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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Metais pesados são encontrados no Rio Paraopeba


Um mês após a tragédia da Vale, em Brumadinho, a Fundação SOS Mata Atlântica conclui análise da água do rio e constata que sua recuperação e segurança hídrica da região são de difícil previsão


A Fundação SOS Mata Atlântica apresenta nesta quarta-feira (27) o relatório completo da expedição Paraopeba, que percorreu 2.000 km por estradas, passando por 21 cidades, para analisar a qualidade da água em 305 km do rio afetado pelo rompimento da barragem da empresa Vale, em Brumadinho (MG). Clique aqui e acesse o relatório completo.

A expedição teve como objetivo levantar dados independentes sobre a condição da qualidade da água na região e avaliar o dano na paisagem e na cobertura florestal nativa da Mata Atlântica. Com isso, a organização pretende subsidiar autoridades e a sociedade na definição de medidas e ações socioambientais de remediação, recuperação e ressarcimento dos danos.

“Esperamos com este relatório contribuir para o aprimoramento de políticas públicas no sentido de evitar que eventos trágicos como esse se repitam, tendo como base o fortalecimento do arcabouço legal e institucional brasileiro, com participação da sociedade na tomada de decisões. A legislação ambiental brasileira deve ser valorizada e fortalecida por meio de órgãos técnicos e ambientais bem estruturados, instrumentos de gestão eficientes, participativos, modernos e livres de ingerência política“, afirma Malu Ribeiro, especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica.

A Expedição Paraopeba contou com o patrocínio das empresas Ypê e Visa.


Veja fotos e vídeos da Expedição

Resultados

De acordo com o relatório, por toda a extensão percorrida, os indicadores de qualidade da água aferidos não revelaram água em condições de uso e vida aquática. Dos 22 pontos analisados, 10 apresentaram resultado ruim e 12 péssimo. Além disso, foram encontrados metais pesados na água, como manganês, cobre e cromo em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação. Ainda segundo a ONG, 112 hectares de florestas nativas foram devastados. Destes, 55 hectares eram áreas bem preservadas.

Segundo a norma legal vigente (Resolução Conama 357), as concentrações máximas de cobre na água para rios como o Paraopeba (classe 2) é de 0,009 mg/L. Em alguns pontos o resultado chegou a mais de 4 mg/L. O consumo de quantidades relativamente pequenas de cobre livre pode provocar náuseas e vômitos. Já o manganês, cujo o limite é de 0,1 mg/L, chegou a até 3 mg/L em alguns locais. Existe o risco de seres humanos apresentarem sintomas como rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza a partir da ingestão de manganês, forma da contaminação deste metal. A concentração elevada de ferro e manganês na água podem ser os responsáveis pela coloração avermelhada do rio. Em diversos pontos, o ferro esteve acima de 6 mg/L.

“Os metais presentes na água nessas quantidades são nocivos ao ambiente, à saúde humana, à fauna, aos peixes e aos organismos vivos. Eles são reconhecidamente poluentes severos e podem causar diversos danos aos organismos, desde interferências no metabolismo e doenças, até efeitos mutagênicos e morte“, afirma Marta Marcondes, professora e coordenadora do Laboratório de Análise Ambiental do Projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH), Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).

Segundo o estudo, a condição de contaminação do rio exige monitoramento sistemático, permanente e por longo prazo para acompanhar a recuperação ambiental e a qualidade da água. As características dos rejeitos podem se modificar ao longo do tempo conforme as condições climáticas. Assim, a instabilidade nos indicadores de qualidade da água podem durar décadas.

“O rio Paraopeba perdeu a condição de importante manancial de abastecimento público e usos múltiplos da água. O dano ambiental tornou aquelas águas impróprias e indisponíveis para qualquer uso, pelo menos, por onde passamos“, destaca Malu.

Clique aqui e veja a tabela com os resultados de cada ponto analisado




Metodologia

O impacto dos rejeitos da Vale foi medido de duas formas: uma delas nas amostras de superfície, com medições realizadas a 30 centímetros da lâmina d’água, onde as concentrações de oxigênio dissolvido registraram maiores valores, por conta da movimentação natural do rio e das trocas com o ar. E a segunda medição ocorreu na coluna d’água, a partir de 2 metros de profundidade, em virtude dos rejeitos provenientes do rompimento da barragem da Vale decantarem rapidamente.


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