A psicóloga
Fernanda Tochetto é favorável ao diálogo e à orientação, mostrando os ganhos e
prejuízos da ferramenta
A tarefa de cuidar dos filhos nunca foi fácil. Não
obstante o ensino dado às crianças pelas escolas, sempre coube a família
estabelecer limites. Em um mundo altamente tecnológico, com opções de
entretenimento tão diversas e acessíveis, o trabalho certamente se tornou mais
complexo e difícil. Novas perguntas urgem, como: quando saber o momento certo
de colocar o filho diante desses aparatos? Como limitar o acesso dele a essas
tecnologias?
Mãe de uma menina de quatro anos, a psicóloga
Fernanda Tochetto diz que seguiu a orientação da Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP), de que somente a partir de dois anos de idade a criança pode
iniciar a interação com imagens eletrônicas, vindas de computador, tablets
smartphones etc. Até essa idade, ela necessita interagir com os pais e demais
pessoas que participem de seu cuidado, para desenvolver habilidades cognitivas,
motoras, de linguagem e socioemocionais.
Contudo, mesmo depois dessa idade, liberado o
acesso, a SBP recomenda um limite de tempo para o uso. Com mais de dois anos,
as crianças devem ficar poucos minutos na frente ferramentas de comunicação
como o Skype. Entre 3 e 5 anos, quando elas já adquiriram uma certa
independência, recomenda-se um máximo período de uma hora diária. Mais
autônomas ainda, crianças de 6 a 12 anos podem usar por duas horas os aparelhos
eletrônicos, incluindo a televisão.
Na fase de maior sociabilidade é natural que
crianças inseridas no mundo virtual, tenham vontade de experimentar as redes
sociais, o que pode ser fonte de alguns problemas se usadas em demasia. De
acordo com Tochetto, o excesso de tempo despendido nesse tipo de mídia pode
gerar tristeza, ansiedade e euforia nos usuários. “Alguns índices têm mostrado
que as crianças tendem a ficar mais sedentárias e obesas. Além disso, ao se
compararem com os outros, começam a achar suas vidas ruins, levando à diminuição
do contato social e da interação e ao baixo desenvolvimento da empatia.”,
alerta.
As redes sociais podem acarretar outras
problemáticas como o cyberbullying ou facilitamento do assédio. Conforme
Tochetto, os pais precisam estar antenados ao mundo virtual e ao acesso que as
crianças e adolescentes podem ter a esse universo. “Sobre o que não falamos e
explicamos, eles estão pesquisando e descobrindo em tempo recorde.”, diz. A
situação se complica quando a essa curiosidade e facilidade de obter
informações junta-se o fato de qualquer pessoa em qualquer lugar poder
interagir com qualquer um. “Sabemos que hoje, infelizmente, o número de pessoas
doentes e má intencionadas que trafegam na internet é cada vez maior,
estimulando atitudes, comportamentos e ações maldosas que ferem nossas
emoções.”, destaca a psicóloga.
Uma forma de se contornar essa dificuldade é uma
espécie de visita guiada. Segundo Tochetto, é preciso estar no mesmo ambiente
das crianças no momento que elas utilizam as redes e procurar esclarecer as
dúvidas que elas possam ter. “Sempre busco o diálogo aberto, indo direto ao
ponto e conversando sobre as coisas como elas realmente acontecem. Explico,
oriento, mostro os ganhos e os prejuízos.”, afirma a psicóloga.
Tochetto não é adepta a limites rígidos. De acordo
com ela, deve sempre prevalecer o combinado entre pais e filhos. Entretanto, no
caso de uma quebra de acordo, a psicóloga sugere que se tome uma outra atitude
ao invés do famigerado castigo. “No lugar da palavra castigar talvez um outro
termo: a perda. Se não cumpre as regras, para de ganhar e começa a perder
alguns benefícios, como o tempo de acesso a algumas ferramentas. Os filhos
precisam entender isso.”, diz.
O exemplo dos pais em relação ao uso que fazem de
redes sociais também é essencial aos filhos, o que não significa que eles
precisem parar de usufruir das tecnologias. “Existe a possibilidade de estar
presente sem estar ausente no zelo com os filhos, tornando os recursos das
redes sociais uma oportunidade e não uma doença.”, afirma Tochetto. Ela utiliza
muito as ferramentas para trabalhar e sua filha é muito próxima e participativa
em diversos momentos nesse ambiente. O importante é agir com naturalidade, sem
pressionar, dialogando com os filhos. “Compartilhe com consciência e
deixe seus filhos serem autênticos.”, sugere.
Tochetto destaca que uso excessivo de internet,
redes sociais e jogos de computador, por exemplo, não são necessariamente
vícios. “Mas podem ser tornar quando as pessoas deixam de praticar cuidados
básicos, negligenciando a alimentação, o sono e as relações pessoais”, explica.
Outros sintomas, conforme a psicóloga, são: ansiedade e agitação quando por
algum motivo não podem acessar as redes sociais; e a nomofobia: o medo
irracional de ficar sem celular ou aparelhos eletrônicos em geral.
Em caso de vicio, Tochetto recomenda que se procure
um psicólogo ou psiquiatra para avaliação. De acordo com ela, existem
atualmente no Brasil e no mundo clínicas especializadas para tratar dependentes
digitais. “A dependência com a tecnologia pode ser pior do que com as
substâncias químicas, porque é mais silenciosa até que os comportamentos
manifestem os prejuízos”, adverte.
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