos melhores resultados, menos complicações e muito menos dor nos pacientes”,
afirma. Ele aponta também que a atuação de equipe multidisciplinar
especializada é imprescindível, com atuação de neurocirurgiões, neurologistas,
otorrinolaringologistas, oftalmologistas, endocrinologistas, oncologistas,
radiologistas e, eventualmente, radioterapeutas.
Victor Vasconcelos -
neurocirurgião especializado em patologias do crânio e da coluna, com ênfase no
tratamento de tumores cerebrais e neurocirugia minimamente invasiva. É
especializado pela universidade americana (Ohio State University) em cirurgia
endoscópica minimamente invasiva. Atua como neurocirurgião do Hospital Boldrini
e do Instituto Radium de Oncologia. Ele compõe o corpo clínico credenciado para
cirurgias em hospitais referência de Campinas e de São Paulo e é membro titular
da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. http://neurocirurgiacampinas.com.br/
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