“A
obra prima da propaganda anticristã é ser bem sucedida em criar nos cristãos,
sobretudo nos católicos, uma consciência pesada; em instalar neles o embaraço,
quando não a vergonha perante a própria história. A custa de insistir
furiosamente, desde a Reforma até hoje, os convenceram de serem os responsáveis
por todos ou quase todos os males do mundo. Paralisaram-vos na autocrítica masoquista
para neutralizar a crítica dos que tomaram vosso lugar.”(...)“A todos deixastes
apresentar a conta, frequentemente errada, sem quase discutir.”
Todo
esse preâmbulo é aproveitável ao que quero dizer, referindo-me à História do
Brasil e às suas raízes cravadas na Civilização Ocidental, conforme contada em
nossas salas de aula por professores militantes de causas políticas. Também
eles, por motivos análogos, precisam desenvolver nos alunos essa consciência
pesada, o embaraço, a vergonha, para atribuir e distribuir aqui culpas pelos
males nacionais, ali créditos em virtude desses mesmos males. Nesse caso, a
quem melhor do que à História e seus protagonistas? Paralisada por essa
autocrítica, parcela significativa do Brasil supostamente pensante, ao longo de
muitos anos, não conseguiu sequer criticar, como percebia Léo Moulin, as
torpezas dos que com essa estratégia chegaram ao poder.
É
notório o que acontece em tantas salas de aula onde a dignidade nacional é
derrubada a toco de giz; onde a liberdade é atributo unilateral e
unidirecional, e a possibilidade de contestação é limitada pelo volume de
insultos e perseguições que o contestador esteja disposto a suportar.
Para
cada episódio ou personalidade significativa da História do Brasil ou do
Ocidente há pelo menos um relato depreciativo a fazer, entre sorrisos irônicos
e expressões de desprezo, numa atitude que faz lembrar aquelas senhoras de
velhos filmes italianos, vestidas de preto, entrincheiradas atrás de suas
janelas, espalhando intrigas maliciosas.
Quanto
mal fazem! E é tão fácil entender suas motivações! Como usam a História e as
demais ciências sociais para analisarem as realidades em perspectiva marxista,
nada presta, nada é bom, nada tem dignidade, porque, como dizem, “nem o
comunismo entendeu bem a obra de Marx”. Precisam declarar maligna e errada toda
a obra humana através dos milênios, desde o momento em que os primitivos se
desviaram do uso comum dos bens, marcaram território ou construíram cerca. É
como se a partir daí tudo pudesse ser descrito como etapa na direção do
capitalismo e da burguesia, a clamar por revolução.
O marxismo irrefutado em sala de aula,
corrompendo a verdade e as consciências, faz mais mal ao Brasil que a soma de
todas as outras corrupções.
Percival
Puggina - membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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