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terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Venezuela: só monstruosidades


O mais admirável país da América do Sul. Assim foi a Venezuela. Democrática, sempre imperfeita a democracia, como todas, mas de liberdade e de riquezas econômicas, posto que fundadas no monopólio estatal do petróleo.

Bastou a chegada dos primeiros problemas para crescer a ambição chavista. Assim como na Rússia e em Cuba, duas tentativas. A segunda se fez real.

Hugo Chávez não era homem de cultura política sólida. Porém, dominava fragmentos. E o fazia com destreza. Tornam-se essas lascas frouxas um profundo compêndio de sabedoria, quando alinhadas em grandes manifestações de massa.

Juntou-se ao marxismo, muito embora pouco dele conhecesse. Tal como outros propensos à esquerda, limitados a alguns jargões universais. Vista em profundidade, a teoria marxista não se fez superior a qualquer outra elucubração filosófica ou econômica. Ainda caminha o homem, na conjugação de todas, atrás de uma síntese razoável. Algo que possa trazer a felicidade universal. Estamos num longo caminho, o que não significa sua intransponibilidade.

Os fossos sociais justificaram o marxismo e, em sua mais profunda intimidade nacional, o bolivarianismo. Nada conclama mais o povo do que o apelo à justiça. E dá solidez às doutrinas que aparentemente a justificam. Não raro, ficam vazios os apelos e as doutrinas; e tudo decai ao populismo, que tanto mal acarreta à política. O apelo popular bolivariano foi intenso, porém caiu como castelo de cartas com seu líder da mentira demagógica.

Líder megalomaníaco que não soube fazer seu sucessor, ascendeu ao poder um ex-motorista de ônibus, contra os quais nada tenho, mas que concentrou seu poder sobre um exército corrupto, sobre força nacional do mesmo vácuo de hombridade e milícias cooptadas como se fossem turbas mercenárias. É dizer, não remedou a economia, não arranjou a política, não construiu uma sociedade venezuelana. E usa seu vozerio como provavelmente o usasse nas assembleias dos condutores de coletivos em Caracas.

Mas, infelizmente, ainda há o outro lado.  Ocorre que os protagonistas não são a ONU e as nações preocupadas com a paz mundial, cujas usuais recomendações voltam-se ao caminho democrático e diplomático das soluções consensuais e pacíficas. Nada melhor que a decadência de um regime como o venezuelano, à pobreza, à fome, à falta d'água, ao pior dos piores mundos humanos e animais, para o aproveitamento oportunista de governos como o de Donald Trump e suas inclinações xenófobas e belicistas, bem como às direitas extremas de todo jaez.

Nessa conjuntura de contradições e desbussolamento vivemos os últimos dias. Um regime em fim de caminhada, de verniz esquerdista a justificar a união de seus antípodas, nas profundezas do poço, garantido pelas forças das armas mantidas com o dinheiro do petróleo, e os pretensos opositores que, em nada sendo humanos, falam em ajuda humanitária barrada nas fronteiras, como a pior barbárie, quando tal ajuda não passa de provocação política, depositada em alguns pequenos caminhões da Colômbia e do Brasil. Perdido nesse xadrez internacional, esse sim, bárbaro, está o povo venezuelano, a cada dia que passa mais depreciado no sangue e na carne que lhe resta.

E a verdadeira solução para tais impasses, provenientes da Organização das Nações Unidas, cada vez mais menos ouvida, diplomática e pacífica, a implicar em eleições livres e gerais.  Enquanto a população suporta e supera suas agruras, o apreço pela liberdade e justiça vai-se ao pôr do sol das tristes tardes da Venezuela.





Amadeu Garrido de Paula - Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.


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