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quinta-feira, 25 de abril de 2019

Como controlar o acesso das crianças às redes sociais


A psicóloga Fernanda Tochetto é favorável ao diálogo e à orientação, mostrando os ganhos e prejuízos da ferramenta


A tarefa de cuidar dos filhos nunca foi fácil. Não obstante o ensino dado às crianças pelas escolas, sempre coube a família estabelecer limites. Em um mundo altamente tecnológico, com opções de entretenimento tão diversas e acessíveis, o trabalho certamente se tornou mais complexo e difícil. Novas perguntas urgem, como: quando saber o momento certo de colocar o filho diante desses aparatos? Como limitar o acesso dele a essas tecnologias?

Mãe de uma menina de quatro anos, a psicóloga Fernanda Tochetto diz que seguiu a orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), de que somente a partir de dois anos de idade a criança pode iniciar a interação com imagens eletrônicas, vindas de computador, tablets smartphones etc. Até essa idade, ela necessita interagir com os pais e demais pessoas que participem de seu cuidado, para desenvolver habilidades cognitivas, motoras, de linguagem e socioemocionais.

Contudo, mesmo depois dessa idade, liberado o acesso, a SBP recomenda um limite de tempo para o uso. Com mais de dois anos, as crianças devem ficar poucos minutos na frente ferramentas de comunicação como o Skype. Entre 3 e 5 anos, quando elas já adquiriram uma certa independência, recomenda-se um máximo período de uma hora diária. Mais autônomas ainda, crianças de 6 a 12 anos podem usar por duas horas os aparelhos eletrônicos, incluindo a televisão.
Na fase de maior sociabilidade é natural que crianças inseridas no mundo virtual, tenham vontade de experimentar as redes sociais, o que pode ser fonte de alguns problemas se usadas em demasia. De acordo com Tochetto, o excesso de tempo despendido nesse tipo de mídia pode gerar tristeza, ansiedade e euforia nos usuários. “Alguns índices têm mostrado que as crianças tendem a ficar mais sedentárias e obesas. Além disso, ao se compararem com os outros, começam a achar suas vidas ruins, levando à diminuição do contato social e da interação e ao baixo desenvolvimento da empatia.”, alerta.

As redes sociais podem acarretar outras problemáticas como o cyberbullying ou facilitamento do assédio. Conforme Tochetto, os pais precisam estar antenados ao mundo virtual e ao acesso que as crianças e adolescentes podem ter a esse universo. “Sobre o que não falamos e explicamos, eles estão pesquisando e descobrindo em tempo recorde.”, diz. A situação se complica quando a essa curiosidade e facilidade de obter informações junta-se o fato de qualquer pessoa em qualquer lugar poder interagir com qualquer um. “Sabemos que hoje, infelizmente, o número de pessoas doentes e má intencionadas que trafegam na internet é cada vez maior, estimulando atitudes, comportamentos e ações maldosas que ferem nossas emoções.”, destaca a psicóloga.

Uma forma de se contornar essa dificuldade é uma espécie de visita guiada. Segundo Tochetto, é preciso estar no mesmo ambiente das crianças no momento que elas utilizam as redes e procurar esclarecer as dúvidas que elas possam ter. “Sempre busco o diálogo aberto, indo direto ao ponto e conversando sobre as coisas como elas realmente acontecem. Explico, oriento, mostro os ganhos e os prejuízos.”, afirma a psicóloga.

Tochetto não é adepta a limites rígidos. De acordo com ela, deve sempre prevalecer o combinado entre pais e filhos. Entretanto, no caso de uma quebra de acordo, a psicóloga sugere que se tome uma outra atitude ao invés do famigerado castigo. “No lugar da palavra castigar talvez um outro termo: a perda. Se não cumpre as regras, para de ganhar e começa a perder alguns benefícios, como o tempo de acesso a algumas ferramentas. Os filhos precisam entender isso.”, diz.

O exemplo dos pais em relação ao uso que fazem de redes sociais também é essencial aos filhos, o que não significa que eles precisem parar de usufruir das tecnologias. “Existe a possibilidade de estar presente sem estar ausente no zelo com os filhos, tornando os recursos das redes sociais uma oportunidade e não uma doença.”, afirma Tochetto. Ela utiliza muito as ferramentas para trabalhar e sua filha é muito próxima e participativa em diversos momentos nesse ambiente. O importante é agir com naturalidade, sem pressionar, dialogando com os filhos.  “Compartilhe com consciência e deixe seus filhos serem autênticos.”, sugere.

Tochetto destaca que uso excessivo de internet, redes sociais e jogos de computador, por exemplo, não são necessariamente vícios. “Mas podem ser tornar quando as pessoas deixam de praticar cuidados básicos, negligenciando a alimentação, o sono e as relações pessoais”, explica. Outros sintomas, conforme a psicóloga, são: ansiedade e agitação quando por algum motivo não podem acessar as redes sociais; e a nomofobia: o medo irracional de ficar sem celular ou aparelhos eletrônicos em geral.

Em caso de vicio, Tochetto recomenda que se procure um psicólogo ou psiquiatra para avaliação. De acordo com ela, existem atualmente no Brasil e no mundo clínicas especializadas para tratar dependentes digitais. “A dependência com a tecnologia pode ser pior do que com as substâncias químicas, porque é mais silenciosa até que os comportamentos manifestem os prejuízos”, adverte.


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