O dia 2 de junho é reconhecido
internacionalmente como o Dia Mundial de Conscientização dos Transtornos
Alimentares. A data, oficializada pela Academy for Eating Disorders, tem como
objetivo promover ações mundiais para conscientizar, sensibilizar e informar a
população sobre os problemas relacionados aos distúrbios alimentares. O Brasil
será uma das sedes das ações que ocorrem no mundo inteiro.
Em São Paulo, as ações
acontecem no Parque Villa-Lobos e são frutos de um trabalho da Associação
Brasileira de Transtornos Alimentares (ASTRAL) em conjunto com o Programa de
Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (AMBULIM – Ipq – HCFMUSP),
com o Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares da Universidade Federal
de São Paulo (PROATA – UNIFESP) e com o Grupo Especializado de Nutrição,
Transtornos Alimentares e Obesidade (GENTA). Além de São Paulo, outras cidades
pretendem aderir à iniciativa, como Curitiba e Belo Horizonte.
O transtorno alimentar foi
descrito pela primeira vez em 1959 por Stunkard, e incluído no Manual de
Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM) em 1994, assim como a
anorexia e a bulimia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno
de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) atinge em torno 2,6% da população do
mundo. No Brasil, 4,7% (aproximadamente o dobro da taxa mundial) da população
tem algum tipo de transtorno alimentar, sendo mais recorrente entre jovens de
14 a 18 anos. Um levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Saúde
revela que 77% das jovens em São Paulo apresentam propensão a desenvolver algum
tipo de distúrbio alimentar, como anorexia, bulimia e compulsão por comer.
Cerca de 49% das pessoas que apresentam o transtorno são obesas, sendo que 15%
são obesas mórbidas.
De acordo com o Prof. Dr.
Mario Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de
Würzburg, Alemanha, e Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade
Brasileira de Psicanálise de São Paulo; a TCAP se caracteriza pela ingestão, em
um curto período de tempo, de uma quantidade exagerada (e desnecessária) de
alimentos. Durante o episódio de compulsão alimentar, a pessoa se sente incapaz
de controlar a ingestão excessiva, mesmo sabendo que está agindo fora do padrão
habitual de alimentação. Além disso, a pessoa com TCAP não para de comer, mesmo
já tendo a sensação de saciedade e o desconforto abdominal pela ingestão
exagerada. É comum a pessoa preferir comer sozinha, sem ninguém olhando, pois
ela se sente culpada e envergonhada quando se dá conta do quanto comeu.
Não são todos os pacientes que
relatam a compulsão alimentar como uma forma de aliviar a ansiedade. No
entanto, há evidências da relação do TCAP com os transtornos de ansiedade e de
humor, pois a comida, em um primeiro momento, alivia os sintomas dos
transtornos acima citados. “O problema são as consequências deste suposto
bem-estar. Quem sofre de TCAP está sujeito a uma série de doenças como
obesidade e diabetes tipo 2. Com o sobrepeso, surgem os distúrbios emocionais
como depressão, síndrome do pânico, baixa autoestima, entre outros”, afirma Dr.
Mario Louzã.
O tratamento do TCAP se faz
com medicamentos que controlam a compulsão, associados à terapia comportamental
ou psicodinâmica. O acompanhamento de um profissional de nutrição também é
importante para a mudança dos hábitos alimentares. De acordo com um estudo da
Universidade de Munique, na Alemanha, a recuperação dos acometidos pelo TCAP
acontece da seguinte forma: melhora considerável durante a terapia e
estabilidade em cerca de 4, 5 ou 6 anos ao término do tratamento.
“Vale deixar claro que o TCAP
é diferente da bulimia nervosa. Nesta última, a culpa pela compulsão alimentar
resulta na indução do vômito ou no uso de laxantes ou diuréticos. Para o
tratamento do TCAP é fundamental buscar ajuda médica especializada, pois o
apoio e o controle da família e dos amigos não são suficientes para superar a
doença”, conclui o psiquiatra.
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