Um mês após a tragédia da Vale, em Brumadinho, a Fundação SOS
Mata Atlântica conclui análise da água do rio e constata que sua recuperação e
segurança hídrica da região são de difícil previsão
A Fundação SOS Mata Atlântica apresenta nesta quarta-feira (27)
o relatório completo da expedição Paraopeba, que percorreu 2.000 km por
estradas, passando por 21 cidades, para analisar a qualidade da água em 305 km
do rio afetado pelo rompimento da barragem da empresa Vale, em Brumadinho (MG). Clique
aqui e acesse o relatório completo.
A expedição teve como objetivo levantar dados independentes
sobre a condição da qualidade da água na região e avaliar o dano na paisagem e
na cobertura florestal nativa da Mata Atlântica. Com isso, a organização
pretende subsidiar autoridades e a sociedade na definição de medidas e ações
socioambientais de remediação, recuperação e ressarcimento dos danos.
“Esperamos com este relatório contribuir para o aprimoramento de
políticas públicas no sentido de evitar que eventos trágicos como esse se
repitam, tendo como base o fortalecimento do arcabouço legal e institucional
brasileiro, com participação da sociedade na tomada de decisões. A legislação
ambiental brasileira deve ser valorizada e fortalecida por meio de órgãos
técnicos e ambientais bem estruturados, instrumentos de gestão eficientes,
participativos, modernos e livres de ingerência política“, afirma Malu Ribeiro,
especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica.
A Expedição Paraopeba contou com o patrocínio das empresas Ypê e
Visa.
Resultados
De acordo com o relatório, por toda a extensão percorrida, os
indicadores de qualidade da água aferidos não revelaram água em condições de
uso e vida aquática. Dos 22 pontos analisados, 10 apresentaram resultado ruim e
12 péssimo. Além disso, foram encontrados metais pesados na água, como
manganês, cobre e cromo em níveis muito acima dos limites máximos fixados na
legislação. Ainda segundo a ONG, 112 hectares de florestas nativas foram
devastados. Destes, 55 hectares eram áreas bem preservadas.
Segundo a norma legal vigente (Resolução Conama 357), as
concentrações máximas de cobre na água para rios como o Paraopeba (classe 2) é
de 0,009 mg/L. Em alguns pontos o resultado chegou a mais de 4 mg/L. O consumo
de quantidades relativamente pequenas de cobre livre pode provocar náuseas e
vômitos. Já o manganês, cujo o limite é de 0,1 mg/L, chegou a até 3 mg/L em
alguns locais. Existe o risco de seres humanos apresentarem sintomas como
rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza a partir da ingestão de
manganês, forma da contaminação deste metal. A concentração elevada de ferro e
manganês na água podem ser os responsáveis pela coloração avermelhada do rio.
Em diversos pontos, o ferro esteve acima de 6 mg/L.
“Os metais presentes na água nessas quantidades são nocivos ao
ambiente, à saúde humana, à fauna, aos peixes e aos organismos vivos. Eles são
reconhecidamente poluentes severos e podem causar diversos danos aos
organismos, desde interferências no metabolismo e doenças, até efeitos
mutagênicos e morte“, afirma Marta Marcondes, professora e coordenadora do
Laboratório de Análise Ambiental do Projeto Índice de Poluentes Hídricos (IPH),
Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
Segundo o estudo, a condição de contaminação do rio exige
monitoramento sistemático, permanente e por longo prazo para acompanhar a
recuperação ambiental e a qualidade da água. As características dos rejeitos
podem se modificar ao longo do tempo conforme as condições climáticas. Assim, a
instabilidade nos indicadores de qualidade da água podem durar décadas.
“O rio Paraopeba perdeu a condição de importante manancial de
abastecimento público e usos múltiplos da água. O dano ambiental tornou aquelas
águas impróprias e indisponíveis para qualquer uso, pelo menos, por onde
passamos“, destaca Malu.
Clique
aqui e veja a tabela com os resultados de cada ponto analisado
Metodologia
O impacto dos rejeitos da Vale foi medido
de duas formas: uma delas nas amostras de superfície, com medições realizadas a
30 centímetros da lâmina d’água, onde as concentrações de oxigênio dissolvido
registraram maiores valores, por conta da movimentação natural do rio e das
trocas com o ar. E a segunda medição ocorreu na coluna d’água, a partir de 2
metros de profundidade, em virtude dos rejeitos provenientes do rompimento da
barragem da Vale decantarem rapidamente.
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