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Uma alternativa para as que vão chegar aos 35 anos
sem ter filhos é congelar os óvulos
Durante o ano de 2018, a clínica do IPGO (Instituto Paulista de
Ginecologia e Obstetrícia) atendeu 1.076 pacientes procurando tratamento para
infertilidade. Dessas, 647, ou seja, cerca de 60% do total, estavam na faixa
dos 35 aos 50 anos. Na maioria dos casos, o fato isolado que impedia a gravidez
era mesmo a idade.
Esta
pesquisa feita pelo IPGO vai ao encontro do segundo levantamento
do Núcleo de Inteligência do jornal Folha de S. Paulo, a partir dos dados do
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde: o número de
mulheres que deram à luz entre os 35 e os 39 anos aumentou 71% nos últimos 20
anos. Entre as que estavam na faixa dos 40 e aos 44 anos, foram 50% de aumento.
Aliás, segundo Arnaldo
Cambiaghi, especialista em Medicina Reprodutiva e diretor do Centro
de Reprodução Humana do IPGO, o número seria bem maior. “Em, 2019, o
IPGO completa 20 anos. De sua fundação, em 1999, para cá, eu diria que o número
de mulheres com mais de 35 anos que nos consultam em busca de tratamento
aumentou incríveis 300%”.
Para ele, esse aumento tem algumas explicações. “Antes,
mulheres na faixa dos 40 anos que não conseguiam engravidar, não procuravam
tratamento. Depois, começou-se a divulgar que elas poderiam, se necessário,
usar óvulos de doadoras. No começo, havia preconceito, mas, com o tempo, isso
ficou ultrapassado e o procedimento passou a ser aceitável”.
Outro incentivo foi o surgimento de novidades na área da
Medicina, como a biópsia embrionária, um exame
cromossômico e/ou genético do embrião proveniente de fertilização in vitro,
feito antes da transferência, que permite que o embrião transferido seja
saudável. Isso tirou um peso de casais que tinham medo de que, por serem mais
velhos, os filhos pudessem nascer com problemas genéticos.
A terceira explicação para o aumento da procura é mesmo o
congelamento de óvulos. Algo que até poucos anos atrás, não era tão divulgado
como nos dias atuais.
Avaliação da reserva ovariana
Já é bastante conhecido o fato de que a mulher nasce com
dois milhões de óvulos imaturos e que na menarca terá 400 mil. Durante a vida
reprodutiva, todo mês, aproximadamente mil óvulos são recrutados, mas apenas um
terá seu amadurecimento completo, assim 999 serão desperdiçados. Portanto, a
cada ano, são perdidos 12 mil óvulos.
A somatória dos anos vividos mostra que, após 30 anos,
restam pouquíssimos óvulos capazes de serem fertilizados. É o fim da
"reserva ovariana", da fertilidade e do sonho de ter o seu direito de
iniciar sua família com os seus próprios óvulos.
“Reserva
ovariana é a capacidade dos ovários de responder a um estímulo hormonal
produzindo óvulos capazes de serem fertilizados e formar embriões, que tenham
condições de se implantar no útero. Após os 35 anos,
os ovários tendem a responder menos aos estímulos hormonais, dificultando a
gravidez pela menor quantidade de óvulos existentes”, explica Camgiaghi.
Ela
é avaliada, fundamentalmente, pela dosagem sanguínea de 3 hormônios no 3º dia
do ciclo menstrual: FSH, LH, Estrogênio.
.
FSH maior do que 10 mIU/ml e Estrogênio menor que 35 pg/ml, geralmente, sugerem
uma má respondedora aos estímulos hormonais (“Poor Responder”).
. FSH menor do que 10 mIU/ml e Estrogênio maior do que 35 pg/ml geralmente sugerem uma boa respondedora aos estímulos hormonais.
. FSH menor do que 10 mIU/ml e Estrogênio maior do que 35 pg/ml geralmente sugerem uma boa respondedora aos estímulos hormonais.
. Inibina: é uma substância que dosada no sangue, nos dá a idéia desta reserva. Este critério é útil, mas ainda é difícil pelas dificuldades laboratoriais existentes.
Promessas
para o futuro
“Hoje, percebemos que com o passar do tempo o ser humano
vive mais. Talvez, seja o momento de pensarmos se não deveríamos também
aumentar a longevidade reprodutiva de mulheres, já que o homem praticamente não
tem limites. Muitos estudos vêm sendo feitos com este intuito como os
realizados por Jonathan Tilly da faculdade de Medicina de Boston, que descobriu
o gene batizado de BAX, responsável pela atresia (ausência congênita ou oclusão
de um orifício ou canal naturais) dos óvulos em macaco. Se houver semelhança
com o ser humano e a possibilidade de sua função ser bloqueada, talvez a
falência ovariana possa ser adiada”, afirma Cambiaghi.
Outros estudos demonstraram que os ovários podem ter
células-tronco que, se estimuladas, poderiam fabricar óvulos saudáveis durante
toda vida da mulher. Porém, esses trabalhos são promessas para o futuro.
Enquanto esses estudos não encontram uma resposta
satisfatória para o problema, a melhor saída é mesmo a mulher prestar atenção à
idade. Se estiver chegando aos 35 anos e sonha em ser mãe, mas por algum
motivo, como ainda estar sem companheiro ou se dedicando muito aos estudos ou à
carreira, deve pensar em congelar seus óvulos.
Em 2014, Facebook e Google, empresas consagradas do Vale
do Silício, ofereceram às suas funcionárias, nos Estados Unidos, a
possibilidade de congelarem os óvulos. Na época, a cobertura do congelamento
foi vista como um tipo de compensação às mulheres que precisavam se dedicar
muito ao trabalho para competir com homens em uma área predominantemente
masculina.
Congelamento
de óvulos e indicações
O congelamento de óvulos é uma alternativa para a
preservação da fertilidade feminina. Embora seja considerada, por alguns, uma
novidade, os resultados positivos vêm demonstrando que o procedimento veio para
ficar.
Atualmente, o congelamento tem maior chance de sucesso
quando realizado com óvulos maduros, portanto, é necessário que a paciente
passe por um processo idêntico ao da fertilização in vitro. Os ovários
serão estimulados com drogas indutoras da ovulação, o crescimento dos folículos
ovulatórios será acompanhado pelo ultrassom e, posteriormente os óvulos serão
coletados sob sedação profunda. Em seguida, são encaminhados para o laboratório
de reprodução humana, desidratados e congelados pela vitrificação.
Indicações:
1) Mulheres que serão submetidas a
tratamentos oncológicos;
2) Mulheres solteiras com pouco menos
de 35 anos preocupadas com a diminuição progressiva de sua fertilidade;
3) Mulheres com histórico familiar de
menopausa precoce;
4) Fertilização in vitro.
Fonte: Arnaldo Schizzi Cambiaghi é
diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista-obstetra especialista em medicina reprodutiva.
Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine.
Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e
pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é
autor de diversos livros.
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