Definida como a perda
exagerada de sangue após o parto, a hemorragia pós-parto (HPP) é responsável
por quase um quarto das mortes maternas no mundo e é a principal causa em
países de baixa e média renda, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No
Brasil, dados preliminares do DATASUS apontam que, em 2017, 1.654 mulheres
morreram por causa de doenças relacionadas à maternidade, sendo a HPP a segunda
maior responsável pelos óbitos.
Apesar de ser mais comum nas
primeiras 24 horas, quando é chamada de primária ou precoce, a HPP também pode
ocorrer após o primeiro dia até seis semanas após o puerpério, definida como
secundária ou tardia. As causas do problema são
variadas, estando relacionadas principalmente a falha da contração uterina secundária a condições que levam à fadiga do útero, como trabalho de parto
prolongado, ou à distensão exagerada do útero por gravidez de gêmeos, por
exemplo. A obesidade, a idade materna (menos de 20 ou mais de 40 anos) e
distúrbios da coagulação também são fatores de risco para hemorragia pós-parto.
O diagnóstico por
profissional treinado é relativamente simples e feito por meio da identificação
de um sangramento excessivo de acordo com o exame físico da paciente. “Um dos
problemas é a demora na identificação da complicação, já que a perda sanguínea
tende a ser subestimada após o parto e, além disso, a demora na instituição de medidas
adequadas e oportunas de prevenção e tratamento”, destaca Samira Haddad, médica
obstetra, com doutorado em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP).
A observação global da
mulher permite identificar a complicação precocemente ao identificar outros
sinais e sintomas, como aumento da frequência cardíaca,
tontura, palidez, confusão, hipotensão, entre outros. “Desta forma, é possível
que a equipe de saúde responsável realize uma série de medidas que podem evitar
o sangramento na hora do parto”, acrescenta Samira.
Tratamento
Atualmente, a opção de
terapia mais conhecida para a hemorragia pós-parto é a aplicação intravenosa de
ocitocina sintética, uma versão do hormônio naturalmente produzido por
parturientes. Entretanto, o medicamento é sensível e precisa de refrigeração
entre 2ºC e 8ºC, limitando assim o transporte e o armazenamento, motivo
possivelmente envolvido na ocorrência de mais mortes em áreas mais afastadas
dos centros urbanos.
Uma
opção inovadora com potencial de salvar a vida de milhares de mulheres é a
carbetocina termoestável, que demonstrou em estudo não ser inferior ao
padrão atual de tratamento, sendo, ainda mais resistente a mudanças climáticas
e permanecendo eficaz mesmo em altas temperaturas – sua durabilidade é
assegurada por pelo menos três anos se armazenada a até 30 °C, e por seis meses
a até 40 °C.
“É
importante que novas opções de tratamento sejam estudadas e disponibilizadas de
maneira acessível, principalmente, nos países com maiores índices de mortalidade
materna por hemorragia pós-parto, para que os números diminuam e mais vidas
sejam salvas”, destaca a especialista.
Estudo
Publicado
no New England Journal of Medicine, o estudo clínico CHAMPION foi
realizado com quase 30 mil mulheres em dez países. Conduzido pela OMS com
colaboração do Laboratórios Ferring e MSD for Mothers, este é o maior
estudo realizado na prevenção da HPP, e concluiu que o novo medicamento não é
inferior à ocitocina na prevenção da HPP e tem potencial para ser o medicamento
de escolha em países de baixa e média renda, onde é mais difícil manter a
refrigeração adequada.
Ferring Pharmaceuticals
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